Valor econômico, v. 19, n. 4534, 28/06/2018. Brasil, p. A2
Europa marca reunião, mas espera concessões do Mercosul
Assis Moreira
28/06/2018
A União Europeia (UE) confirmou nova rodada de negociações com o Mercosul entre os dias 9 e 13 de julho, em Bruxelas, em mais uma tentativa de acelerar a conclusão do acordo de livre comércio birregional. Porta-voz da UE disse ao Valor que Bruxelas continua comprometida em completar um "acordo equilibrado e mutuamente benéfico com o Mercosul o mais rápido possível".
Ele lembra que os negociadores dos dois blocos se encontraram no começo de junho em Montevidéu e conseguiram progressos em várias questões, como serviços e medidas sanitárias. No entanto, destaca que ainda há trabalho a ser feito em áreas como carros e autopeças, indicação geográfica, transporte marítimo e lácteos - ou seja, áreas onde Bruxelas espera mais concessões do bloco do Cone Sul.
O ambiente visivelmente está mais tenso para a barganha final. Entre certos negociadores do Mercosul cresce a suspeita de que a UE procura desculpas para não fechar a negociação em julho. Até a Alemanha, favorável ao acordo, passou a falar em falta de tempo e de outros temas prioritários.
A conclusão de um acordo político claramente não poderá ser uma mera intenção. A se julgar pelo que ocorreu nas negociações da UE com o México e o Japão, esse tipo de anúncio foi feito quando as barganhas estavam praticamente concluídas e os temas mais difíceis acertados de maneira irreversível.
A iniciativa da reunião no mês que vem, na capital belga, partiu do Mercosul. Os europeus deram esta semana o sinal verde para a reunião, que antecederá a cúpula de países da América Latina e Caribe com a UE.
Em Colônia, na Alemanha, no Encontro Econômico Brasil-Alemanha, a postura dos representantes do governo alemão aumentou o ceticismo sobre um acordo em julho, como defende o Mercosul. Os alemães, que são favoráveis ao acordo, surpreenderam ao citar falta de tempo e outras preocupações - de fato, existe o risco de o governo de Angela Merkel nem existir na próxima semana, por causa de desafios internos envolvendo migração.
O Mercosul reiterou que está pronto para procurar soluções, pensar grande, anunciar o acordo e dar uma resposta ao unilateralismo de Donald Trump, que vem contaminando o comércio e a economia mundiais.
Há uma visível impaciência entre negociadores do Mercosul com repetidas reuniões, quando o momento histórico exige pensar grande. De toda maneira, o acordo que sair vai ser modesto, pela ambição de cada lado. Mas também será uma resposta importante no ambiente criado por Trump na cena internacional.