O globo, n. 31293, 11/04/2019. Mundo, p. 24

 

Bolsonaro reafirma amizade do Brasil a islâmicos

Eliane Oliveira

11/04/2019

 

 

Presidente, chanceler e ministra da Agricultura jantam com 37 embaixadores de países muçulmanos para tentar desfazer mal-estar causado por aproximação com Israel e intenção de transferir embaixada brasileira naquele país para Jerusalém

Em um jantar que reuniu 37 embaixadores de nações islâmicas, o presidente Jair Bolsonaro, em um discurso de improviso, disse que o Brasil é amigo de todos os países, sem exceção. Ao lado dos ministros das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, e da Agricultura, Tereza Cristina, Bolsonaro lembrou que visitará, ainda este ano, alguns países da comunidade árabe.

— Que os laços comerciais cada vez mais se transformem em laços de amizade e fraternidade. O Brasil tem gente do mundo todo, e aqui todos vivem muito bem. Nosso país prima pela democracia e pela liberdade. E com esse sentimento que a gente quer para todos, mais uma vez agradeço por essa oportunidade. Nosso governo está de braços abertos a todos, sem exceção — disse o presidente no discurso.

A ida do presidente da República ao jantar, realizado na sede da Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), em Brasília, teve o objetivo de demonstrar a preocupação do governo brasileiro em manter as boas relações com as nações islâmicas. Esses países ficaram incomodados com os resultados da viagem de Bolsonaro a Israel, há cerca de dez dias.

Um deles será a instalação de um escritório de negócios em Jerusalém, anunciada por Bolsonaro. O presidente também desagradou às nações árabes e islâmicas ao prometer transferir a Embaixada do Brasil em Israel de Tel Aviv para Jerusalém, cuja parte oriental é reivindicada pelos palestinos como capital de um futuro Estado. A ocupação dessa área por Israel na Guerra dos Seis Dias, em 1967, não é reconhecida pela ONU, que prega uma solução negociada pela decidir o destino da cidade.

A política de alinhamento entre Brasil e Israel não foi comentada no jantar. Após o evento, apesar das insistentes perguntas feitas pelos jornalistas, nenhum dos participantes, incluindo os ministros que estavam presentes, respondeu, por exemplo, se o governo brasileiro continua disposto a transferir a embaixada brasileira para Jerusalém. O embaixador da Palestina, Ibrahim Alzeben, resumiu o sentimento em relação ao tema:

— Esse não é um conflito do Brasil. Fiquem longe desse conflito, que vocês só têm a ganhar.

"Quebrar o gelo"

Segundo Alzeben, o jantar serviu para “quebrar o gelo com notícias que não fizeram bem para as relações bilaterais”. Ele assegurou que o relacionamento entre os países islâmicos e o Brasil vai além de produtos como frango, açúcar e carne bovino.

— Nesse governo nunca houve gelo. É um país quente —brincou Araújo.

Já o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara e filho do presidente da República, afirmou que o jantar serviu para mostrar não apenas boa vontade. Teve o objetivo de pôr um ponto final no impasse que existia.

Segundo uma fonte que participou do jantar, foram convidados 40 embaixadores, e 37 compareceram ao evento. Tanto Jair Bolsonaro quanto a ministra Tereza Cristina fizeram breves discursos ressaltando a amizade entre o Brasil e os países islâmicos.

— O Brasil e o mundo islâmico estão unidos por laços de amizade tão sólidos quanto longevos —disse a ministra da Agricultura, que também destacou os laços comerciais entre o Brasil e estes países.