Título: Marta entra na campanha
Autor: Lyra , Paulo de Tarso
Fonte: Correio Braziliense, 28/08/2012, Política, p. 6

A senadora Marta Suplicy (PT-SP) vai participar da campanha de Fernando Haddad à prefeitura de São Paulo. Ela conversou com a presidente Dilma Rousseff na tarde de quarta-feira e terá um novo encontro com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na próxima semana, na sede do instituto do petista, em São Paulo. Marta, contudo, ressalvou que, no momento, o máximo que aceita é gravar uma mensagem de apoio em vídeo. A senadora não está disposta a participar de atos públicos de campanha, como caminhadas, passeatas ou comícios.

A entrada de Marta na campanha acontece em um momento em que a candidatura de Haddad ensaia uma arrancada. Como já era esperado pelo núcleo petista que assessora o ex-ministro da Educação, Haddad iniciou o horário eleitoral de televisão com um índice de intenção de voto entre 8% e 9%, dependendo do instituto que realiza a pesquisa. A meta é chegar, até o término do horário eleitoral, no fim de setembro, com 30% a 35% das intenções de voto.

Para convencer a senadora, alguns caciques da legenda afirmaram que o momento para ela entrar na campanha seria agora. Se ela demorasse demais, poderia ser parcialmente responsabilizada, em caso de derrota do petista, ou — pior, na opinião de alguns — agregar-se em um momento em que o seu capital político não seria mais tão decisivo para definir a vitória para a prefeitura paulistana, o que diminuiria ainda mais o prestígio da senadora perante o partido.

Os petistas já não escondem o incômodo com a demora de Marta em participar da campanha do ex-ministro da Educação. "Tantas vezes o PT a levou nas costas e agora ela fica de charminho, dizendo que não quer ajudar o Haddad? O PT não é feito por celebridades. A única celebridade que temos é o Lula", atacou o deputado Devanir Ribeiro (PT-SP).

O parlamentar, um dos mais próximos de Lula na legenda, reclama que a senadora fica, a todo momento, afirmando que age por pedidos de Dilma ou do ex-presidente. Foi assim quando abandonou a candidatura e estaria sendo dessa forma agora, quando decidiu participar da campanha. "O Lula pode ter apresentado a candidatura do Haddad. Foi aprovada pelo PT e agora ele é nosso candidato. Ela precisa entender que o PT é um partido político", completou.

Atuação incisiva Marta tem dito a pessoas próximas que, em nenhum momento, afirmou de maneira categórica que não participaria da campanha de Haddad. Só não havia, até agora, a necessidade de uma atuação mais incisiva, e que sempre tiveram procedência as críticas feitas ao longo do processo — em uma das mais contundentes, ela afirmou que não "bastava ser o novo sem gastar sola de sapato", referindo-se a Haddad.

Aos pares no Senado, as queixas que Marta têm feito insistem no discurso de que ela foi "alijada da disputa" em um de seus melhores momentos políticos. Defende-se daqueles que afirmam que ela têm um índice de rejeição elevado e que, por essa razão, o PT precisava apostar em um nome novo para vencer a eleição paulistana. "A rejeição não é a mim, é ao PT. Tanto que fui eleita senadora e, aqui na Casa, fui escolhida como vice-presidente. Por que eu não poderia ser candidata à prefeitura?", questionou ela, para alguns aliados na Casa.

A mágoa de Marta é com Lula. Dilma tenta amenizar o desconforto, mas a própria presidente só deve participar da campanha de Haddad mais adiante. Baseia-se na análise feita pelo publicitário João Santana de que, neste momento, a presença do ex-presidente basta, já que a "campanha está apenas esquentando". A presidente empenhou-se pessoalmente na chapa que uniu PT e PMDB na prefeitura de Belo Horizonte, lançando o nome de Patrus Ananias. Em São Paulo e em Recife — outras cidades consideradas estratégicas para o PT e o Planalto —, Dilma está em posição confortável: se Haddad e Humberto Costa (PT-PE) forem eleitos, bom para todo mundo. Se não forem, o estrago político recairá na conta do ex-presidente, responsável direto pela montagem das chapas e das coligações petistas nessas duas capitais.

"Tantas vezes o PT a levou nas costas e agora ela fica de charminho, dizendo que não quer ajudar o Haddad? O PT não é feito por celebridades. A única celebridade que temos é o Lula" Devanir Ribeiro, deputado do PT-SP

8% Índice de intenção de votos em Haddad segundo pesquisa divulgada no início desta semana