Valor econômico, v.19 , n.4514, 30/05/2018. Finanças, p. C2

 

Real caminha para fechar pior maio em 5 anos 

José de Castro 

30/05/2018

 

 

O dólar chega à última sessão de maio com chances concretas de registrar a maior alta mensal desde setembro de 2015, quando o Brasil estava mergulhado numa crise de confiança que catapultou a moeda americana ao recorde de quase R$ 4,25.

Desde o fim de abril até ontem, 29, o dólar sobe 6,70%. Em setembro de 2015, a cotação disparou 9,34%. Considerando apenas os meses de maio, a valorização neste mês já é a mais forte desde 2013. Em maio daquele ano, os mercados em todo o mundo sofreram forte revés diante da sinalização do Federal Reserve (Fed, o BC americano) de redução de estímulos monetários. O dólar refletiu esse tom mais nervoso e subiu 7,10%.

O mês termina com o sentimento dos investidores deprimido pelos desdobramentos da paralisação dos caminhoneiros, que ontem completou nove dias. Um dos pontos de maior receio do mercado são os custos fiscais das concessões feitas pelo governo, num cenário de contas públicas já bastante pressionadas. Nesse sentido, não é de se estranhar que o dólar tenha abortado na terça-feira uma tentativa de queda, logo após o ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, afirmar que não haverá aumento de impostos para compensar a elevação de despesas com as medidas para os caminhoneiros.

"No fim vai ser isso: mais gasto sem receita que cubra o rombo. E essa é a realidade em ano de eleição", diz Marcos Trabbold, gerente de câmbio da B&T Corretora. Segundo ele, ao fim de tudo o saldo dos últimos eventos será um governo muito mais fraco e sem capacidade de articular qualquer medida de ajuste fiscal até as eleições.

No fechamento, o dólar negociado no mercado interbancário subiu 0,25%, a R$ 3,7373. Na mínima, chegou a cair 0,42%. Porém, mesmo completando a quarta sessão consecutiva de alta, a moeda ainda teve desempenho mais fraco aqui do que no exterior.

Analistas atribuíram a performance um pouco melhor do real à sinalização do Banco Central, dada na noite de segunda-feira, de que manterá as ofertas adicionais de liquidez tanto no fim de maio quanto a partir do início de junho. Com isso, o BC sana dúvidas de que poderia interromper as vendas extras de dólar com a virada do mês. E, ontem, a autoridade monetária confirmou para hoje nova oferta de 15 mil contratos de swap cambial (US$ 750 milhões).

Ainda nesta quarta, o BC liquidará a venda dos US$ 750 milhões em swaps novos ocorrida na manhã de terça. Com isso, a injeção de recursos novos no mercado de câmbio com liquidação em maio totalizará US$ 6,5 bilhões. É a maior colocação líquida desde maio do ano passado, quando US$ 10 bilhões foram colocados no mercado.

A retomada das vendas líquidas de swap é outra marca de maio. O BC precisou retomar essas operações para conter a alta desenfreada do dólar, que chegou a flertar com R$ 3,80 semanas atrás.

Para o Goldman Sachs, a "contínua" incerteza política provavelmente manterá "elevado" o prêmio de risco no câmbio. Mas a expectativa é que, em caso de maior clareza política, os preços do real e o quadro macro brasileiro abram espaço para um desempenho potencialmente melhor para o real. Nos cálculos dos estrategistas do banco, o valor "justo" para a taxa de câmbio - considerando equilíbrio de fluxos para conta corrente - é de R$ 2,85 por dólar. Ou seja, o real está com excesso de fraqueza na casa de 24%.

Mas alguns analistas ainda veem com ressalvas chances de recuperação do câmbio no curto prazo. Para Rafael Biral, diretor da mesa de clientes do Standard Chartered Bank no Brasil, ainda não é hora de fazer investimentos de curto prazo nos mercados domésticos, mesmo com os preços mais baixos após o recente "sell-off".

"No curto prazo, ainda é preciso resolver alguns problemas mais imediatos", diz, referindo-se desde a crise dos combustíveis até a ausência de cenário mais claro para as eleições. "Não vejo, por exemplo, nenhuma razão para o real estar se apreciando neste momento. E por isso não acredito que a alta do dólar até aqui seja fora de contexto ou excessiva."