O globo, n. 31291, 09/04/2019. País, p. 4

 

Giro pelo Brasil

Jussara Soares

Gustavo Maia

09/04/2019

 

 

Bolsonaro tenta reverter queda de aprovação com anúncios e agenda de viagens pelo país

Em meio a pesquisas que atestam a queda da popularidade de Jair Bolsonaro , o Palácio do Planalto prepara uma série de agendas do presidente pelos estados para encontrar políticos, antigos aliados da campanha e divulgar ações do governo federal. Nos próximos dias, Bolsonaro deve passar por quatro regiões do país, com compromissos no Rio de Janeiro, no Amapá, no Amazonas, na Paraíba e em Goiás.

Primeiro, o presidente deve concentrar agendas e dedicar o tempo a encontros com prefeitos e líderes partidários em Brasília hoje, para depois se liberar para incursões externas, como a passagem pela Paraíba, onde deve apresentar a nova versão do Programa Bolsa Família, com o 13º salário prometido durante a campanha.

A visita ao Nordeste é estratégica por ser a região que mais depende do programa e a que mais rejeita o governo. No domingo, o Datafolha mostrou que 39% dos entrevistados na região consideram o governo de Bolsonaro ruim e péssimo, enquanto apenas 24% consideram sua administração ótima ou boa.

Em Campina Grande (PB), além do Bolsa Família, o presidente poderá inaugurar o Centro de Testes para Dessalinização de água, uma de suas bandeiras de campanha, e entregar casas populares. A intenção foi anunciada por Bolsonaro na última quinta-feira, em transmissão ao vivo pela internet. A parada seguinte deve ser Manaus (AM), mas o governo ainda procura um projeto para apresentar à população.

O presidente também já foi convidado para viajar a Goiás pelo governador e aliado Ronaldo Caiado (DEM).

— O presidente está buscando uma agenda de aproximação com diversas regiões do país, fazendo sempre alguma entrega quando venha realizar essa viagens — disse o porta-voz da Presidência, Otávio do Rêgo Barros.

O giro pelo país deve incluir o Rio de Janeiro, onde Bolsonaro se reunirá, na próxima quinta-feira, com líderes evangélicos que recentemente criticaram a desorganização do governo no Congresso. A falta de rumo em pastas estratégicas como o Ministério da Educação, que concentra pautas conservadoras dos religiosos, e até o resultado da viagem de Bolsonaro a Israel, quando não anunciou a mudança de embaixada para Jerusalém, distanciaram o presidente dos pastores.

Ao se reaproximar dos líderes evangélicos, Bolsonaro busca reativar seus contatos com uma de suas principais bases políticas. Como o Datafolha mostrou, esse segmento representa a parcela mais otimista com o governo: 42% dos entrevistados disseram considerar o governo ótimo e bom.

Almoço com evangélicos

No Rio, Bolsonaro participará de um almoço promovido pelo líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, Silas Malafaia. No encontro, também são esperados o Presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e o presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli.

Ao todos são esperados cerca de cem representantes de diversas denominações religiosas, entre o pastor Valdemiro Santiago, da Igreja Mundial do Poder de Deus, e o missionário R.R. Soares, da Igreja Internacional da Graça de Deus. O bispo Edir Macedo, da Igreja Universal do Reino de Deus, deverá mandar um representante.

— Ele será recebido por um grupo de pastores no Rio com o intuito de dialogar com essa parcela, com a qual ele tem uma relação muito afetiva e contribui muito na sua progressão rumo à Presidência da República —disse Rêgo Barros.

Ele também irá ao Amapá inaugurar o novo aeroporto de Macapá ao lado do Presidente do Senado, em uma demonstração de proximidade com o Legislativo.

Em três meses de governo, Bolsonaro acabou se distanciando dos estados, primeiro por questões médicas, depois pela dedicação à agenda internacional. No último levantamento do Datafolha, Bolsonaro apareceu como o presidente mais impopular em início de mandato, avaliado positivamente por apenas 32%dos entrevistados.

Rêgo Barros, no entanto, negou haver relação entre o giro pelo país e a queda de popularidade do presidente:

— Comandante tem que estar sempre junto dos seus soldados na linha de frente. É mais Brasil e menos Brasília. (Ele) vai ao encontro das populações, levando o seu esforço por meio de entregas.

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Presidente admite candidatura à reeleição em 2022

Gustavo Schmitt

09/04/2019

 

 

Em entrevista à rádio Jovem Pan, Bolsonaro contradiz promessa de campanha e afirma que possibilidade depende da saúde

O presidente Jair Bolsonaro admitiu ontem a possibilidade de se candidatar à reeleição, em 2022. Bolsonaro, no entanto, condicionou uma eventual candidatura à aprovação de uma reforma política, sem dar detalhes. E ponderou também que apenas será candidato se seu estado de saúde mantiver o quadro de evolução.

O presidente passou por uma cirurgia de reconstrução do trânsito intestinal após ser esfaqueado , em setembro, durante um ato de campanha.

— A pressão está muito grande para que, se eu estiver bem, que me candidate à reeleição — disse o presidente, em entrevista à rádio Jovem Pan, no Palácio do Planalto.

No ano passado, durante a campanha, Bolsonaro havia dito que iria propor o fim da reeleição caso eleito. Em 20 de outubro, ainda como candidato ao Planalto pelo PSL, chegou a dizer que tentaria emplacar uma reforma política. Nela, seria extinta a possibilidade de reeleição, além de reduzida em até 20% a quantidade de parlamentares no Congresso.

Ontem na entrevista para a Jovem Pan, o presidente prometeu que, se optar por ser candidato, fará diferente de outros políticos brasileiros. Segundo Bolsonaro, a reeleição é uma espécie de “desgraça” que só se torna possível por meio de “acordos espúrios que levam a escândalos de corrupção”. Ao fazer essa menção, o presidente disse estar se referindo ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva:

— Não quero jogar dominó com ninguém em Curitiba — provocou Bolsonaro, numa referência a sede da Polícia Federal, onde Lula cumpre pena de 12 anos e um mês de prisão após a condenação no caso do tríplex do Guarujá.

Bolsonaro reconheceu que a proposta de seu governo de reforma da Previdência é impopular, e afirmou que não teme que o projeto cause qualquer empecilho a uma eventual candidatura:

—Se eu pensasse em reeleição faria uma reforma light, ou não faria. Mas (sua eventual candidatura) pode não sobreviver em 2022.