Título: Grupo era monitorado há seis meses
Autor: Almeida, Kelly
Fonte: Correio Braziliense, 25/08/2012, Política, p. 2

A investigação da Delegacia de Combate ao Crime Organizado (Deco) durou seis meses. Durante esse tempo, os policiais monitoraram as sete casas de bingo que funcionavam no DF e ouviram várias testemunhas. Ontem, às 6h, 120 policiais civis foram às ruas para cumprir cinco mandados de prisão e 13 de busca e apreensão. Os três homens presos são apontados como integrantes da cúpula do grupo do bicheiro Carlinhos Cachoeira.

As apurações da Deco começaram a partir de apreensões de caça-níqueis realizadas no DF após a Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, que prendeu Cachoeira em 29 de fevereiro e enfraqueceu a jogatina ilegal no Entorno. Em Sobradinho II, existiam 13 máquinas. Em Ceilândia 11; na Asa Norte, seis; e na Asa Sul, sete. As ocorrências foram registradas nas delegacias de cada região. Outras 43 máquinas foram apreendidas pela Deco no Gama, no Lago Norte e em Valparaíso (GO).

Segundo os investigadores, a jogatina descoberta pela Deco em Goiás era realizada em um condomínio na região do Jardim Botânico, mas teria sido transferida para Valparaíso após suspeitas da quadrilha de que a polícia havia descoberto o local. No monitoramento da casa do Gama, olheiros do grupo seguiram o carro dos investigadores, que anteciparam a invasão ao local. Na sala de jogos do Lago Norte, os policiais localizaram vales de clientes no valor de R$ 37 mil. O documento seria uma forma de pagamento adiantado realizado por apostadores.

Testemunhas ouvidas pela Deco revelaram que os bingos eletrônicos explorados aqui no DF eram gerenciados pelos irmãos Raimundo Washington de Sousa Queiroga, Otoni Olímpio Júnior e José Olímpio de Queiroga Neto, apontado como o gerente dos jogos ilegais em Goiás. Apesar de ser citado nas investigações, José Olímpio não teve a prisão autorizada pela Justiça. "Mas sabemos que ele é um dos responsáveis pelos bingos e consta no inquérito. Vamos chamá-lo para depor e não descartamos a possibilidade de indiciá-lo", afirma o delegado Henry Peres, chefe da Deco. A polícia pretende reunir provas para pedir a prisão preventiva dos suspeitos.

Irmãos Os delegados da Deco garantem que o grupo desarticulado ontem era bem estruturado, organizado e migrou para o DF após a PF fechar os bingos em Goiás. Os clientes permaneceram os mesmos — normalmente, idosos. "Mas aqui no DF, diferentemente do que ocorria no Entorno, o grupo tinha motoristas, que buscavam e levavam os clientes em pontos estratégicos. Só veículos autorizados chegavam às casas", detalhou o delegado Fernando Cocito.

Além dos irmãos Queirogas, a Polícia Civil pediu a prisão temporária de Edvaldo Ferreira Lemos e Bruno Gleidson Soares Barbosa, apontados como responsáveis pela manutenção e pela instalação das máquinas caça-níqueis. Bruno foi preso no Gama. Edvaldo não estava em casa, em Santa Maria, quando os policiais chegaram. Ele e Antônio Naziozeno são considerados foragidos. O grupo deve responder por formação de quadrilha, crime contra a economia popular, contravenção penal de jogo de azar e, possivelmente, lavagem de dinheiro.

"Eles pararam de mexer com isso" O advogado de Raimundo Washington de Sousa Queiroga e Otoni Olímpio Júnior nega que os clientes estejam envolvidos em jogos ilegais no Distrito Federal. Leonardo Gagno garantiu que os acusados não realizam qualquer tipo de contravenção de jogo de azar desde a Operação Monte Carlo, deflagrada pela Polícia Federal em 29 de fevereiro. "Desde quando foram presos pela PF, eles pararam de mexer com isso. E eles não retornaram para o jogo", afirma Gagno. O defensor informou que não deve entrar com o pedido de habeas corpus. "Vamos esperar até segunda-feira para saber a decisão que os delegados responsáveis pelo caso vão tomar. Queremos saber se eles vão pedir a prorrogação da prisão, se vão tentar a preventiva ou se vão optar por liberá-los", disse.