Título: A jogatina de Cachoeira no DF
Autor: Almeida, Kelly
Fonte: Correio Braziliense, 25/08/2012, Política, p. 2

Preso há 178 dias, desde a deflagração da Operação Monte Carlo pela Polícia Federal, o contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, dá sinais de que continua no comando da organização criminosa. Uma investigação da Delegacia de Combate ao Crime Organizado (Deco), da Polícia Civil do Distrito Federal, indica que a quadrilha do bicheiro explorava, pelo menos, sete bingos eletrônicos na capital federal há seis meses. Um deles, localizado na 910 Sul, fica a 7,5km do Congresso, onde uma CPI investiga as relações de Cachoeira com políticos e empresários. A principal suspeita é de que grupo migrou do Entorno e se instalou no DF após a prisão do bicheiro.

Ontem, durante a Operação Jackpot, os agentes e os delegados da Deco prenderam três homens responsáveis por organizar e gerenciar a jogatina. Outros dois suspeitos permanecem foragidos até o fechamento desta edição. A investigação tocada pela Polícia Civil do DF corrobora o depoimento dado pela procuradora da República Léa Batista de Oliveira, na última terça-feira, de que a quadrilha comandada por Cachoeira tem características de grupos mafiosos e continua em ação, mesmo após a prisão do contraventor. "Essa organização não foi totalmente desarticulada. Isso só vai ocorrer quando sufocarmos o braço empresarial e financeiro da quadrilha, que continua fazendo ameaças e chantagens. Trata-se de uma máfia, com características clássicas, como código de silêncio orquestrado", afirmou a procuradora.

Cachoeira está preso desde 29 de fevereiro. Detido inicialmente no presídio federal de Mossoró (RN), o bicheiro acabou transferido para o Complexo Penitenciário da Papuda, na terceira semana de abril. Além dele, outras 20 pessoas foram presas durante a Operação Monte Carlo. O bicheiro é suspeito de envolvimento com a Construtora Delta, que possui contratos milionários em obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) em várias unidades da Federação.

As sete casas de jogatina descobertas pela Polícia Civil estavam instaladas em Sobradinho II, Ceilândia, Gama, Jardim Botânico e até mesmo em áreas nobres de Brasília, como o Setor de Mansões do Lago Norte e o Plano Piloto (veja arte ao lado). Cada uma rendia cerca de R$ 10 mil por dia, segundo a polícia. Ou seja, estimativa dos agentes da Deco apontam que o grupo faturava, por baixo, R$ 1 milhão por mês.

Segundo a Polícia Civil, mesmo na cadeia, há indícios de que Cachoeira continuava articulando com os subordinados. Os delegados à frente da investigação, Henry Peres e Fernando Cocito, afirmam que Raimundo Washington de Sousa Queiroga, Otoni Olímpio Júnior e Antônio José Sampaio Naziozeno — presos na Operação Monte Carlo — são os homens de confiança do bicheiro e voltaram a atuar nos jogos ilegais após serem soltos por decisão do Desembargador do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, Tourinho Neto.

Ousadia Raimundo e Otoni estão presos desde a manhã de ontem. Bruno Gleidson, responsável por fazer manutenção e instalação das máquinas, também acabou detido. Antônio Naziozeno e Edvaldo Ferreira Lemos — que realizava a mesma atividade que Bruno — continuam foragidos. A Polícia Civil informou que irá acionar a Interpol para localizá-los. Os mandados de prisão temporária, válidos por cinco dias, foram autorizados pelo juiz Robert Kirchhoff Berguerand de Melo, da 7ª Vara Criminal de Brasília. "O nível de ousadia desse grupo não tem limite. Mesmo com a instalação de uma CPI e com um processo na Justiça Federal, eles vieram tentar se instalar na capital da República. É um dos fatos mais graves, pela ousadia, que verificamos ao longo de muitos anos", ressaltou o diretor-geral da corporação, Jorge Xavier. A polícia deve encaminhar a apuração à CPI do Cachoeira e à Justiça Federal.

Oitenta máquinas caça-níqueis foram apreendidas ao longo das apurações. "Esses homens são subordinados a Cachoeira. E se eles realizavam essa atividade, o chefe deles com certeza sabia. Vamos chamá-lo (Cachoeira) para depor", afirma Henry Peres, delegado-chefe da Deco.

R$ 10 mil Valor diário arrecadado, em média, em cada um dos sete bingos eletrônicos identificados