Correio braziliense, n. 20363, 20/02/2019. Política, p. 5

 

As mensagens da discórdia

20/02/2019

 

 

Executivo » Áudios divulgados por revista mostram que o ex-ministro e Bolsonaro trocaram notificações sobre vários assuntos durante a internação do presidente

A demissão do ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gustavo Bebianno, pelo presidente Jair Bolsonaro foi precedida por uma discussão longa por meio do aplicativo WhatsApp, com troca de acusações entre eles, relacionadas à TV Globo, a uma viagem à Amazônia, revelada pelo jornal O Estado de S. Paulo, e ao caso das candidatas laranjas do PSL, partido de ambos. Os áudios, datados de 12 de fevereiro, terça-feira passada, foram publicados ontem pelo site da revista Veja e mostram trocas de mensagens de WhatsApp entre Bebianno e o presidente. Bolsonaro disse em entrevista à Record TV que era mentira que eles houvessem mantido um diálogo antes da alta hospitalar.

Na “conversa”, Bolsonaro trata a TV Globo como “inimiga” e manda o agora ex-ministro cancelar uma audiência com o vice-presidente de Relações Institucionais da empresa, Paulo Tonet Camargo, no Palácio do Planalto. Segundo a revista, o presidente encaminhou a Bebianno a mensagem no dia 12, com a agenda do ministro. O presidente também relata restrições a uma viagem à Região Norte, preocupado em ser cobrado posteriormente por resultados.

Em outra mensagem, o presidente levanta a questão da suspeita de desvio de dinheiro público no PSL, por meio de candidatas que teriam simulado participação na campanha. “Querem empurrar essa batata quente desse dinheiro lá pra candidata em Pernambuco pro meu colo, aí não vai dar certo. Aí é desonestidade e falta de caráter”, afirma Bolsonaro. Como resposta, Bebianno sustenta que a responsabilidade por supostas irregularidades nas candidaturas em Pernambuco seria do deputado Luciano Bivar (PSL-PE), que comanda o diretório local.

Segundo a revista, os áudios comprovam que Bebianno manteve contato com o presidente por “três vezes”, durante a internação no dia 12, conforme o ministro relatara ao jornal O Globo. O ministro negava haver uma crise no governo por suspeitas envolvendo candidatas laranjas do PSL. A informação foi o estopim para que Carlos Bolsonaro, filho do presidente, viesse a público pelo Twitter acusar o ministro, de quem desconfiava, de mentir. O presidente endossou a reação do filho e negou que ele estivesse incitando a demissão de Bebianno.

“Carlos incitando a saída é mais uma mentira. (...) Agora: você não falou comigo nenhuma vez no dia de ontem. Ele esteve comigo 24 horas por dia. Então, não está mentindo, nada, nem está perseguindo ninguém”, afirmou Bolsonaro. O ex-ministro reage: “Capitão, há várias formas de se falar. Nós trocamos mensagens, ontem, três vezes ao longo do dia, capitão. (…) Tira isso do lado pessoal. Ele não pode atacar um ministro dessa forma. Nem a mim nem a ninguém, capitão. Isso está errado. Por que esse ódio? Qual a relevância disso? Vir a público me chamar de mentiroso? Eu só fiz o bem, capitão. Eu só fiz o bem até aqui. Eu só estive do seu lado, o senhor sabe disso. Será que o senhor vai permitir que eu seja agredido dessa forma? Isso não está certo, não, capitão. Desculpe.”

O porta-voz da Presidência, Otávio do Rêgo Barros, questionado pelos repórteres, afirmou que Bolsonaro “considera que as informações foram devidamente esclarecidas no dia de ontem (segunda-feira), por meio da divulgação de nota e vídeo distribuídos aos órgãos de imprensa.”