Título: Juros devem cair para 7,5%
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Fonte: Correio Braziliense, 25/08/2012, Economia, p. 17

Redução da Selic, iniciada há um ano, deverá completar cinco pontos percentuais na reunião do Copom da próxima semana. Analistas afirmam que os cortes livraram o país de efeitos mais severos da crise global, mas falta retomar os investimentos

O Banco Central (BC) se prepara para colher os louros da política de flexibilização monetária. Há exatamente um ano o BC deu início à queda da taxa de juros, que hoje estão em 8% ao ano, tendo saído do patamar de 12,5% doze meses atrás. Muitos economistas, entre eles André Perfeito, da Gradual Investimento, acham que o BC brasileiro errou no início de 2011, quando todo mundo já estava abaixando os juros e o Comitê de Política Monetária (Copom) fazia o inverso.

Mas o cenário agora é outro e todos reconhecem que o atual patamar da Selic serve de estímulo à atividade econômica. "O BC só não colheu os frutos dessa política ainda por causa da defasagem da resposta da economia real à política monetária", explicou Newton Rosa, economista-chefe da Sul América Investimentos. Segundo ele, a taxa de juros alta de 2011 ainda fez efeito durante todo o primeiro semestre de 2012.

"Só agora é que a queda (dos juros) começa a ser sentida e a atividade vai deslanchar até o fim do ano" avaliou. Para o ex-presidente do BC, Gustavo Loyola, a tão decantada perda de ritmo da economia tem que ser vista com cuidado. " A deterioração foi grande no setor industrial, mas o mesmo não pode ser dito do comércio, dos serviços e muito menos do mercado de trabalho e da renda", pontuou.

O problema maior das atuais agruras da indústria é que, pessimista, o empresário não investe. Daí porque as atividades relacionadas aos investimentos enfrentam impasses e isso contamina a expectativa dos demais setores."O setor industrial está reagindo tardiamente", constatou Loyola. Como a reação da economia é lenta e as más notícias não param de chegar do cenário internacional, a análise do consumidor também fica contaminada.

O Índice de Confiança do Consumidor (ICC), calculado pela Fundação Getúlio Vargas, voltou a apresentar queda de 1% em agosto. Em julho, ele já havia caído 1,5% contra o resultado do mês imediatamente anterior. E a causa da queda, segundo a FGV,é a situação econômica do país que parece não sair do lugar. No futuro de médio prazo, no entanto, medido pelo índice de expectativas, o consumidor está até um pouco mais otimista e o indicador subiu 0,3%.

No caso de o BC acertar e a atividade voltar a ter ritmo – ninguém duvida que na reunião do Copom da próxima semana a taxa cairá para 7,5% ao ano —, a inflação pode voltar a ser o tema dominante. "A expectativa de inflação mais alta na virada do ano pode ser contrabalançada exatamente pela desaceleração da economia mundial, sem que o BC se veja forçado a subir os juros", disse Newton Rosa. O economista está convencido de que o BC vai segurar o máximo possível a taxa de juros num patamar baixo (para ele os 7,5%) e, na pior das hipóteses, subir um ponto só, no final de 2013.

Para Perfeito, da Gradual, o mercado financeiro insiste na tese de que a inflação é um problema mais sério do que de fato é, e coloca pressão sobre o Banco Central. "É um erro", avaliou. Mesmo levando em conta a pressão de preços no curto prazo, como alimentos e combustível, ele está convencido de que o problema número um é o nível de atividade econômica. "A inflação recente está concentrada num choque de oferta agropecuária", afirmou.

Segundo o economista, é na política fiscal que a economia corre riscos. Ele afirma que, se a presidente Dilma Roussef não conseguir segurar as contas públicas e dar mais do que pode para o funcionalismo, por exemplo, o próprio governo estará jogando por terra os esforços do presidente do BC, Alexandre Tombini, para reverter a desaceleração econômica.