Título: Polarização domina o 2º turno na UnB
Autor: Amorim, Diego ; Oliveira, Sheila
Fonte: Correio Braziliense, 25/08/2012, Cidades, p. 27

Com posições políticas contrárias, os professores Ivan Camargo e Márcia Abrahão continuam na disputa pelo cargo máximo da instituição. Os dois candidatos concentram metade da preferência dos quase 10 mil participantes do pleito

Completamente rachada, a eleição para reitor da Universidade de Brasília (UnB) será definida em segundo turno, previsto para 11 e 12 de setembro. Após quase 12 horas de apuração, o resultado do pleito com 10 chapas apontou o professor da Faculdade de Tecnologia Ivan Camargo em primeiro lugar, com 25,21% dos votos ponderados. Márcia Abrahão, do Instituto de Biologia, também segue na disputa, com a preferência de 21,58% dos que compareceram às urnas nos dois dias anteriores. A comissão organizadora contabilizou 9.152 votos: 1.819 professores, 5.783 servidores e 1.550 estudantes.

Também compõe a lista tríplice, a ser encaminhada ao Ministério da Educação com os nomes dos três mais votados, Volnei Garrafa, com 16,53% do total. Em quarto lugar, despontou Denise Bomtempo, com 15,26%, que chegou a ocupar a vice-liderança durante boa parte da apuração. Esses percentuais levam em conta as regras de paridade e a proporção do número de votantes em cada segmento da universidade. Das 19 urnas, uma precisou ser impugnada por falta de assinaturas e, com isso, cerca de 30 votos deixaram de ser computados.

O fim da greve na instituição, oficializado ontem (leia mais na página 28), tende a agitar a segunda etapa, principalmente com um maior engajamento dos alunos. O embate, defendem militantes, deve ser marcado pela antiga polarização entre "direita", representada por Ivan Camargo, e "esquerda", pela professora Márcia. Historicamente, as eleições para reitor da UnB vão além da discussão em torno dos assuntos da universidade e, nos bastidores, envolvem estratégias muito bem planejadas por partidos políticos. A posse do novo reitor, para um mandato de quatro anos, está marcada para 18 de novembro.

Antes mesmo do anúncio do resultado, por exemplo, documentos com acusações contra os concorrentes circulavam pelo local de apuração. Apesar da expectativa de debates mais aguerridos, Márcia prometeu "campanha limpa" e aproveitou para deixar clara que tem uma "relação muito próxima" com o adversário. Antes de deixar a universidade, a candidata distribuiu beijos e abraços e posou para fotos com eleitores, que a ovacionaram. Ivan Camargo também não economizou cumprimentos e se mostrou otimista com o número de votos conquistados.

Os dois candidatos passaram pelo Decanato de Graduação. Ele, na gestão de Lauro Morhy. Ela, na atual — deixou o cargo para concorrer ao posto máximo da instituição. Ivan é engenheiro elétrico e, até o início do ano, estava cedido para a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Também integrou o Conselho Superior da Fundação de Empreendimentos Científicos e Tecnológicos (Finatec), fato que, no segundo turno, tende a ser explorado pela chapa de Márcia. "Vão tentar colar a imagem dele à do Timothy (reitor que deixou o cargo após denúncias de desvio de recursos)", previa um militante.

Apuração

Na próxima semana, começam as negociações para a tentativa de costurar alianças com os oito candidatos menos votados. "Por enquanto, não estou com ninguém. A UnB está desfacelada, estou muito triste", lamentou Volnei Garrafa, por telefone, minutos antes do fim da apuração. Antes de qualquer conversa, ele viajará a Paris para um congresso científico. A professora Denise Bomtempo ficou até o fim da apuração no Centro Comunitário e avisou que só decidirá quem apoiará após "consultar a base". "Tenho que valorizar a quantidade de gente que votou em mim", disse.

A apuração ocorreu sem tumulto. Os seguranças escalados para acompanhar o processo não tiveram trabalho. "Demorou bem mais do que a gente esperava por conta da verificação manual dos votos, mas nada fugiu ao nosso controle", comentou o professor Paulo Celso dos Reis, responsável pela comissão organizadora das eleições. Candidatos e eleitores, divididos em pequenos grupos, participaram da contagem, no Centro Comunitário da UnB, de olho nos resultados parciais divulgados a todo instante em um telão montado no local.

Cinco perguntas paraIvan Camargo, professor da Faculdade de Tecnologia

Quais serão as três principais propostas exploradas no segundo turno? Gestão, mudança e união são os nossos pontos-chave. A nossa universidade precisa estar mais unida e ter uma gestão eficaz. Além disso, somos oposição. É preciso muito mais cuidado com a coisa pública.

Que tema deve dominar o debate da segunda etapa? O gestor da universidade precisa definir prioridades. E uma delas é a segurança no câmpus. Vamos, também, valorizar o compromisso com a sociedade e voltar a focar na formação dos estudantes, na pesquisa e na inovação.

O racha na UnB pode atrapalhar o pleito? O momento agora é de união. Não interessa quem vai ganhar o próximo pleito. O que importa é a universidade caminhar junto. União: continuamos firmes nessa bandeira.

Com a volta às aulas, os estudantes podem se engajar melhor na discussão? Certamente, o engajamento vai aumentar. Mas fiquei muito orgulhoso com a quantidade de estudantes da Faculdade de Tecnologia que comparecerem para votar.

Quais os apoios que a chapa buscará? Temos princípios parecidos com várias chapas que foram muito bem. Vamos conversar bastante, mas formar alianças é um processo muito lento. Temos de discutir princípios para promover mudanças na universidade.

Cinco perguntas para Márcia Abrahão, docente do Instituto de Biologia

Quais serão as três principais propostas exploradas no segundo turno? Nós ainda vamos discutir, conversar e organizar a campanha. É uma nova etapa. Teremos a oportunidade de discutir mais profundamente a universidade. Discutiremos a academia, os princípios da universidade.

Que tema deve dominar o debate da segunda etapa? Todos os temas da universidade vão dominar o debate, não há ponto específico. De nossa parte, vamos fazer uma campanha explorando a complexidade da universidade.

O racha na UnB pode atrapalhar o pleito? É lamentável. Temos a obrigação de trabalhar para unir a universidade. Infelizmente, as pessoas que têm trabalhado pela união não têm tido sucesso. O Ivan (Camargo) e eu somos muito próximos, temos uma boa relação. A nossa campana vai ser limpa, honesta e focada nos assuntos da universidade.

Com a volta às aulas, os estudantes podem se engajar melhor na discussão? Com certeza. Agora, é uma nova eleição. Vamos trabalhar com todo o potencial da universidade.

Quais os apoios que a chapa buscará? Existem votos que naturalmente virão para gente, mas não tem nada fechado. Vamos conversar e trabalhar em torno de princípios porque essa é nossa forma de trabalhar.