Título: A ação de Dilma nos bastidores
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Correio Braziliense, 27/08/2012, Política, p. 5

Presidente ainda não subiu em palanques, mas, de olho em 2014, já faz articulações nas capitais para isolar outros partidos

A presidente Dilma Rousseff alega que não gravou ainda mensagens no horário eleitoral gratuito por estar debruçada nos pacotes econômicos para retomar o crescimento do PIB brasileiro. Mas, a seu modo — sem rivalizar com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, cuja imagem está sendo repetida em diversas capitais e cidades do interior —, ela age politicamente, estabelecendo contrapontos com os três principais partidos envolvidos na atual disputa: PMDB, PSDB e PSB. Tudo pensando em 2012 e projetando 2014, quando deverá concorrer à reeleição para o Palácio do Planalto.

Na semana que passou, Dilma agradou ao seu mentor, Lula, ao ajudar a convencer a senadora Marta Suplicy (PT-SP) a aderir à campanha de Fernando Haddad para a prefeitura de São Paulo. A presidente tem evitado envolver-se diretamente nas disputas da capital paulista e do Recife, joias diletas do jeito lulista de fazer política. Tanto Haddad quanto o senador Humberto Costa (PT-PE) são "criações" do ex-presidente, a despeito de queixumes de petistas locais.

Mas, discretamente, Dilma tem incensado os petistas. Antes de conversar com Marta Suplicy, praticamente assegurando a inserção dela na campanha paulistana, a presidente já havia fechado a porta para o governador de Pernambuco e presidente nacional do PSB, Eduardo Campos, no dia em que o governo federal lançou o pacote de concessões das rodovias. Alegou que estava com a agenda lotada e não recebeu o aliado, com o qual ela e Lula estão com as relações estremecidas. Além do racha entre PT e PSB no Recife, Lula também ficou contrariado ao ver Campos reconciliar-se com o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), um dos maiores críticos do governo Lula e da gestão atual.

Se mantém distância protocolar das encrencas paulistanas e recifenses, Dilma mergulha por inteiro na eleição para a prefeitura de Belo Horizonte. Tão logo consumou-se a debandada do PT mineiro da chapa liderada pelo atual prefeito, Marcio Lacerda (PSB), em 30 de julho, Dilma, em dois dias, montou uma chapa com suas digitais. No último dia 1º, ligou para o presidente nacional do PT, Rui Falcão, e para o vice-presidente da República, Michel Temer, marcando uma reunião para o Palácio do Planalto no dia seguinte, uma segunda-feira, mas não avisou o que queria. Quando todos apareceram, foram comunicados de que o ex-ministro do Desenvolvimento Social Patrus Ananias seria o candidato do PT à prefeitura. Disse que adoraria ver o PMDB mineiro na vice, forçando a retirada da candidatura do peemedebista Leonardo Quintão. Em troca, confirmou que apoiará o deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) para a presidência da Câmara.

Alerta Segundo apurou o Correio, ao envolver-se tão incisivamente em Belo Horizonte, a presidente pretendeu dar um aviso político a dois atores que também se movimentam no plano nacional: o próprio Eduardo Campos e o senador Aécio Neves (PSDB-MG), provável candidato tucano à Presidência em 2014. Ela conseguiu romper a aliança entre petistas e tucanos na capital mineira, algo que Lula não conseguiu nem em 2008 nem em 2010, unificando o PT da capital. Na tentativa de estender essa união para o estado, incentivou um acordo — pelo menos por enquanto mantido — para que Patrus permaneça na prefeitura, caso eleito, e seja o candidato do PT ao governo mineiro em 2014.

Pelas contas do PT, se Aécio perder fôlego em Belo Horizonte e na região metropolitana, em municípios como Contagem e Betim, diminuiria sua musculatura política, sendo possível a reversão de um quadro até o momento desfavorável aos petistas. A legenda já sabe que o eleitorado paulista tende a votar no PSDB. Com Aécio candidato, o PT deve perder também em Minas, o que significa que os dois maiores colégios eleitorais estariam sob o controle da oposição.

3 Número de capitais consideradas as mais estratégicas para o PT e o Planalto nas eleições deste ano: Recife, Belo Horizonte e São Paulo