Correio braziliense, n. 20364, 21/02/2019. Mundo, p. 16

 

Governo e oposição prontos para o dia D

21/02/2019

 

 

Venezuela » Militares reforçam posições na fronteira para barrar a passagem de ajuda humanitária, em operação marcada para sábado pelo presidente interino Juan Guaidó. Em Miami, almirante americano reitera promessa de defender os civis

O próximo sábado promete ser o “dia D” da crise que opõe o governo de Nicolás Maduro e o opositor Juan Guaidó, reconhecido como presidente interino por 50 países. É a data marcada pela oposição venezuelana para a entrada da ajuda humanitária no país, em desafio à proibição do regime chavista, que vê na operação o disfarce para um golpe de Estado orquestrado pelos Estados Unidos. Em reforço à pressão sobre Maduro, comandantes militares americanos e colombianos, reunidos ontem em Miami, deram um ultimato para que as Forças Armadas da Venezuela façam “a coisa certa” e permitam o ingresso dos suprimentos. No mesmo dia, o governo de Caracas suspendeu até domingo a saída de embarcações de todos os portos do país.

“Esta mensagem é para os militares venezuelanos: vocês serão responsabilizados por suas ações. Façam a coisa certa. Salvem as pessoas em seu país”, disse o almirante Craig Faller, chefe do Comando Sul, unidade militar americana para assuntos do Caribe e das Américas Central e do Sul. Ele falou aos jornalistas ao lado do general Luis Navarro Jimenez, comandante-geral das Forças Militares da Colômbia, que chegou na manhã de ontem à sede do Comando Sul, em Miami, para discutir o impasse.

Toneladas de ajuda humanitária estão armazenadas na cidade fronteiriça colombiana de Cúcuta, sem poder cruzar a fronteira com a Venezuela pela ponte internacional Tienditas, bloqueadas pelos militares venezuelanos com caminhões e contêineres. Outros centros de coleta de suprimentos foram estabelecidos no Brasil, no estado de Roraima, e na ilha caribenha de Curaçao.

Recado

Quando os jornalistas perguntaram como os dois comandantes militares reagiriam, em caso de violência na fronteira no sábado, o colombiano Navarro Jiménez respondeu que seu dever é “proteger a população civil”. “Esperamos que as Forças Armadas venezuelanas protejam seu povo também. Nas Forças Militares da Colômbia, em coordenação com outras entidades governamentais, temos uma logística para resolver qualquer situação de risco”, garantiu.

O chefe do Comando Sul dos EUA também falou sobre o tema. “Cabe aos militares venezuelanos fazer a coisa certa. O ditador Maduro roubou o futuro de seu povo”, acusou o almirante Faller, antes de insistir que Washington quer “uma solução diplomática” para a crise venezuelana. O colombiano Navarro também assegurou que o que está programado para sábado “não é uma operação militar, é uma operação puramente humanitária”.

Na terça-feira, a Força Armada Nacional Bolivariana (Fanb) foi colocada em alerta pelo governo chavista para evitar “qualque violação” do território venezuelano. Um documento de instrução militar, ao qual a agência de notícias France-Presse teve acesso, informa que o governo de Maduro determinou a suspensão, até domingo, “das partidas de embarcações de todos os portos” do país, por razões de segurança. O texto não explica o que acontecerá com a chegada de navios.

Apesar da prontidão, mais um membro do alto comando militar declarou ontem desobediência ao presidente chavista, apliando os rumores sobre mal-estar entre o Exército e o governo. O coronel Pedro Chirinos Dorante, que se identificou como assessor militar adjunto da missão permanente da Venezuela na ONU, em Nova York, divulgou vídeo nas redes sociais anunciando que se declara “em desobediência” e apresenta sua subordinação ao governo de transição do presidente da Assembleia Nacional, Juan Guaidó.

Em menos de um mês, Chirino é o quarto oficial de alta patente, embora sem comando direto de tropa, que se rebela contra Maduro. Suas declarações vieram a público horas depois do comunicado em que o ministro da Defesa, Vladimir Padrino, reiterou o respaldo da Fanb ao regime.

Partidários de Maduro fizeram manifestação em Caracas para celebrar o Dia Nacional Anti-imperialista e denunciar que está em curso “um golpe de Estado liderado pelos EUA”. Para amanhã, o governo de Maduro anunciou shows na ponte Simón Bolívar, que liga Cúcuta ao povoado venezuelano de San Antonio, para denunciar “a brutal agressão” contra a Venezuela. No mesmo dia, do lado colombiano da fronteira, haverá um espetáculo com artistas internacionais, promovido pelo bilionário britânico Richard Branson, para arrecadar fundos para ajuda à Venezuela. O concerto terá na audiência os presidentes da Colômbia, Iván Duque, e do Chile, Sebastián Piñera.

Frase

“Esta mensagem é para os militares venezuelanos: vocês serão responsabilizados por suas ações. Façam a coisa certa. Salvem as pessoas em seu país”

Almirante Craig Faller, chefe do Comando Sul norte-americano