Valor econômico, v.18 , n.4481, 12/04/2018. Política, p. A10
Temer elogia Forças Armadas e tende a efetivar general como ministro
Andra Jubé
Cristiane Bonfanti
12/04/2018
Num momento de expansão dos espaços dos militares no governo, o presidente Michel Temer exaltou o papel das Forças Armadas ontem em solenidade no Palácio do Planalto. Ele discursou na cerimônia de promoção de novos oficiais generais ao lado do ministro interino da Defesa, general Silva e Luna, que o Exército espera ver efetivado no cargo. Mais tarde, em outra cerimônia, reclamou da "desvalorização" da classe política.
Embora auxiliares de Temer afirmem que ele decidiu efetivar Silva e Luna, o general segue como interino há 44 dias, desde a posse de Raul Jungmann no Ministério da Segurança Pública. Uma ala do governo defende que ele nomeie um civil, mas ministros de seu núcleo mais restrito sustentam que os militares devem ser contemplados, em meio à intervenção no Rio e ao cumprimento de vários decretos de Garantia da Lei e da Ordem (GLOs).
A expectativa de que Silva e Luna fosse efetivado com os novos ministros na posse coletiva de terça-feira acabou frustrada. Ele confirmou nos postos dois interinos, os ministros do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Marcos Jorge de Lima, e do Trabalho, Helton Yomura, mas não incluiu o oficial na lista.
Ontem Silva e Luna afirmou que a interinidade "não é um desconforto", e que a intervenção já apresenta resultados: "Houve redução da criminalidade".
O comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, também participou do ato: foi a primeira aparição pública ao lado de Temer, desde o polêmico tuíte, no dia 3, quando afirmou que a força terrestre compartilhava o "anseio de todos os cidadãos de bem de repúdio à impunidade", na véspera do julgamento do habeas corpus do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
"Temos tido mais um corajoso testemunho do profissionalismo e da abnegação dos nossos homens e mulheres de farda", discursou Temer sobre a intervenção no Rio.
"Naturalmente, ninguém tem a ilusão de que uma medida específica, por mais bem planejada e abrangente que seja, vai solucionar, da noite para o dia, problemas que são antigos e estruturais", disse o presidente. "Mas o fato é que a ação das Forças Armadas no Rio de Janeiro, em coordenação com as autoridades locais, já mostra resultados, juntos seremos capazes de vencer aqueles que ameaçam o futuro dos brasileiros", completou.
Após os elogios aos militares, na solenidade de criação das universidades federais do Delta do Parnaíba, no Piauí, e do Agreste de Pernambuco, Temer reclamou do desprestígio da classe política.
Num momento em que dezenas de políticos são investigados na Lava-Jato, e o próprio Temer responde a um inquérito no Supremo Tribunal Federal, ele instou os parlamentares a defendê-la juntos.
"Ao longo desses últimos tempos, a classe política tem sido muito desvalorizada. Nosso governo levanta a voz, e aqui eu a levanto no maior nível possível, espero que usem a tribuna a todo o momento pra fazer essa defesa [da classe]", reivindicou.
No início do dia, em uma cerimônia sobre cooperativismo, Temer afirmou que é preciso "tocar à frente".
"Se nós tivéssemos uma desgraça absoluta no país, muito bem, paciência, mas nós não estamos, meus senhores", ressaltou, mencionando, em seguida, a queda da inflação, dos juros, e a recuperação da economia, e agradeceu a atividade do agronegócio, que impulsionou o PIB deste ano.
Ao final, o presidente pediu otimismo. "Temos dificuldades? Nós temos, outros países têm, mas o Brasil voltou. E o meu sonho, meu desejo, meu desiderato, meu viso, meu objetivo é exatamente que o Brasil se torne uma grande cooperativa, em que todos cooperem entre si".