Valor econômico, v.18 , n.4511, 25/05/2018. Brasil, p. A7

 

Desmatamento da Mata Atlântica cai 56,8%, mas continua a repetir padrões 

Daniela Chiaretti

25/05/2018

 

 

O desmatamento da Mata Atlântica caiu 56,8% no período 2017-2016 em relação ao anterior. No ano passado foram ao chão 12.562 hectares, nos 17 Estados do bioma. Este é o menor valor desde 1985-1990, quando foi iniciada a série histórica da Fundação SOS Mata Atlântica e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

A má notícia é que o desmatamento continua repetindo os mesmos padrões dos últimos anos, nos mesmos lugares - Bahia e Minas Gerais, Paraná e sul do Piauí. "Nós sabemos o que está acontecendo e onde. Nestes lugares, que já denunciamos, é onde o poder público deveria centrar toda a atenção, ver se há licenças, se o desmatamento é ilegal, e aplicar multas", diz Marcia Hirota, diretora-executiva da SOS Mata Atlântica.

No sul da Bahia, por exemplo, a ameaça vem das queimadas da fronteira agropecuária. No sul do Piauí é a pressão dos grãos - soja e milho - além de algodão e cacau. No Paraná, a exploração madeireira. No noroeste de Minas Gerais são os fornos de carvão vegetal que queimam floresta.

Os dados fazem parte do Atlas da Mata Atlântica, que será divulgado hoje. O remanescente atual de Mata Atlântica é de 12,4%, no Brasil, em áreas acima de 3 hectares. "Temos que preservar o que resta e desenvolver um trabalho de recuperação da floresta, cuidando das nascentes e beiras de rio, além de garantir os serviços ambientais", continua Marcia Hirota, que também coordena o Atlas.

Sete Estados registraram desmatamento praticamente zero, com desflorestamento em torno de 100 hectares ou 1 Km2. Ceará e Espírito Santo, com 5 hectares, são os Estados com o menor total de desmatamento. São Paulo e Espírito Santo se destacaram pela maior redução em relação ao período anterior. Mato Grosso do Sul, Paraíba, Rio de Janeiro e Rio Grande do Norte também registraram índices baixos.

A Mata Atlântica é o único bioma com legislação específica e que protege a floresta primária e secundária em estágio médio e avançado de recuperação. A supressão é permitida apenas para fins de utilidade pública e interesse social, como por exemplo as obras do Rodoanel, o anel rodoviário que circunda a região central da Grande São Paulo.

Marcia Hirota acredita que um conjunto de fatores pode explicar a queda no desmatamento - desde as iniciativas de controle e fiscalização do poder público à maior ação do Ministério Público e campanhas de organizações não governamentais, além da crise econômica, ao afetar investimentos do setor produtivo.

Flávio Jorge Ponzoni, pesquisador e coordenador técnico do estudo pelo Inpe, acredita, contudo, que é cedo para se afirmar que há tendência de queda. O desmatamento reduziu depois de três anos de aumentos consecutivos, alerta ele, em nota enviada à imprensa.