Valor econômico, v.19 , n.4505, 17/05/2018. Brasil, p. A6

 

IBC-Br decepciona e reforça revisões para baixo no PIB

Estevão Taiar 

Eduardo Campos 

17/05/2018

 

 

Contrariando as previsões de um pequeno crescimento no primeiro trimestre, o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) caiu 0,13% em relação ao último trimestre de 2017, a primeira queda nesse tipo de comparação desde o fim de 2016. Em março, a queda foi de 0,74% ante fevereiro, feito o ajuste sazonal, resultado que ficou abaixo até do piso das projeções do Valor Data, que iam de queda de 0,6% a alta de 0,2%. A estimativa média era de queda de 0,2%.

Os dados divulgados ontem são os últimos de uma sequência negativa de indicadores, que teve início em janeiro e que mostram, de maneira generalizada, uma retomada lenta da atividade econômica no começo deste ano. Em março, o comportamento do IBC-Br foi influenciado pela queda de 0,1% da produção industrial, recuo de 0,2% dos serviços e alta de 0,3% do varejo, medidos pelas pesquisas setoriais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Os números recentes também indicam, segundo economistas, que o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 2018 deve ficar cada vez mais próximo de 2%, em vez de expansão na casa dos 3% estimada por parte do mercado até algumas semanas atrás. O PIB do primeiro trimestre será divulgado no próximo dia 30 e, na estimativa dos analistas, deve ficar entre a estabilidade e crescimento de 0,5%.

A incerteza eleitoral, a lenta recuperação do mercado de trabalho e a vagarosa queda dos spreads bancários, diferença entre as taxas que os bancos pagam para captar recursos e as que cobram do cliente, são fatores apontados como responsáveis pela desaceleração da retomada da economia.

Nos cálculos de Alberto Ramos, diretor do Departamento de Pesquisas Econômicas para a América Latina do Goldman Sachs, o IBC-Br de março deixa uma herança estatística negativa de 0,53% para o segundo trimestre. Isso significa que se, ao longo do período, o indicador permanecer no mesmo nível de março, haverá retração de 0,53% na atividade medida pelo BC. Para o ano de 2018, segundo Ramos, a herança estatística ainda é positiva, de 0,4%. Ou seja: se até dezembro o IBC-Br permanecer no nível de março, haverá alta de 0,4% em relação a 2017.

Após a divulgação do índice do BC, o Bank of America Merrill Lynch revisou para baixo a sua projeção para a alta do PIB deste ano, que passou de 3% para 2,1%. De acordo com a equipe econômica da instituição financeira, junto com outras "surpresas recentes negativas", o IBC-Br sugere uma recuperação mais fraca.

O indicador do BC tem metodologia distinta das Contas Nacionais calculadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Mesmo assim, é visto por parte do mercado "como uma proxy do PIB", lembra o Banco Fator em relatório.

O IBC-Br de fevereiro foi revisado de alta de 0,09% para recuo de 0,10%. Na comparação com o primeiro trimestre de 2017, houve crescimento de 0,86%. Já nos 12 meses encerrados em março, na série sem ajuste, a expansão foi de 1,05%. Em relação a março de 2017, o índice teve queda de 0,66% na série sem ajuste.

Usada para captar tendência, a média móvel trimestral sem ajuste subiu 1,43% em março, vinda de retração de 1,23% em fevereiro. Na série com ajuste, há queda de 0,50% em março, primeira variação negativa desde março de 2017.

Para Caio Napoleão, economista da MCM Consultores, os indicadores setoriais mensais do IBGE mostram um quadro menos negativo do que o indicador do BC e mais próximo da realidade. Mesmo assim, a consultoria está revisando a projeção de 3% de crescimento do PIB em 2018.

Por enquanto, o Ministério da Fazenda também projeta expansão de 3%, mas já anunciou que revisará o número. O BC, por sua vez, tem estimativa de 2,6% desde o fim do ano passado.

Na comparação com março, dessazonalizada pelo MCM, os dados antecedentes de atividade de abril mostram um cenário misto. Há queda de 1,2% na expedição de papel ondulado, alta de 8,7% na produção de veículos e avanço de 1,3% no fluxo de veículos pesados nas estradas. No comércio, houve alta em emplacamentos de veículos (10,7%), mas queda no indicador da Serasa de atividade do comércio (-0,1%), na confiança do empresário (-0,1%) e do consumidor (-2,8%).

Já nos cálculos dessazonalizados pelo Bradesco, a expedição de papel ondulado caiu 1,3% em abril, resultado que somado a outros indicadores já divulgados corrobora a "expectativa de ligeiro recuo da produção industrial" no mês que inicia o segundo trimestre.

Para Alvaro Bandeira, economista-chefe da corretora Modalmais, os números recentes apontam que é possível que a atividade tenha também no segundo trimestre desempenho pior do que era esperado no começo do ano. "Esses dados deixam uma herança negativa, fica mais difícil mudar a tendência dessa curva", afirma.

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Indicador enfatiza fraqueza da atividade no início do ano 

Sergio Lamucci 

17/05/2018

 

 

O resultado do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) de março reforçou o mau desempenho da economia no primeiro trimestre, já apontado por indicadores como a produção industrial e o volume de serviços prestados no país. O indicador caiu 0,74% em relação a fevereiro, feito o ajuste sazonal, um tombo bem pior que a queda de 0,2% apontada pela média das projeções dos 24 analistas ouvidos pelo Valor Data. No primeiro trimestre, o IBC-Br recuou 0,13% na comparação com o trimestre anterior.

O número corrobora a avaliação dos analistas de que a recuperação da atividade se dá num ritmo lento e gradual. Na visão do Bradesco, o IBC-Br, em conjunto com outros indicadores divulgados anteriores, está em linha com a projeção de crescimento do PIB no primeiro trimestre de 0,3% em relação ao anterior, na série livre de influências sazonais. O IBC-Br é uma aproximação "imperfeita" do PIB divulgado pelo IBGE, na definição do economista Alberto Ramos, do Goldman Sachs, o que ajuda a entender os resultados com frequência diferentes apresentados pelos dois indicadores. No quarto trimestre do ano passado, o IBC-Br subiu 0,9% na comparação com o trimestre anterior, enquanto o PIB avançou apenas 0,1%.

A expectativa dominante é de que o PIB tenha registrado um pequeno crescimento nos três primeiros meses do ano. O PIB Mensal do Itaú Unibanco, por exemplo, subiu 0,3% no trimestre, o número que o banco também projeta para o PIB do período em relação aos três meses anteriores.

Ao comentar o IBC-Br de março, o economista-chefe da corretora Tullet Prebon, Fernando Montero, observa que o recuo de 0,74% registrado em março ocorreu sobre uma série que foi revisada para baixo em 0,28%. Ele destaca ainda que a herança estatística para o indicador em 2018 vem piorando a cada mês. Em dezembro, era de 2,3%, o que significa que, se o IBC-Br terminasse 2018 no mesmo nível do fim do ano passado, o crescimento neste ano seria de 2,3%. Esse número recuou para 1,4% no IBC-Br de janeiro, 1,24% no de fevereiro e para apenas 0,36% no de março.

A avaliação dos analistas é que a economia ganhará fôlego nos próximos trimestres, especialmente devido ao nível baixo dos juros, como ressaltam os economistas do Bradesco. A questão, notam eles, é que "existem dúvidas sobre a velocidade de retomada". Ela se mostra abaixo do necessário para concretizar a projeção do banco de expansão para o ano, de 2,5%. "De todo modo, as condições para o crescimento estão colocadas, especialmente quando levamos em conta a desalavancagem das famílias, os estoques mais ajustados e os efeitos defasados da política monetária", ponderam o Bradesco, em relatório.

A recuperação lenta do mercado de trabalho, com retomada fraca do emprego formal, ajuda a explicar a perda de dinamismo da economia no primeiro trimestre. Além disso, os juros dos empréstimos e financiamentos seguem elevados, porque o spread bancário caiu pouco. Há também empresas e famílias bastante endividadas, o que desestimula o consumo e o investimento. Para completar, as incertezas eleitorais tendem a afetar decisões das companhias de investir mais.

No primeiro trimestre, a produção industrial ficou estável em relação ao trimestre anterior, feito o ajuste sazonal, enquanto o volume de serviços prestados caiu 0,9%. Já as vendas no varejo ampliado (que reúnem automóveis, autopeças e material de construção) aumentaram 1% nessa base de comparação.

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Escalada do câmbio já chega a insumos e matérias-primas e pressiona o IGP-10

Aricia Martins

Renato Rostás

Alessandra Saraiva

17/05/2018

 

 

O dólar mais alto já começou a chegar ao segundo estágio da cadeia de preços. Divulgado ontem pela Fundação Getulio Vargas (FGV), o Índice Geral de Preços - 10 (IGP-10) mostrou que os materiais e componentes para manufatura subiram 1,71% em maio, depois de alta de 0,60% em abril. Neste subgrupo, estão contidos boa parte dos insumos industriais sensíveis ao câmbio, tais como celulose, químicos, petroquímicos, fertilizantes, componentes para material de limpeza, siderurgia, borracha, plásticos e resinas, entre outros.

Também nesta quarta, a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) anunciou a seus clientes da rede de distribuição e do setor industrial um aumento de 8,25% a 11,75% nos preços de seus produtos, válido a partir de 1º de junho. O reajuste mais pesado será feito no aço mais simples, os laminados a quente e a frio.

Só as montadoras ficam de fora dessa correção, porque em geral recebem o aço por meio de contratos anuais. Outras fabricantes de aços planos ainda não se manifestaram, mas a Usiminas já havia declarado que entre junho e julho poderia elevar os preços. Tradicionalmente, quando uma siderúrgica promove um reajuste, as outras vão atrás.

Segundo economistas, outros fatores também estão aumentando os repasses na indústria, como a recomposição das cotações do minério de ferro e a disparada do barril de petróleo. Num cenário de retomada lenta da atividade e demanda ainda fraca, no entanto, a transmissão dos reajustes ao varejo deve ocorrer a conta-gotas e não representa uma preocupação para a inflação, que segue comportada.

Nos 12 meses até abril, os preços de bens comercializáveis - que podem ser transacionados com o exterior e, por isso, são influenciados pelo dólar - acumulam deflação de 0,88% no IPCA, mostrando um quadro ainda bastante controlado no varejo. Os bens de consumo duráveis, por sua vez, recuaram 0,47%.

"O dólar não foi a pressão mais importante, mas os aumentos já estão acontecendo nas cadeias industriais, refletindo o cenário internacional", disse Salomão Quadros, superintendente-adjunto de inflação do Ibre-FGV. Há outros fatores influenciando os preços nas fábricas, disse, como a alta das cotações do minério de ferro após um longo período de baixa e, também, o aumento do petróleo no mercado externo.

Os preços na indústria extrativa deixaram queda de 8,2% em abril e subiram 3,1% em maio, observa ele, enquanto os produtos derivados do petróleo e biocombustíveis avançaram de 2,46% para 6,69% no período.

Dentro do Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA), Quadros destaca, ainda, o salto de 10,4% do farelo de soja, após avanço de 0,5% na medição anterior. Uma outra possível fonte de pressão sobre os preços no varejo poderia vir da farinha de trigo, que, no Brasil, é em sua maioria importada, acrescentou. De abril para maio, esse item subiu de 1,16% para 6,62%.

Mesmo com a aceleração generalizada dos preços no atacado, o economista avalia que o cenário para o varejo ainda é tranquilo, e não necessariamente todas as pressões observadas no IPA chegarão ao consumidor. "Pode ter uma queda de braço na cadeia produtiva entre quem sofre o choque e quem recebe o produto derivado."

A indústria deve absorver mais a pressão de custos vinda da alta do dólar no momento atual do que em outras ocasiões, avalia Fabio Romão, economista da LCA Consultores. "Podemos ver pressões mais importantes no varejo a partir de julho, mas olhando o que está acontecendo com a atividade, não temos ímpeto de elevar projeções", diz Romão, que mantém em 3,5% sua estimativa para o aumento do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2018.

De acordo com o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), a atividade caiu 0,74% entre fevereiro e março, feitos os ajustes sazonais. No primeiro trimestre, o indicador recuou 0,13% sobre os três meses anteriores, também na comparação dessazonalizada. "O IBC-Br foi desanimador", afirma o economista. "O varejo não parece estar de portas abertas para reajustes vindos da indústria."

Mesmo a alta de grãos como soja e milho não preocupa, diz, porque esses itens tem pouca relevância nos índices ao consumidor e alguns alimentos in natura, que pesam mais nos IPCs, estão em tendência de queda.

Segundo Quadros, da FGV, a expectativa de que a taxa de desemprego cairia mais rapidamente foi frustrada. O mercado consumidor ainda está muito fraco, afirma, o que dificulta repasses.

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Indústria paulista cria 9,5 mil empregos 

Aricia Martins

Renato Rostás

Alessandra Saraiva

17/05/2018

 

 

A indústria paulista registrou a criação de 9,5 mil novos postos de trabalho em abril, aumento de 0,44% em relação a março, segundo a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). No acumulado do ano, o setor admitiu 32 mil trabalhadores.

De acordo com o segundo vice-presidente da Fiesp, José Ricardo Roriz Coelho, apesar do dado positivo, a criação de empregos na indústria paulista está abaixo do esperado. "A recuperação está bastante lenta", por causa das incertezas no cenário político e dos elevados níveis dos spreads bancários, diferença entre as taxas que os bancos pagam para captar recursos e as que cobram dos clientes. "Percebemos que há uma perda de fôlego no processo de retomada da atividade econômica", avaliou Roriz, em nota divulgada pela Fiesp.

Entre os 22 setores acompanhados pela federação, 13 tiveram saldo positivo de emprego em abril, seis registraram demissões líquidas e três mantiveram o número de empregados.

Os destaques foram a indústria de produtos alimentícios, com geração de 5.817 postos de trabalho, seguida por coque, derivados de petróleo e biocombustíveis (1.435), produtos de metal (1.397) e veículos (810).

No campo negativo, ficaram principalmente vestuário e acessórios (-941) e têxteis (-380).

Entre as 36 diretorias regionais do Estado, 27 que apontaram criação líquida de vagas. Em Franca o emprego industrial aumentou 3%, influenciado pelo setor de artefatos de couro e calçados (4,1%) e produtos alimentícios (2,7%). Em Sertãozinho houve aumento de 2,6%, por conta de produtos alimentícios (2,4%) e produtos de metal (1,5%). Entre as regiões com saldo negativo estão Jaú (-2,2%), por artefatos de couro e calçados (-29%) e produtos de metal (-7,1%); e Santos (-1,9%), por impressão e reprodução gravações (-13,8%) e vestuário (-13,3%).

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Alimento vai afetar IPCA do ano, diz analista

Eduardo Campos 

17/05/2018

 

 

O preço dos alimentos, dos combustíveis e a valorização do dólar são "molas comprimidas" que ainda vão se refletir na inflação ao longo de 2018. A avaliação é do especialista em commodities da Tullett Prebon, Marco Franklin. "A inflação está abaixo do piso da meta, mas vai virar", resume.

Segundo o especialista, no entanto, não há problema se o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subir em função desses choques desde que as expectativas para 2019 e 2020 continuem ancoradas. Até porque o IPCA está sistematicamente rodando abaixo do piso da meta de 3% em um momento em que o Banco Central trabalha para levar a inflação às metas de 4,5% em 2018 e 4,25% em 2019.

No lado agrícola, Franklin explica que devemos ter preços em alta em função da quebra de safra de soja e milho na Argentina. No Brasil, a safra de soja será recorde, mas a segunda safra de milho terá uma queda importante em função do clima mais seco, que pode reduzir a produção em 10%.

Isso não se refletiu ainda nos indicadores em função da disputa comercial entre Estados Unidos e China e de um caso específico envolvendo o complexo de carnes. O imbróglio envolvendo a BRF, com sanção da União Europeia e um aperto no padrão de exportação para países islâmicos do Oriente Médio, fez com que houvesse sobra relevante de frango no mercado doméstico. Então, apesar do insumo milho ter subido 50% o preço do frango ainda recuava 20% poucas semanas atrás, arrastando para baixo todo o complexo (carnes de boi e porco) por efeito da substituição.

O preço dos combustíveis, segundo o especialista, é um problema adicional. Os reajustes quase diários anunciados pela Petrobras, em linha com a alta também diária do petróleo no mercado internacional, ainda não chegaram plenamente aos postos. Quem está freando o repasse é o preço do etanol, que responde por cerca de 13% do valor da gasolina.