Valor econômico, v.19 , n.4505, 17/05/2018. Política, p. A10

 

Dias dispensa economistas para 'quebrar paradigma'

Ricardo Mendonça

César Felício

Fernando Taquari

17/05/2018

 

 

Engajado na missão que se atribuiu de "combater o sistema" e "refundar a República", slogans que viraram mantra em seu discurso, o senador Alvaro Dias (Podemos) escolheu a área econômica para desencadear a ruptura. Decidiu que não terá economista para lhe auxiliar na pré-campanha à Presidência da República. Em entrevista ao Valor, disse que é preciso "quebrar esse paradigma".

"Não é apresentando um economista na campanha que vou me contrapor ao desconhecimento do eleitor", disse. Dias comentou que ouve diversos economistas, mas afirma apenas que ele mesmo responde sobre temas econômicos em sua pré-campanha e que não convém valorizar tanto o papel de auxiliares. "Eu não transfiro responsabilidades nessa área", sustenta.

Vários de seus adversários, como Geraldo Alckmin (PSDB), Jair Bolsonaro (PSL), Marina Silva (Rede), Ciro Gomes (PDT), Guilherme Boulos (Psol) e João Amoêdo (Novo) já apresentaram porta-vozes na área de economia.

Em entrevista ao Valor, o senador não demonstrou entusiasmo com a hipótese de ser vice, mas admitiu que está conversando sobre eventual composição com representantes de Flavio Rocha (PRB) e Rodrigo Maia (DEM), sem colocar sua candidatura na cabeça de chapa como condição para o avanço das discussões. Diz que alianças são necessárias para ampliar o tempo na televisão e que quem se dispõe a se coligar, precisa estar preparado para ceder.

Na visão de Dias, alianças só não são possíveis com PT, PSDB e MDB. Ele sustenta que estas três agremiações tiveram papel central no fomento e na alimentação do sistema que diz querer combater: "O modelo tradicional de negociação política em que nacos do Estado são entregues em troca de apoio, puxando para baixo a qualidade da gestão."

As demais siglas, inclusive o DEM e o PRB, tiveram o que ele chama de "participação periférica". Em tese, portanto, estariam aptas para acordos e alianças.

Dias afirma que as conversas mais adiantadas são com o empresário Flávio Rocha, ex-deputado, evangélico, dono da Riachuelo e pré-candidato a presidente do PRB, partido ligado à Igreja Universal do Reino de Deus. As tratativas, segundo ele, começaram desde antes de Rocha colocar-se como candidato. Esfriaram após a divulgação das intenções eleitorais do empresário, mas voltaram no período recente.

Quando fala de seu ideário, o senador lista "teses" que facilitam sua aproximação com Rocha: a defesa de um Estado menor, o apoio ao empreendedorismo e a ideia segundo a qual o aumento da produção funciona como principal motor para redução da pobreza. Ele discorda, porém, da visão segundo a qual o país está sob perigosa e iminente ameaça comunista, como tem dito Rocha e alguns de seus seguidores. Classifica isso como "esquizofrenia ideológica", fruto do "medo de um populismo exacerbado".

O senador prefere apostar numa ideia potencialmente muito mais popular: uma significativa redução do número de deputados e senadores no país. Cita que o presidente francês, Emmanuel Macron, implantou a medida em seu país, mas frisa que defende a ideia desde 1999.

Ele reconhece que isso não resultaria em impacto fiscal relevante e ainda produziria um nada desprezível desgaste com os partidos e os congressistas que serão chamados a aprovar seus projetos. Mas acha que a briga vale a pena. Seria uma medida "emblemática" que, reconhecida pela população, daria autoridade para aprovação de medidas menos populares, explica. Como exemplo, cita a reforma da Previdência, sem entrar em detalhes.

O pré-candidato que fala em "romper com o sistema" não pode ser acusado de não conhecê-lo. Gosta de repetir que exerce mandatos públicos há 42 anos. Começou no MDB antes de o partido do presidente Michel Temer virar PMDB (recentemente, a agremiação cortou o "P" e readotou a sigla original). Passou depois pelo PST e o Partido Progressista, uma versão homônima da sigla atual, mas extinta em 1995. Migrou em seguida para o PSDB, depois para o PDT, passou para o PV e terminou no Podemos, ex-PTN.

Seu cargo mais importante foi o de governador do Paraná, de 1987 a 1991. Já havia sido deputado estadual (1971-75), federal (1975-83) e senador (1983-87) antes de chegar lá. Voltou ao Senado em 1999. Empresário rural, tentou sem sucesso voltar ao governo do Paraná em 2002, no que foi sua única derrota eleitoral. Seu irmão, Osmar Dias, também tem carreira política e é candidato ao governo do Paraná pelo PDT.

Dias ressalta que passou a maior parte de sua carreira política fazendo oposição ao governo federal de plantão, "combatendo o sistema", em atuação crítica. No Senado, é conhecido como um político de perfil que "joga sozinho". Não costuma atuar como articulador.

O pré-candidato afirma que tem feito sua pré-campanha sem muita organização. Viaja, faz visitas e participa de eventos, debates e entrevistas no ritmo em que os convites vão aparecendo, "conforme a demanda".

Filiado a um partido pequeno, com estrutura escassa e pouco tempo de TV na comparação com alguns dos principais rivais, ele aposta na revisão da distribuição do tempo de televisão pelo TSE e diz acreditar que a formação de grandes alianças não será um diferencial em 2018. "Apostamos numa mudança de conceito", diz. "Se acreditasse em estrutura, estaria em desvantagem."