Valor econômico, v.19 , n.4504, 16/05/2018. Política, p. A6

 

Ausências marcam ato por 2 anos de Temer

Murillo Camarotto

Marcelo Ribeiro

Fabio Murakawa

16/05/2018

 

 

O presidente Michel Temer convocou ministros, ex-ministros, presidentes de estatais e aliados - muitos dos quais candidatos nas eleições deste ano - para a apresentação do balanço de dois anos do seu governo. Durante quase duas horas, Temer enumerou os feitos de sua administração, citou aliados, criticou o abuso de autoridade e pediu pacificação do país. A cerimônia não contou com a presença do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), do presidente do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE) e da líder do partido no Senado, Simone Tebet (MS).

O balanço foi precedido de uma gafe da equipe de comunicação do Palácio do Planalto, que batizou a solenidade de "O Brasil voltou, 20 anos em 2". A função gramatical da vírgula passou despercebida e passou a impressão de que o governo estava admitindo um retrocesso no país. Passada a polêmica, Temer avisou aos presentes que sua fala seria longa, devido ao grande número de ações que seriam lembradas.

Ele destacou a aprovação do teto dos gastos públicos, a redução da taxa básica de juros e o fim da recessão. De acordo com Temer, o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2018 ficará próximo dos 2,5%, abaixo da projeção oficial do governo, que está em 3%. "O teto fica como legado para o futuro da gestão pública brasileira", disse o presidente.

Temer também mencionou a recuperação da credibilidade da Petrobras como um dos principais legados de sua administração. "Agora, a confiança é a principal energia que a Petrobras fornece no Brasil e no mundo", disse o presidente. Ele anunciou ainda a distribuição de cerca de R$ 4 bilhões referentes a royalties de petróleo para estados e aproximadamente 200 municípios.

A privatização da Eletrobras foi chamada por Temer de modernização. Segundo o presidente, o processo, que continua pendente de aprovação no Congresso, irá garantir mais eficiência na produção e na distribuição da energia elétrica no país.

Temer disse ter entregue 1 milhão de moradias no programa Minha Casa, Minha Vida e fez críticas veladas ao Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST). "Nosso trabalho promove a paz no campo, e não conflitos. Para dar a terra não por armas, mas força da lei e decisão política", completou.

Temer celebrou a aprovação da trabalhista - que "reduziu os litígios, flexibilizou a atividade profissional e abriu diálogo entre patrões e empregados". Sobre a Previdência, parada no Legislativo, o presidente afirmou que o texto "saiu da pauta do Congresso Nacional, mas permanece na pauta da política". "O próximo presidente vai ter que fazer a reforma", afirmou.

O presidente fez menção ao abuso de autoridade. Alvo de investigações da Polícia Federal e de uma possível nova denúncia pela Procuradoria-Geral da República (PGR). "Nós não somos autoridade. Quem tem autoridade é a lei. Somos autoridades constituídas. Quando se fala de abuso de autoridade, fala-se de descumprimento do preceito legal", concluiu. Ontem mesmo a Polícia Federal solicitou ao Supremo Tribunal Federal (STF) a prorrogação por dois meses de um dos inquéritos contra o presidente, de acordo com o portal "G1". No caso, do que trata uma suposta doação ilegal de R$ 10 milhões feita pela Odebrecht, acertada em um jantar no Palácio do Jaburu em 2014, tempo em que era vice-presidente.

No Congresso, parlamentares de partidos aliados criticavam o governo. O vice-presidente da Câmara, Fábio Ramalho (MDB-MG), foi ao plenário reclamar que Temer prometeu R$ 250 milhões para a Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) manter congeladas as tarifas em Belo Horizonte, mas não fez o repasse. Acusou o governo de ter "um mundo de ministros investigados na Lava-Jato". (Colaborou Raphael Di Cunto, com agências noticiosas)

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Presidente não tem muito o que comemorar

Fernando Exman

16/05/2018

 

 

A solenidade promovida pelo presidente Michel Temer para marcar os dois anos de seu governo ocorre num momento menos favorável do ponto de vista eleitoral do que gostariam o emedebista e seus aliados.

A Presidência da República organizou um evento com a presença de ex-integrantes de sua administração, ministros e parlamentares. Temer destacou uma série de ações e indicadores positivos da economia, mas, olhando para frente, não tem muito a comemorar: o presidente continua com índices baixíssimos de aprovação e seu projeto eleitoral até agora não vingou.

A poucos meses das eleições, o eleitor não relaciona a acanhada recuperação econômica ao governo Temer. Pior: autoridades do Planalto sabem que, depois de criar expectativas positivas em relação ao futuro quando houve o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, parcela considerável da população permanece insatisfeita com seus custos de vida e perspectivas no mercado de trabalho para si e seus familiares. E atribui a situação à corrupção.

Além disso, investidores têm travado projetos até terem mais certeza do país que encontrarão após as eleições, o que deve dificultar ainda mais uma maior recuperação da economia e do mercado de trabalho, como gostariam de ver autoridades do Planalto e articuladores das pré-candidaturas governistas.

Na segunda-feira, por exemplo, pesquisa do instituto MDA divulgada pela Confederação Nacional do Transporte (CNT) voltou a apontar a baixa popularidade de Temer. Entre os entrevistados, 19,6% disseram considerar o governo ruim e 51,6% péssimo. Além disso, 82,5% desaprovam o desempenho pessoal do presidente da República.

A mesma pesquisa voltar a citar Temer e o ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles, os dois pré-candidatos do MDB, com modestas intenções de voto.

No fim de seu discurso, Temer agradeceu à parte do povo que defende a manutenção do país no rumo traçado nos últimos dois anos. Pelo menos por ora, essa parcela do eleitorado não é capaz de garantir a Temer uma posição de destaque na disputa presidencial.