Título: Selic deve cair mais
Autor: Martins, Victor
Fonte: Correio Braziliense, 29/08/2012, Economia, p. 13

Selic deve cair mais

» VICTOR MARTINS

Com a missão de impulsionar a economia por meio da política monetária e da expansão do crédito, o Banco Central se preparara para cortar os juros básicos (Selic), hoje, em mais 0,50 ponto percentual. O ajuste, caso se confirme, levará a taxa dos atuais 8% ao ano para 7,5% — a nona queda seguida desde agosto do ano passado. Na ponta do lápis, a mudança será, neste mês, um alívio modesto: apenas 0,65% de queda para o consumidor que precisar de financiamento. Em 12 meses, porém, as famílias foram beneficiadas com uma queda mais expressiva: as compras a prazo ficaram 18,24 pontos percentuais mais baratas no período.

Os dados, da Associação Nacional de Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), mostram ainda que, de todas as linhas de financiamento, apenas o rotativo do cartão de crédito ignorou a queda da Selic no último ano e se manteve praticamente inalterado, em cerca de 230% ao ano (veja quadro). Com o possível ajuste de hoje em 0,50 ponto percentual na taxa básica — como aposta a maior parte do mercado financeiro —, o juro médio anual deve passar de 103,89% para 102,97%. Uma queda considerada pequena por Miguel Oliveira, coordenador de estudos econômicos da Anefac. Segundo ele, a transmissão para a economia real é lenta.

"A redução da taxa básica, seja qual for, terá pouco impacto nas operações de crédito. Isso ocorre porque existe um deslocamento muito grande entre a Selic e os juros cobrados dos consumidores, uma diferença de mais de 1.000%", argumentou Oliveira. Para quem deseja economizar nas prestações, sobretudo em financiamentos mais longos, especialistas alertam que pode valer a pena esperar a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), pois a cada movimento de queda na taxa, os bancos têm anunciado reduções nos custos dos seus financiamentos. O consumidor precisa lembrar, porém, que, apesar da crença em uma queda, nunca é possível prever os movimentos do BC com exatidão.

Nas entrelinhas O estrategista-chefe do Banco WestLB, Luciano Rostagno, é um dos especialistas que acreditam em uma redução de 0,50 ponto percentual. Um movimento que, segundo ele, ficou subentendido na ata da última reunião do Copom, em julho. Ele, porém, tem dúvidas em relação à reunião do Copom de outubro. "Avaliamos que o Banco Central irá proceder com maior cautela após a reunião (deste mês)", disse. "Deve sinalizar para o mercado que o prolongamento do ciclo de afrouxamento monetário, até a reunião de outubro, dependerá da evolução, tanto da atividade econômica doméstica quanto do cenário internacional", observou.

Impacto no bolso (Em % ao ano)

Um ano após o início do corte nos juros pelo BC, apenas o cartão de crédito não repassou o alívio aos consumidores. Veja quanto era a o custo do crédito no ano passado e para quanto pode baixar neste mês se a Selic recuar mais 0,5 ponto percentual

Operações Agosto de 2011 Agosto de 2012 Cartão de crédito 238,30 236,83 Empréstimo pessoal em financeira 191,98 148,48 Crediário em lojas 94,49 71,74 Empréstimo pessoal em banco 72,93 51,63 CDC Veículos 32,46 23,29 Taxa média 121,21 102,97 Fonte: Anefac