Correio braziliense, n. 20366, 23/02/2019. Economia, p. 9

 

Desemprego cai de forma desigual

Ingrid Soares

23/02/2019

 

 

A taxa média de desemprego, em 2018, foi a maior dos últimos sete anos em 13 capitais do país, na contramão da média nacional, que caiu de 12,7%, em 2017, para 12,3% no ano passado. Os dados fazem parte da Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílio (Pnad Contínua), divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

As regiões Sudeste e Nordeste apresentaram os maiores índices de desocupação em 2018. O Sul teve a menor taxa, seguido pelo Centro-Oeste, região onde nenhuma das capitais teve avanço do desemprego de 2017 para 2018. Os dados apontam, ainda, que, no 4° trimestre do ano passado, as mulheres tiveram menor nível de ocupação que os homens. O nível de ocupação deles no Brasil foi de 64,3% e o das mulheres, de 45,6%, com destaque para o Norte.
Por outro lado, em 18 estados e no DF, houve recuo dos desempregados em 2018. As quedas ocorreram em Mato Grosso, Tocantins, Minas Gerais, Ceará, Goiás, Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Espírito Santo, Pernambuco , Paraíba, Rio Grande do Norte, Piauí, Pará, Amazonas e Acre. As maiores taxas médias anuais entre as unidades da Federação foram: Amapá (20,2%), Alagoas (17,0%), Pernambuco (16,7%) e Sergipe (16,6%). As menores taxas foram observadas em Santa Catarina (6,4%), Mato Grosso do Sul (7,6%) e Mato Grosso (7,9%).
Segundo o levantamento, mais de 60% da população desalentada (formada pelos que deixam de procurar emprego por achar que não conseguirão uma vaga) está no Nordeste. O contingente, no quarto trimestre de 2018, foi de 4,7 milhões de pessoas de 14 anos ou mais de idade, um aumento de 8,1% ante igual período de 2017, quando 4,35 milhões de pessoas estavam desalentadas. Os maiores contingentes de pessoas em desalento no quarto trimestre se concentraram na Bahia (804 mil pessoas) e no Maranhão (512 mil).
O coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE, Cimar Azeredo, explicou que a desocupação caiu, mas não de forma generalizada, como era esperado. “Imaginava-se que as contratações de Black Friday, festas de fim de ano, de trabalhadores temporários e as eleições em outubro fossem trazer uma quantidade de pessoas para o mercado de trabalho e no confronto com o 3º trimestre, isso fosse reduzir de forma significativa a taxa de desocupação para todos os estados, o que não aconteceu”, disse.
“A taxa caiu em relação ao 3º trimestre, mas em alguns estados, isso não se concretizou. Outro ponto, é que a pesquisa fecha o ano com aumento da informalidade. No 4º trimestre, foi menor o número de pessoas trabalhando com carteira de trabalho. O tempo em que as pessoas estão na fila da desocupação também está aumentando: 25% da população desocupada está nessa condição há mais de 2 anos", apontou o coordenador.

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Pretos e pardos em desvantagem

23/02/2019

 

 

 

 

A Pnad Contínua mostrou que a taxa de desocupação entre pretos e pardos é maior do que a taxa nacional. Além disso, tem crescido nos últimos anos. O contingente dos desocupados no Brasil no 1º trimestre de 2012 era de 7,6 milhões de pessoas, quando os pardos representavam 48,9% dessa população, seguidos dos brancos (40,2%) e dos pretos (10,2%). No 4º trimestre de 2018, os desempregados chegaram a 12,2 milhões e a participação dos pardos passou a ser de 51,7%. A dos pretos subiu para 12,9% e a dos brancos caiu para 34,6%. No quarto trimestre de 2018, os pardos representavam 47,4% da população fora da força de trabalho, seguidos pelos brancos (42,5%) e pelos pretos (9,0%).
A antropóloga da Universidade de Brasília (UnB) Lia Zanotta observa que, segundo estatísticas de renda por raça e gênero, os ganhos maiores são de homens brancos sobre homens negros e de mulheres brancas sobre mulheres negras. “Infelizmente,  há uma preferência de mercado que emprega mais brancos. Essa preferência representa uma forma estruturante e permanente de discriminação racial. Homens negros e pardos são mais vulneráveis ao desemprego. Falta presença do Estado em políticas de emprego e desenvolvimento”, disse ela.
Liz Zanotta acrescenta que o governo precisa pensar em soluções para outras áreas. “Precisamos de menos falas sobre a reforma da Previdência, como se fosse a única solução, pois há outras frentes para resolver. É preciso pensar em políticas de emprego mais racionais e de desenvolvimento. Sem isso, é uma situação difícil, que pode prevalecer. Não pode ter essa aparente apatia a políticas de empregos e políticas desenvolvimentistas”, disse a antropóloga.