Correio braziliense, n. 20366, 23/02/2019. Mundo, p. 13

 

Brasil confirma entrega de ajuda

Rodolfo Costa

23/02/2019

 

 

O incidente entre tropas venezuelanas e indígenas, perto da fronteira com o Brasil, não mudou o planejamento do governo para começar hoje a entrega de ajuda humanitária destinada ao país vizinho — ainda que o presidente chavista, Nicolás Maduro, tenha fechado as passagens entre seu território e o estado brasileiro de Roraima. O presidente Jair Bolsonaro convocou ontem uma reunião de emergência no Palácio do Planalto para discutir a operação. A meta é transportar 200 toneladas de alimentos básicos e medicamentos em caminhões venezuelanos. Um veículo está localizado na ala 7 da Base Aérea, em Boa Vista. Outros quatro estariam próximos da capital roraimense, segundo um interlocutor da cúpula militar do governo.
O envio dos suprimentos começa hoje, sem data prevista para o término. O sucesso da operação depende, entretanto, da chegada dos demais caminhões. Afinal, o acordo com o presidente autoproclamado da Venezuela, Juan Guaidó, é para que apenas veículos venezuelanos conduzidos por venezuelanos façam o transporte dos donativos. São carregamentos de arroz, feijão, café, leite em pó, açúcar e sal, além de kits de primeiros socorros.
O gabinete de crise montado para acompanhar a situação no país vizinho traça uma ação única e coordenada. Na impossibilidade de mais caminhões chegarem a Boa Vista, outras medidas serão estudadas, explica o porta-voz da Presidência da República, Otávio Rêgo Barros. “A decisão de deslocamento dessas 200 toneladas é da área operacional, de quem está em campo avaliando se o conjunto é suficiente para transportá-lo”, explicou.
Planejamento
A força-tarefa montada para o envio dos mantimentos monitora todas as situações e intempéries que possam obrigar o governo a replanejar as estratégias. A previsão de um comboio, entretanto, ainda é a primeira opção trabalhada. Os caminhões sairão da Base Aérea em Boa Vista rumo ao município de Pacaraima, um deslocamento de cerca de 180km, com estimativa de duração de 4h. Os veículos serão escoltados por viaturas e agentes da Polícia Rodoviária Federal (PRF) e da 1ª Brigada de Infantaria de Selva, do Exército Brasileiro.
Caso os caminhões sejam impedidos de cruzar a fronteira, retornarão para Boa Vista e outras tentativas serão analisadas nos próximos dias, afirma o porta-voz do Planalto. Na hipótese de conseguirem passar para território venezuelano, a segurança do comboio ficará a cargo dos representantes de Guaidó. “O limite da nossa ação está na linha de fronteira, por questões de segurança. Adentrando no território venezuelano, será dever do Guaidó resolver essa questão”, declarou Rêgo Barros.
A operação coincide com o aumento da tensão com  o governo de Maduro. Suspeitas apontam que a Venezuela teria posicionado mísseis de defesa aérea S-300VM na região do aeroporto de Santa Elena de Uairén, a cerca de 11km da fronteira brasileira. Barros, no entanto, negou a informação. Afirmou, ainda, que governo não “conjectura poder de combate”, evitando dar declarações sobre medidas a serem adotadas em caso de ação militar por parte dos venezuelanos.
“O limite da nossa ação está na linha de fronteira por questões de segurança”
Otávio do Rego Barros, porta-voz do presidente Jair Bolsonaro