Valor econômico, v.18 , n.4503, 15/05/2018. Política, p. A5

 

Pesquisa mostra Alckmin enfraquecido 

Fabio Murakawa

Rapahel Di Cunto 

Fernando Exman

15/05/2018

 

 

Uma pesquisa CNT/MDA divulgada ontem trouxe más notícias para Geraldo Alckmin (PSDB), em sua pretensão de chegar ao Palácio do Planalto em 2019. As intenções de voto no ex-governador de São Paulo caíram tanto na pesquisa espontânea como na estimulada, sua rejeição cresceu 5 pontos percentuais e ele é derrotado, tanto no primeiro como no segundo turno, por quase todos os seus principais concorrentes - mesmo quando se exclui o nome do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), vencedor sob qualquer cenário.

Sem Lula, Alckmin aparece em quarto lugar em duas simulações testadas. Na principal delas, as intenções de voto no tucano caíram de 8,6% para 5,3% entre março e maio. Está atrás de Jair Bolsonaro (PSL), com 18,3%, Marina Silva (Rede), que tem 11,2%, e foi ultrapassado por Ciro Gomes (PDT), que variou de 8,1% para 9%. Em um segundo cenário, Alckmin aparece como o único nome do chamado "centro". As intenções de voto no ex-governador sobem a 8,1%, mas ele mantém a quarta posição, também atrás de Bolsonaro, Marina e Ciro. Com Lula no jogo, Alckmin, que tinha 6,4% em março, aparece agora com 4%, na quinta colocação. No segundo turno, perde para Lula (44,9% a 19,6%); Bolsonaro (27,8% a 20,2%); e Marina (26,6% a 18,9%). Aparece em empate técnico com Ciro, porém numericamente atrás (20,9% a 20,4%).

A rejeição ao tucano, por outro lado, aumentou. Entre março e maio, o índice dos que disseram que não votariam nele de jeito nenhum subiu de 50,7% para 55,9%. Somente um pré-candidato supera o ex-governador em rejeição: o presidente Michel Temer, com 87,8%.

"É difícil com base apenas na pesquisa explicar esse desempenho [de Alckmin]", disse ao Valor o diretor-executivo do instituto MDA, Marcelo Souza. Ele diz, no entanto, enxergar problemas com odesempenho pessoal de Alckmin em colégios eleitorais chave.

Na opinião de Souza, notícias envolvendo caciques tucanos como o senador Aécio Neves em escândalos de corrupção respingam em Alckmin. "Ele tem um mau desempenho em Minas Gerais e no próprio Estado de São Paulo aparece atrás de Lula e Bolsonaro", diz ele. "Também está muito mal votado no Sul, onde Alvaro Dias está mais bem colocado."

Com sua figura rejeitada pelo eleitor, e apenas 4,3% dos brasileiros aprovando seu governo, Temer está "fora do páreo", afirma Souza.

O diretor também vê dificuldades para Marina, já conhecida do público, mas que tem um desempenho bem pior do que no passado. "O eleitor já tem opinião bem formada sobre ela e o Alckmin, que já foram testados. Isso dificulta o crescimento deles."

Ciro "tem potencial" de captar mais votos, sobretudo os de Lula. "No caso dele, tudo depende de como o PT vai se posicionar e até que ponto vai continuar insistindo na candidatura do Lula", diz Souza.

A pesquisa ouviu 2.002 pessoas em 137 municípios entre 9 e 12 de maio. A margem de erro é de 2,2 pontos percentuais e foi registrada no Tribunal Superior Eleitoral sob o número BR 09430/2018.

O levantamento mostra que a estratégia de Lula de manter a visibilidade mesmo condenado em segunda instância e enquadrado na Lei da Ficha Limpa está sendo bem sucedida. Preso desde 7 de abril, Lula manteve a candidatura, interditou o debate no PT sobre alternativas, e inviabilizou o apoio de seu partido a outro representante da esquerda no pleito de outubro. A decisão, embora possa enfraquecer a posição do PT a médio prazo, até agora encontra respaldo no imaginário de grande parte dos eleitores.

Segundo a pesquisa, a intenção de voto espontânea do ex-presidente manteve-se inalterada em 18,6% desde março. A despeito do noticiário negativo sobre sua pessoa, ele ainda venceria no primeiro e no segundo turno de seus rivais com ampla vantagem. Além disso, 38,6% dos entrevistados consideram injusta a sua condenação, contra 51% que a julgam justa. E 40,8% acreditam que Lula disputará as eleições, mesmo depois de condenado pelo Tribunal Federal da 4ª Região, ante 49,9% que não esperam ver seu nome na urna.

Por outro lado, Lula tem um índice de rejeição elevado: 46,8% dos entrevistados dizem que não votam no ex-presidente de jeito algum (em março eram 46,7%). Ainda assim, os demais pré-candidatos de esquerda ainda não empolgam o eleitor, num momento em que Bolsonaro se consolida na dianteira.

A leitura de analistas ligados ao mercado financeiro, como a consultoria Eurasia, foi de que há um desencanto em relação à corrida presidencial. O boletim da consultoria ressalta o aumento do percentual de eleitores que afirmaram estar indecisos ou que votariam em branco ou nulo. De 38%, na última pesquisa CNT/MDA, o grupo passou para 45%, nos cenários sem a presença de Lula. Assinada pelo cientista político e diretor do grupo na América Latina, Christopher Garman, a análise chama a atenção para o desencanto que se aprofunda "apesar da recuperação da economia". A previsão da Eurasia é que as eleições de outubro se darão sob forte sentimento anti-establishment. (Colaborou Cristian Klein, do Rio)

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Com apenas 0,2%, Maia diz manter pré-candidatura

Fernando Taquari 

15/05/2018

 

 

Em um recado aos correligionários do DEM, o presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia (RJ), disse ontem que pesquisas de intenção de voto neste momento de pré-campanha não devem basear decisões políticas e que mantém sua pré-candidatura à Presidência da República, a despeito das sondagens que atestam sua baixa viabilidade eleitoral na disputa.

"Só a partir do dia 15 de setembro vamos ter um cenário mais claro. As decisões políticas não poderão passar por pesquisas", disse Maia ao apontar que ainda há muitos eleitores indecisos e que isso acentua as incertezas. No levantamento da CNT/ MDA, o presidenciável do DEM aparece com apenas 0,2% das preferências. "[A candidatura] está mantida. Estamos trabalhando", acrescentou.

Diante do quadro eleitoral, dirigentes do DEM já descartam nos bastidores a pré-candidatura de Maia e defendem em conversas reservadas que o partido estabeleça uma data-limite para negociar uma aliança nacional com um candidato de centro ao Palácio do Planalto mais viável do ponto de vista eleitoral.

O nome do ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB) desponta como potencial alternativa, ainda que o tucano também tenha registrado um desempenho aquém do esperado nas pesquisas, inclusive em São Paulo, onde governou e aparece em situação de empate técnico com o deputado Jair Bolsonaro (PSL-RJ) no cenário sem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, conforme levantamento do Ibope em abril.

Maia, no entanto, dá sinais de que não pretende ceder sem garantir um protagonismo ao DEM em uma eventual composição com Alckmin. Depois de dizer no fim de semana que a parceria com o PSDB está perto do fim, na contramão do que pregam dirigentes da sigla, o presidente da Câmara reiterou ontem as críticas aos tucanos ao lembrar que o DEM ficou fora chapa majoritária na eleição passada.

Além disso, declarou que o cenário nacional não vai condicionar o apoio do DEM na disputa pelo governo de São Paulo, onde o partido recuou da ideia de ter candidato próprio. A decisão do diretório estadual, de acordo com o parlamentar, será respeitada e não envolverá qualquer tipo de acordo com vistas às eleições presidenciais.

Em sua opinião, o DEM escolherá entre o ex-prefeito tucano João Doria e o governador Márcio França (PSB), candidato à reeleição.