Correio braziliense, n. 20367, 24/02/2019. Política, p. 4

 

Cinco perguntas para

Antônio José Barbosa

24/02/2019

 

 

Professor de história política contemporânea da Universidade de Brasília (UnB)

Por que é tão difícil votar a Previdência no Brasil?

É difícil em qualquer lugar do mundo. Na realidade contemporânea em que vivemos, a reforma da Previdência precisa lutar contra determinados interesses dos grupos atingidos pelas mudanças propostas pelo governo. A ideia é sempre cortar privilégios, mas as mudanças se perdem no momento em que as pessoas que apoiam a reformulação previdenciária entendem que terão seus direitos atingidos. Então, elas reagem.

O projeto do ministro da Economia, Paulo Guedes, corta direitos ou privilégios?

Depende do que chamamos de direitos e de privilégios. Considerando a preocupação do governo em penalizar o mínimo possível as camadas mais pobres da população, acredito que vão cortar mais privilégios. Mas a situação previdenciária, de maneira geral, faliu. Falamos de um modelo insustentável.

O governo apresentou regras mais duras no projeto para queimar gordura e negociar?

Isso faz parte do jogo em uma democracia representativa como a nossa. Toda vez que o Executivo encaminha para o Legislativo propostas dessa magnitude, sabemos que alguém terá que ceder em determinados pontos. A grande questão é não abrir mão dos pontos considerados fundamentais, como a idade mínima para a aposentadoria (65 anos para homens e 62, para mulheres). No mais, acredito, existem aspectos passíveis de serem transformados pelo Legislativo.

O Planalto mostra força para aprovar o texto?

O governo tem dois meses e, nesse período, percebemos que há uma falta de articulação política fora do comum no que tange ao partido do presidente e à base governista. O PSL sequer existe como partido de fato. Parlamentares só se elegeram atrelando seu nome ao do presidente Jair Bolsonaro. Mas não há clareza ideológica no partido. A liderança do governo (exercida pelo deputado Major Vitor Hugo, do PSL-GO), independetemente da qualificação do parlamentar, que tem falta de técnica por ser alguém que está conhecendo agora. Seria necessário colocar alguém com mais conhecimento. Dito isso, acredito que o governo ainda tenha força para aprovar o projeto.

O DEM sairá mais forte caso a reforma seja aprovada?

Acredito que o Onyx não represente o DEM. Sua nomeação foi uma escolha do presidente como aliado, não como partido. Na verdade não acredito que a atuação, seja para que lado for, vá beneficiar ou prejudicar o Democratas. Mas isso confirma a fragilidade institucional do PSL, que não tem nitidez, a despeito de ser, até o presente momento, a segunda maior bancada. Não há projetos que unifiquem a bancada. Nem sei se o partido vai sobreviver aos quatro anos de governo.