Valor econômico, v.19 , n.4503, 15/05/2018. Especial, p. A12

 

OMS pressiona pelo fim do uso da gordura trans 

Assis Moreira 

15/05/2018

 

 

A Organização Mundial da Saúde (OMS) aumentou ontem a pressão sobre os governos para que forcem as indústrias de alimentação a eliminar o uso de gorduras trans e substituí-las por óleos e opções mais saudáveis. A agência da ONU lançou a iniciativa chamada "Replace" com orientações para a eliminação dessas gorduras produzidas industrialmente da cadeia global de suprimentos.

Para a OMS, essa medida é fundamental para proteger a saúde e salvar vidas. Estima-se que, a cada ano, a ingestão de gordura trans provoque mais de 500 mil mortes por doenças cardiovasculares no mundo.

Gorduras trans produzidas industrialmente estão contidas em gorduras vegetais endurecidas - como margarina e ghee (conhecida como "manteiga clarificada"). Estão frequentemente presentes em salgadinhos, alimentos assados e frituras.

Os fabricantes costumam usar esse tipo de produto porque tem uma vida útil mais longa do que outras gorduras. Mas a OMS diz que alternativas mais saudáveis podem ser usadas sem afetar o sabor ou o custo dos alimentos.

Vários países industrializados já proibiram parcialmente óleos hidrogenados, a principal fonte de gorduras trans produzidas artificialmente. Um documento da OMS diz que o Brasil aprovou, em 2018, uma lei que também veda parcialmente o uso desses óleos, mas a medida só entrará em vigor em 2021.

Na América do Sul, oito países exigem rotulagem obrigatória de gorduras trans. Os países membros do Mercosul - Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai - também aprovaram a adoção dessa exigência como grupo em 2006.

Companhias multinacionais que produzem a gordura saturada trans ou a usam dizem que já a eliminaram de boa parte dos produtos nos Estados Unidos, partes da Europa e do Canadá, e que defendem a medida.

A International Food and Beverage Alliance, que reúne companhias como Kellogg, General Mills Inc., McDonald's e Unilever, diz que seus membros removeram a gordura trans de 98,8% de seus portfólios globais de produtos.

A iniciativa lançada pela OMC propõe a eliminação completa, globalmente, por meio de seis ações. A proposta é adotar leis para eliminar essas gorduras e criar a consciência geral sobre o impacto do produto na saúde da população.

A Dinamarca, o primeiro país a reagir, constatou, há anos, uma queda significativa de doenças cardiovasculares, segundo a OMS.

A cidade de Nova York também adotou a proibição há uma década. Tom Frieden, CEO da "Resolve to Save Lives", diz que esse tipo de gorduras é um tóxico químico desnecessário que mata, e que não há razões para as pessoas serem expostas a elas.