Título: País discute como dialogar com as Farc
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Fonte: Correio Braziliense, 29/08/2012, Mundo, p. 19

A decisão do presidente Juan Manuel Santos de abrir "conversações exploratórias" sobre um processo de paz com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) teve apoio praticamente unânime, dentro e fora do país, mas a condução das negociações divide opiniões nos círculos políticos colombianos. Setores governistas mais próximos ao antecessor imediato de Santos, Álvaro Uribe, reforçaram sua rejeição a qualquer tipo de benefício legal para guerrilheiros envolvidos com crimes contra a humanidade. Outros, porém, acenam com a possibilidade de que as Farc tenham representação no Congresso e defendem uma abordagem "pragmática" para encerrar um conflito armado que se prolonga há cinco décadas.

O próprio presidente confirmou que um acordo preliminar foi fechado em Cuba por representantes do governo e da guerrilha, e prometeu que mais detalhes serão revelados nos próximos dias. Extraoficialmente, fontes ligadas ao processo revelaram à imprensa que as conversações seriam iniciadas em Oslo, na Noruega, em outubro, e prosseguiriam em Havana. Além dos governos norueguês e cubano, também a Venezuela estaria participando como facilitadora do diálogo.

O intervalo de cerca de um mês até a reunião inicial deverá ser marcado por um intenso debate no Congresso colombiano para regulamentar o marco legal para a paz, proposto por Santos no início de seu governo, como parâmetro para uma possível negociação. Diferenças à parte, políticos da direita e da esquerda concordam sobre a necessidade de evitar os tropeços da experiência conduzida entre 1999 e 2002 pelo então presidente, Andrés Pastrana, que retirou o Exército de uma área de 42 mil km² na região de San Vicente del Caguán, no sul do país.

"Não existe a possibilidade de repetir o Caguán", disse o presidente do Senado, Roy Barreras, do governista Partido de la U, fazendo eco ao ex-presidente Ernesto Samper (1994-1998), do Partido Liberal (oposição). "Não haverá zona desmilitarizada. Não haverá indultos, nem anistias nem leis de ponto final", reforçou Barreras. O também governista Augusto Posada Sánchez, presidente da Câmara dos Deputados, questionou o discurso linha-dura e se disse disposto a ter no plenário o comandante máximo das Farc, Timoleón Jiménez, ou Timochenko. "Sinceramente, acho melhor ter uma pessoa no Congresso do que na montanha, disparando balas e atacando a sociedade civil. Sejamos práticos: se queremos a paz, temos de fazer sacrifícios."

A iniciativa de Santos recebeu as boas-vindas do governo americano, transmitidas pela porta-voz do Departamento de Estado, Victoria Nuland. "Sempre fomos um aliado incondicional da Colômbia, de seu governo e de seu povo ao longo desse conflito", frisou. Também em Washington, o secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA) ofereceu a cooperação do organismo para "avançar na pacificação tão desejada pela sociedade colombiana e pelos países da região". A alta representante da União Europeia (UE) para Política Externa, Catherine Ashton, aplaudiu "calorosamente" o anúncio. "Esperamos que esse acontecimento tão positivo possa marcar o princípio do fim de cinco décadas de conflito."

48 anos Duração do conflito entre o Exército colombiano e as Farc, nascidas em maio de 1964