Valor econômico, v.19, n.4541, 09/07/2018. Opinião, p. A11

 

América Latina e suas infraestruturas

Antonio Silveira 

09/07/2018

 

 

Se perguntarmos aos ministros de Economia dos diversos países da América Latina o que a região deve fazer para tornar-se mais competitiva globalmente, é muito provável que tenhamos a mesma resposta: investir mais e melhor em infraestrutura, corredores logísticos e integração regional e aumentar a produtividade.

A explicação, argumentariam, é que os projetos de infraestrutura têm a capacidade de reduzir os custos de logística e estimular a produtividade entre os países, enquanto desenvolvem cadeias de valor por meio do comércio intrarregional e internacional.

Onde esse consenso começaria a se romper é na priorização dos projetos e na forma de financiá-los. Cada país tem interesses específicos e necessidades próprias de recuperação de investimento para superar seus gargalos de desenvolvimento nacionais, uma vez que, em geral, os esforços nacionais ficaram aquém 5% do PIB estimados para manter os serviços de infraestrutura em linha com os requisitos da atividade econômica.

Diante desse contexto, se quisermos nos tornar uma região economicamente competitiva e socialmente inclusiva, nos próximos anos, teremos de dar um salto evolutivo em nossa compreensão da agenda de infraestrutura de integração regional.

Não se trata apenas de criar infraestruturas e corredores logísticos para ter conexões físicas, mas de serem funcionais e integrarem diferentes áreas de desenvolvimento, como clusters produtivos, eixos de interconexão, travessias de fronteiras, áreas metropolitanas ou portos. Somente assim será possível otimizar sua função e ter um impacto direto na produtividade e competitividade dos países da região.

O Canadá, a Ásia Central e a Europa fizeram progressos significativos neste campo e hoje se concentram na digitalização de corredores por meio de tecnologias disruptivas. Com isso, estão conseguindo, entre outras coisas, reduzir os custos de frete. Na América Latina a situação é diferente. A digitalização dos corredores é limitada, especialmente quando analisamos os corredores plurinacionais, e exemplos na logística de frete limitam-se ao acesso aos portos mais importantes, como Santos, Panamá e Cartagena.

Esta situação reflete a necessidade de maior determinação e coordenação dos atores para gerar uma ação mais coordenada que implique maior impacto sobre a produtividade e competitividade dos países, e que priorize a funcionalidade das infraestruturas.

A região tem um longo caminho a percorrer e deve abordar as necessidades de investimento dessa nova perspectiva. Nos setores de transporte e telecomunicações, por exemplo, investimentos da ordem de US$ 117,8 bilhões serão necessários nos próximos 10 anos.

Por outro lado, na América do Sul, 453 projetos de integração energética, de transporte e de telecomunicações devem ser executados, somando US$ 163,2 bilhões. Além disso, até 2040, estima-se que os setores portuário e aeroportuário exigirão um financiamento combinado de cerca de US$ 100 bilhões.

Em termos de países, de acordo com o Infralatam, em 2015, a Bolívia foi o país da América Latina com maior taxa de investimento em infraestrutura, com 8,4% do PIB, enquanto o Peru investiu 6,9%, a Colômbia, 6,4%; o Panamá, 4,5%; o Chile, 3,1% (em 2014). A Argentina, Uruguai; e Brasil investiram em torno de 1,6% e México 1,4%.

Fica claro que, diante das modestas perspectivas de crescimento dos países da região para os próximos anos, os governos precisam rever suas estratégias de planejamento e gastos, administrar recursos com muito mais eficiência do que na última década e, acima de tudo, priorizar projetos que ofereçam valor agregado, contribuindo para a integração nacional e regional, e que sejam funcionais.

Para abordar detalhadamente essas questões e outras relacionadas à agenda estratégica de desenvolvimento de infraestrutura regional, além de identificar oportunidades de investimento para o setor privado espanhol e para a Europa em geral, a Conferência do CAF sobre Infraestruturas será realizada em Madri, no dia 16 de julho, com a participação de governos, empresários e sociedade civil, para gerar consenso e conciliar políticas setoriais para o desenvolvimento de nossa região.

Historicamente, tem sido dificil construir o consenso necessário para desenvolver grandes projetos de infraestrutura de integração regional. O que todos os atores sabem hoje, no entanto, é que, sem um estoque adequado de infraestrutura, é dificil implementar políticas efetivas de desenvolvimento social ou alcançar taxas de crescimento econômico sustentado. Portanto, na América Latina, a solução é repensar a função da infraestrutura.