Título: Ministros implacáveis com réus ligados ao PT
Autor: Abreu, Diego ; Campos, Ana Maria ; Correia, Karla
Fonte: Correio Braziliense, 31/08/2012, Política, p. 4
Seis dos magistrados indicados por Lula ou Dilma votaram na condenação de João Paulo Cunha
Seis dos nove ministros que votaram pela condenação do deputado federal João Paulo Cunha (PT-SP) fazem parte da era petista. Entre eles, quatro foram nomeados pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e dois pela presidente Dilma Rousseff. A posição dos ministros Cezar Peluso, Ayres Britto, Joaquim Barbosa, Cármen Lúcia, Luiz Fux e Rosa Weber já seria suficiente para mandar o parlamentar à prisão, mesmo sem os votos dos magistrados mais antigos.
Implacável contra os réus na ação penal do mensalão, o relator do caso, Joaquim Barbosa, chegou ao Supremo em 2003, pelas mãos do então presidente Lula. Na época, o petista quis nomear o primeiro ministro negro do STF. Escolheu um integrante do Ministério Público. Hoje, o magistrado é visto como um dos principais adversários do PT. Foi ele o primeiro a afastar a tese de que o esquema do mensalão não passou de caixa dois para o pagamento de dívidas eleitorais.
Na mesma linha, os dois ministros indicados por Dilma — Rosa Weber e Luiz Fux — foram duros. Seguindo o relator, ambos condenaram João Paulo, o ex-diretor de Marketing do Banco do Brasil Henrique Pizzolato (petista que operou um esquema de corrupção no BB), o empresário Marcos Valério e dois ex-sócios. Rosa Weber rechaçou a tese de que os R$ 50 mil sacados pela mulher de João Paulo, Márcia Regina, tiveram origem no PT e foram usados para financiar uma pesquisa pré-eleitoral em Osasco (SP).
Cezar Peluso, Ayres Britto e Joaquim Barbosa, os três primeiros integrantes do Supremo nomeados por Lula, antes de o escândalo do mensalão vir à tona, condenaram cinco dos seis réus julgados até aqui — o único absolvido, inclusive a pedido do órgão acusador, o Ministério Público, foi o ex-ministro da Secretaria de Comunicação Luiz Gushiken.
Já Peluso, que se aposenta hoje, foi menos incisivo em relação às condenações, pois absolveu João Paulo de um dos peculatos e da acusação de lavagem de dinheiro. No entanto, conforme avaliam advogados do caso, fez o voto mais rigoroso, no qual ironizou as desculpas do petista para explicar a origem dos R$ 50 mil e desconstruiu as teses da defesa. "O que estava por trás dessa aproximação e dessa gentileza de Marcos Valério com João Paulo Cunha? Não se tratava de cortesia ou elegância, mas interesse econômico", enfatizou Peluso. "Esse dinheiro não era do PT, partido que estava insolvente", atacou.
Na quarta-feira, após Peluso fazer seu último voto, o ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos lembrou ter participado do processo de escolha do ministro. Hoje, na condição de um dos principais advogados no processo e autor da tese de que o dinheiro recebido por políticos se destinava unicamente ao caixa dois de campanhas, Bastos vê os ministros que ajudou a escolher desconstruírem sua versão.
Também nomeada por Lula, Cármen Lúcia chegou ao Supremo em junho de 2006, depois da denúncia do mensalão. A expectativa de caciques do PT de que ela poderia absolver João Paulo foi por água abaixo. Cármen Lúcia afirmou que houve corrupção e atribuiu os crimes cometidos por acusados no processo à "certeza de impunidade". Os únicos a inocentarem João Paulo de todos os crimes foram Ricardo Lewandowski e Dias Toffoli, ambos indicados por Lula.
Lamentação Com a conclusão da primeira fase do julgamento, ontem, membros da cúpula do PT não escondiam o desapontamento com o placar da votação. "Com tantos ministros indicados pelo Lula e pela Dilma, só dois votaram contra a condenação", disparou um petista. Outro correligionário de João Paulo Cunha lembrou o samba eternizado na voz de Beth Carvalho ao traduzir o sentimento da legenda. "Lembra daquela música? Você pagou com traição/a quem sempre lhe deu a mão? É isso que nós estamos vendo", disse o político.
A assessoria de imprensa do STF divulgou ontem a parte do voto de Peluso que se refere à dosimetria das penas. O ministro corrige a pena de Pizzolato, elevando-a de oito para 12 anos e um mês de prisão em regime fechado. Ao fim da sessão de ontem, Peluso foi novamente homenageado pelo presidente do STF, Ayres Britto. "Saio com a consciência tranquila de dever cumprido", afirmou Peluso.