Valor econômico, v.19, n.4545, 13/07/2018. Especial, p. A10

 

ONG amplia caixa e banca estudantes de baixa renda 

Beth Koike

13/07/2018

 

 

David Peixoto e Ricardo Sales são cearenses, estudaram em bons colégios de Fortaleza, e graduaram-se pela USP e pelo ITA, respectivamente. Em 2011, trabalhavam no banco Credit Suisse, em São Paulo. Estavam satisfeitos com suas carreiras, mas faltava algo.

Os dois se deparavam com histórias de conterrâneos com potencial para seguir uma trilha parecida, mas sem recursos financeiros para bancar uma formação escolar sólida. Decidiram, há sete anos, criar a Primeira Chance, uma ONG que concede bolsas para jovens de baixa renda estudarem em bons colégios.

Darlyane Viana, 21 anos, foi uma das primeiras bolsistas. Ela teve sempre teve um bom desempenho escolar, mas nunca havia passado por sua cabeça tentar uma bolsa de estudo para cursar o ensino médio em colégios privados de Fortaleza porque não teria condições de deixar sua cidade, Maracanaú, e se manter na capital. Nesses sete anos, fez os três anos do ensino médio e agora está no quinto período da graduação de Direito na Unichristus, centro universitário de Fortaleza que obteve nota máxima na classificação do Ministério da Educação (MEC).

Em 2011, quando a ONG foi criada, Peixoto, atual diretor financeiro e vice-presidente de negócios da Arco Educação, e Sales, vice-presidente da gestora de private equity General Atlantic, tiravam recursos do próprio bolso. Com o passar do tempo conseguiram apoio de instituições sem fins lucrativos ligadas a Credit Suisse, General Atlantic, Gol, Accord Contabilidade e Freudenberg Sealing Technologies e ao empresário Beto Studart. No ano passado, a Primeira Chance recebeu R$ 2,3 milhões em doações, um aumento de 53% em relação a 2016.

O apoio da Primeira Chance não se restringe ao pagamento da mensalidade escolar. A bolsa contempla também material didático, alimentação, transporte, moradia e até apoio psicológico para evitar um choque com a realidade dos colegas ricos da nova escola. "Temos uma preocupação enorme com o 'bullying', mas felizmente nunca ocorreu com nossos alunos. Ao contrário, os demais estudantes respeitam e admiram muito os bolsistas porque eles estão lá por mérito", disse Isaac Jucá, presidente da Primeira Chance.

"Nunca sofri preconceito no Ari de Sá, onde fiz o ensino médio, nem no Insper, onde também sou bolsista. As pessoas estão preocupadas com as aulas", disse Wenderson Oliveira que, há sete anos sequer tinha computador em casa. Hoje, Oliveira tem renda para dividir o aluguel de um apartamento em São Paulo e mandar algum dinheiro para os pais que moram em Caucaia, no Ceará.