Valor econômico, v.19, n.4554, 26/07/2018. Brasil, p. A5

 

Bônus demográfico termina com menor alta da população ativa 

Bruno Villas Bôas

26/07/2018

 

 

O Brasil viveu ao longo das últimas décadas o chamado bônus demográfico - o período mais favorável da estrutura etária para o crescimento econômico. Novas projeções populacionais divulgadas ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram, porém, que esse fenômeno demográfico chegou ao fim em 2018, cinco anos mais cedo do que o previsto, segundo avaliação de economistas.

De acordo com o órgão, a população em idade ativa (de 15 a 64 anos) começa neste ano a crescer menos do que a população total (que inclui ainda crianças e idosos). Isso marca o início da trajetória de aumento do grau de dependência econômica de quem gera renda. Na projeção anterior do IBGE, divulgada em 2013, esse ciclo de crescimento da dependência iniciava-se apenas a partir de 2023.

"É verdade que o bônus demográfico termina em 2018, quando é considerado que o crescimento da população em idade ativa é menor do que o crescimento da população total", diz Samuel Pessôa, economista do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas, que tem alertado nos últimos anos para a aproximação do fim do bônus demográfico.

Em 2010, para cada 100 pessoas em idade economicamente ativa havia 47,1 pessoas na faixa etária de dependência. Seguindo a tendências das últimas décadas, a razão de dependência recuou até chegar a 43,9 em 2017. Em 2018, conforme as estimativas do IBGE, o indicador deverá crescer para 44 - o primeiro de uma sequência de 42 anos projetados de crescimento.

Leila Ervatti, analista de Estudos e Análise da Dinâmica Demográfica do IBGE, diz que novas informações disponíveis provocaram as revisões das projeções do órgão para o crescimento da população em idade ativa e do total de idosos. Além de antecipar o fim do bônus, as revisões tornaram a relação de dependência maiores no futuro: o indicador que chegaria a 66 em 2060 deverá, pelas novas estimativas do órgão, estar em 67,2.

José Ronaldo de Castro Souza Júnior, diretor de Estudos e Políticas Macroeconômicas do Instituto de Políticas Econômicas (Ipea), também concluiu que o indicador antecipa o fim do bônus demográfico de 2023 para 2018. Ele acrescenta que isso torna ainda mais premente a reforma da Previdência pelo próximo presidente do país.

"Como a dependência cresce por causa da população idosa, e não da população jovem, existe a tendência de avanço da população aposentada. Isso torna mais relevante e urgente a reforma da Previdência", disse Castro Junior, para quem as novas projeções do IBGE não alteram cenários de curto prazo para a atividade econômica, mas influenciam cenários de mais longo prazo.

O demógrafo José Eustáquio Diniz Alves, professor da Escola Nacional de Ciências Estatísticas (ENCE) do IBGE, diz que o país não voltará a ter um momento demográfico tão favorável pela frente. "A janela demográfica começou a fechar, mas não fechou ainda totalmente. Vai entrar menos luz na economia. A questão é que ela não está sendo aproveitada com o atual nível de desemprego", disse ele.

Com o envelhecimento da população, uma em cada quatro pessoas terá 65 anos ou mais de idade em 2060. Serão 58,2 milhões de idosos, 25,5% da população. Essa proporção está atualmente em 9,2% (19,2 milhões de idosos), conforme a atualização do estudo "Projeção da População", divulgado ontem pelo órgão estatístico federal.

Para Castro Júnior, sem a demografia jogando a favor do crescimento econômico será preciso elevar a escolaridade e aumentar a produtividade, medidas de longo prazo. "São os ganhos possíveis para compensar essa perda quantitativa. A escolaridade torna o trabalhador mais capaz de produzir mais", disse o diretor da área de macroeconomia do Ipea.

O IBGE divulgou ainda que a população deverá começar a diminuir a partir em 2048, após atingir o pico de 233,234 milhões de pessoas. A projeção também atualiza as estimativas de 2013, que previam o início do da queda da população em 2043. A mudança reflete números maiores que o esperado de fecundidade (filhos por mulher) desde 2013.

Segundo o IBGE, o país tem atualmente 208,495 milhões de habitantes. A população seguirá uma trajetória ascendente até o pico de 233,234 milhões em 2047. A partir de então, o número de habitantes começa a decrescer. A projeção é que a população diminua para 228,286 milhões de pessoas em 2060.