Correio braziliense, n. 20371, 28/02/2019. Política, p. 5

 

Esforço para mudar reforma

28/02/2019

 

 

Deputado federal por Pernambuco e integrante da oposição ao governo, João Campos (PSB) afirmou que é inviável a aprovação da reforma da Previdência da forma como o governo a enviou à Câmara. “Nós acreditamos que é preciso discutir uma reforma, mas do jeito que está vai ser difícil passar. Corre o risco mesmo de ser inviabilizada”, frisou, em entrevista ao CB.Poder, programa que é parceria entre a TV Brasília e o Correio Braziliense.

De acordo com o parlamentar, o esforço da oposição será para que a reforma “seja muito modificada e melhorada”. De acordo com ele, até quem está na base do governo vê problemas no texto. “Essa luta não pertence apenas ao partido A, B ou C, mas a quem entende que a reforma não está justa”, emendou ele, filho do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, morto em acidente aéreo em 2014.

Entre os pontos elencados pelo parlamentar como problemáticos estão o fato de a reforma tramitar sem a presença do texto que inclui os militares. “A reforma mexe com todo mundo, com professores, trabalhador rural, servidor público, funcionário da iniciativa privada, menos com militares. Não é justo. Não devia nem sair (o texto) da Secretaria-Geral da Mesa antes de chegar a dos militares”, frisou.

O parlamentar é contra também as modificações na aposentaria do trabalhador rural. “Não dá para aceitar as mudanças propostas, aumentando o tempo de contribuição e a idade mínima, igualando as condições às de trabalhadores dos grandes centros urbanos, de gente que trabalha em escritório com ar-condicionado com quem está cortando cana na zona da mata do meu estado, Pernambuco. Não dá para ter essa equiparação”, reprovou.

Campos destacou também que a reforma tem mecanismos “feitos para confundir a cabeça das pessoas”. Ele citou como exemplo o Benefício de Prestação Continuada (BPC). “Diz que vai baixar de 65 anos para 60 anos (a exigência para conceder o benefício), mas diminui o valor, passa a ser de

R$ 400. E só passa para salário mínimo após os 70 anos. Nestes 10 anos, o trabalhador vai receber 20% a menos. O idoso, que já é vulnerável, mesmo que tenha condições de trabalhar pode ter dificuldade de conseguir vaga no mercado trabalho”, afirmou.

Para ele, a reforma pode não passar na Câmara por culpa do próprio Executivo. “O que a gente tem é um governo inábil. Não sabemos quem são os interlocutores dele no Congresso, quem são as pessoas que falam com legitimidade nessa interlocução. Faltam atores, pessoas capazes de fazer a articulação e a negociação no Congresso. Então, há uma chance de ser inviável (a reforma), por uma incapacidade do governo.”

O deputado classificou a comunicação do governo como muito atrapalhada, com idas e voltas, tirando o foco do que é realmente necessário para o país. “Se é proposital ou não, lançam cortinas de fumaça”. Ele citou como exemplo a determinação do Ministério da Educação de as escolas filmarem estudantes cantando o Hino Nacional. “Isso é uma coisa absurda. Nada contra o Hino, mas a gente tem mais de 2 milhões de jovens que não estão na escola, 11,8 milhões de analfabetos no Brasil, 38 milhões de jovens e adultos analfabetos funcionais. São problemas históricos, mas a gente não vê o governo discutindo isso”, criticou.

Inquérito arquivado

O Ministério Público Federal arquivou, no último dia 19, o inquérito policial que apurava o acidente aéreo que matou o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos e mais seis pessoas, em Santos, em agosto de 2014. Apesar das perícias e diligências realizadas pela Polícia Federal, não foi possível determinar a causa exata da queda da aeronave e definir os responsáveis por eventuais crimes cometidos. Na época, Campos era candidato à Presidência da República e cumpria agenda de campanha viajando do Rio de Janeiro para o Guarujá (SP) quando o avião caiu. Em entrevista ao CB.Poder, João Campos, filho do ex-governador, disse que recebeu a notícia com tristeza, porque a causa da queda não foi identificada. Ele disse que conversará com as famílias das vítimas para saber o que farão, se vão recorrer da decisão.