Título: Líder egípcio irrita sírios
Autor: Seixas, Maria Fernanda
Fonte: Correio Braziliense, 31/08/2012, Mundo, p. 19

A 16ª Cúpula dos Países Não Alinhados, sediada em Teerã com o propósito de debater a guerra civil síria, também foi marcada pelo mal-estar entre Cairo e Damasco. O presidente egípcio, Mohammed Morsy, chamou o ditador Bashar Al-Assad de opressor, o que levou os representantes do regime sírio a abandonarem o local. "Nossa solidariedade com a luta do povo sírio contra um regime opressivo que perdeu sua legitimidade é um dever ético, pois é uma necessidade política e estratégica", declarou Morsy, na primeira visita de um líder egípcio a Teerã desde 1979. Ao mesmo tempo, em Nova York, uma nova reunião do Conselho de Segurança da ONU analisou a situação dos civis presos em meio ao fogo cruzado e anunciou uma ajuda humanitária de mais de US$ 10 milhões.

No Irã, ao retirar-se da sala de reuniões da cúpula, em sinal de protesto, o chefe da diplomacia síria, Walid Muallem, criticou as afirmações do presidente egípcio. Segundo a rede estatal síria, o chanceler classificou o discurso de uma ingerência nos assuntos nacionais e de uma incitação ao prosseguimento do banho de sangue na Síria. O posicionamento de Morsy também incomodou, indiretamente, o Irã —aliado de Al-Assad — e ocorreu no momento em que o Egito se reaproximava da república teocrática islâmica. Ainda ontem, o aiatolá Ali Khamenei, líder supremo do Irã, protestou contra a posição do Conselho de Segurança da ONU, chamando-o de irracional, injusto e totalmente antidemocrático em sua "ditatura declarada contra a Síria".

Impasses A reunião da ONU, em Nova York, enfrentou os mesmos impasses de sempre. Uma vez mais, a Rússia e a China mostraram-se contrárias a sanções severas contra o regime sírio. A ausência de resoluções drásticas e mesmo as doações anunciadas não agradaram os opositores a Al-Assad. Para o ativista sírio Samer Al-Husein, porta-voz oficial da agência de notícias de Sana, baseado em Damasco, o ideal seria que os países que torcem pelo fim do regime ajudassem a oposição com armamentos, pois os rebeldes estão em desvantagem militar. "Eles querem que os revolucionários continuem nessa luta desigual até ficarem exaustos. Aí, sim, entrarão com ajuda, pois, com o povo cansado e fraco, terão mais autonomia para manipular o país depois da queda de Al-Assad. Querem que os sírios se rendam às suas decisões em troca de ajuda", opinou, em entrevista ao Correio.

Na Síria, a violência nas duas principais cidades, Damasco e Aleppo, seguiu com bombardeios aéreos, uso de morteiros e ataques em terra. Rebeldes afirmaram ter derrubado mais um avião do Exército no noroeste do país. Cerca de 100 mortes foram contabilizadas ontem. Sob bombardeios intensos, quase 300 mil sírios se refugiam em países vizinhos. O conflito já deixou mais de 25 mil mortos.