Título: PT joga a toalha
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Correio Braziliense, 30/08/2012, Política, p. 3

Com a condenação no Supremo, petistas consideram inviável a candidatura de João Paulo Cunha a prefeito de Osasco, na Grande São Paulo, e defendem que o deputado desista da disputa

A condenação pela ampla maioria dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) vai sepultar os planos do deputado João Paulo Cunha (PT-SP) de concorrer à prefeitura de Osasco, na Grande São Paulo. Se o anúncio do voto do relator Joaquim Barbosa condenando o petista, na semana passada, já havia provocado um movimento interno no partido para que o ex-presidente da Câmara abrisse mão da disputa, o resultado avassalador de ontem tornou a situação incontornável. "Não tem como, ele pode resistir dois, três dias. Mas o que vamos explicar para os eleitores?", questionou um petista paulista.

A situação na Câmara, contudo, ainda não se torna insustentável. A Constituição prevê que parlamentares condenados "com trânsito em julgado" perdem seus direitos políticos. Isso significa que o mandato de deputado de João Paulo só estará em risco após a publicação do acórdão pelo STF e o esgotamento de todos os recursos por parte da defesa, o que só deve ocorrer no ano que vem.

Após isso, a decisão é encaminhada à Câmara. A Mesa Diretora da Casa remete o processo à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Após o parecer, o pedido de cassação ainda precisa ser votado pelo plenário da Câmara para referendar-se a perda do mandato. Algum partido pode antecipar-se a esse processo e pedir a cassação de João Paulo por quebra do decoro parlamentar. Mas, nesse caso, o processo seguiria os trâmites normais, com análise pelo Conselho de Ética e votação posterior em plenário.

Mas o pesadelo de João Paulo está concentrado em Osasco. Ele desprezou conselhos anteriores de caciques da legenda para não se candidatar à prefeitura, como também não ouvira os apelos, no ano passado, para não apresentar seu nome à presidência da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara. "Não se trata de saber quem, agora, colocará o guizo no pescoço do gato. Com um resultado desses, o guizo vai andar sozinho", disse um petista ao Correio.

Desafeto João Paulo tem força interna no partido e é um nome politicamente poderoso no município paulista. Mas quem foi eleito prefeito por duas vezes é um dos seus principais desafetos, Emídio de Souza, que também planeja governar São Paulo, como João Paulo um dia sonhou e está na fila de espera apostando na "renovação dos quadros no PT paulista".

Emídio nunca escondeu o incômodo por ver João Paulo planejando sucedê-lo na prefeitura. Influente no diretório municipal, convenceu o partido a formar uma chapa puro-sangue, indicando o nome de Jorge Lapas para a vaga de vice. Ele não é totalmente desconhecido em Osasco. Foi secretário de governo de Emídio e aumenta a pressão para que se torne o candidato do PT.

O ex-prefeito ainda tem outro aliado para tentar articular a saída de João Paulo Cunha. Emídio é próximo do atual presidente do diretório estadual do PT em São Paulo, Edinho Silva. Na semana passada, após encontro com Lula em São Paulo, Edinho já havia sido obrigado a responder que não existia um plano B para Osasco, o plano A era João Paulo. "O PT não vai fazer esse processo de fritura pública. João Paulo é um quadro importante da legenda. Mas as pressões internas pela renúncia já começaram. Especialmente porque as pesquisas não dão garantias de que ele vencerá as eleições de outubro", confidenciou um parlamentar do PT com destaque no cenário nacional.

Aliados de João Paulo Cunha ainda tentam agarrar-se a um naco de esperança. Afirmam que o acórdão do julgamento só será publicado no ano que vem. Após isso, ainda abre-se o prazo para recursos dos advogados, o que pode estender a condenação definitiva para meados de 2014. "João Paulo será eleito e em 2014 vemos o que acontece", declarou ao Correio um aliado do ex-presidente da Câmara.