Título: Fracassa manobra para ligar Serra a desvios
Autor: Valadares, João
Fonte: Correio Braziliense, 30/08/2012, Política, p. 6

Ex-diretor da Dersa nega ter sumido com dinheiro da campanha tucana à Presidência em 2010 e frustra petistas que esperavam reverter a má repercussão do depoimento de Pagot

A bomba armada pelos governistas na CPI do Cachoeira a partir do depoimento prestado ontem pelo engenheiro Paulo Vieira de Souza, ex-diretor da estatal paulista Dersa, não explodiu. A frustração, principalmente dos parlamentares petistas que integram a comissão, era visível. Contrariando as expectativas dos governistas, o engenheiro não atacou o candidato tucano à prefeitura de São Paulo, José Serra (PSDB). O ex-diretor da empresa pública responsável pelas obras rodoviárias do governo de São Paulo negou de maneira contundente - e até bem-humorada - ter participado de qualquer esquema de arrecadação para a campanha presidencial de Serra, em 2010.

No início do depoimento, perguntado sobre como gostaria de ser chamado, Paulo Vieira de Souza respondeu que "Paulo Preto" é um apelido pejorativo que inventaram para um personagem que não existe. "Eu não sei quem é Paulo Preto."

O depoente informou que move 16 processos criminais por danos morais contra pessoas físicas e veículos de imprensa que o acusaram de ter sumido com R$ 4 milhões, dinheiro que teria sido arrecadado para o PSDB. A informação, inclusive, foi usada pela presidente Dilma Rousseff, no debate eleitoral com Serra.

"Fui acusado de fugir, de roubar R$ 4 milhões. Eu conheço todas as grandes empresas deste país. Nunca vi nenhum empresário fazer, oficialmente, alguma contribuição para campanha sem consultar diretamente quem é de direito. Mas eu, Paulo Souza, pedi quatro milhões como se fosse nada? Já trouxe meu sigilo bancário. Não tenho medo de absolutamente nada. Eu queria saber quem é o meu inimigo. Eu não consigo saber. Eu queria que um empresário deste país viesse aqui e dissesse que me deu dinheiro", desabafou diante dos deputados.

Na terça-feira, o ex-diretor do Departamento de Infraestrutura de Transportes (Dnit) Luiz Antônio Pagot informou à CPI que a declaração dada por ele a uma revista — indicando que os aditivos contratuais assinados com a Construtora Delta na obra da Marginal do Tietê, em São Paulo, tinham o objetivo de financiar as campanhas de Geraldo Alckmin (à reeleição) e de José Serra, em 2010 - era "apenas uma conversa de bêbado." Questionado sobre a declaração de Pagot, Paulo Souza arrancou risos dos parlamentares. "Eu sou um triatleta. Eu não bebo nem vinho. Eu sou um ironman (competidor de provas longas de triatlo). É mais difícil do que vir à CPI", respondeu.

Líder ferido Ele confirmou que houve aditamento de 24,9% nos dois lotes da obra da Marginal do Tietê, tocados pela Delta. "O percentual permitido pela lei é 25%", disse. Também informou que esteve com Fernando Cavendish, dono da empreiteira0, pelo menos duas vezes: "Uma, se apresentando, e outra para dizer que cumpriria o contrato, como cumpriu".

No final do depoimento, Souza mandou um recado aos críticos: "Recebi ingratidão de pessoas que nunca me viram, que nunca me cumprimentaram. E, a mim, simplesmente restava um clamor. O Senado e a Câmara estão dando a um líder ferido o direito de comprovar. Não saio daqui sem apresentar todos os documentos para provar o que eu disser. Eu pedi a Deus para ser convocado pela CPI. Acho que os incompetentes devem continuar com medo de mim", declarou.

O senador Randolfe Rodrigues (PSol-AP) aproveitou o depoimento para informar que a Polícia Federal encontrou uma procuração na casa de Andressa Mendonça, mulher do bicheiro Carlinhos Cachoeira, tendo como como outorgante a empresa Mestra Administração e Participações. A Mestra foi a empresa que comprou a casa do governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB). O documento é mais um indício de que o contraventor teria sido o real comprador da casa do governador. Perillo nega que o imóvel foi adquirido pelo bicheiro, que está preso na Penitenciária da Papuda.

Cachoeira fica em silêncio Escoltado por agentes armados, o bicheiro Carlinhos Cachoeira chegou algemado ao Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT) para prestar depoimento à 5ª Vara Criminal. Abatido, ele disse ao juiz Fernando Alves de Medeiros, de acordo com relato do advogado Nabor Bulhões, que as acusações contra ele são "absolutamente improcedentes" e que as provas estão sendo questionadas em instâncias superiores. Cachoeira é acusado de comandar uma tentativa de fraude na licitação do sistema de bilhetagem eletrônica do transporte público do DF. Depois de negar a denúncia, ele se calou. Ao final da audiência, o juiz permitiu que Carlinhos Cachoeira se encontrasse com parentes por cerca de 10 minutos, sem contato físico, antes de retornar à Papuda.