Correio braziliense, n. 20388, 17/03/2019. Política, p. 3

 

Alvo é o comércio exterior

Rosana Hessel

Claudia Dianni

17/03/2019

 

 

Relações exteriores » Um dos principais trabalhos da comitiva brasileira nos Estados Unidos será tentar aumentar as exportações e criar um caminho mais do que amigável para o futuro. Um dos assuntos a serem debatidos será o setor agrícola do país

O volume e a qualidade da pauta comercial explicam a importância estratégica da parceria entre Brasil e Estados Unidos. O país norte-americano é o segundo maior destino de produtos nacionais, atrás apenas da China — mas os itens comprados pelos americanos têm mais valor agregado do que os comprados pelos chineses, que importam predominantemente commodities do país. Mais de 60% das exportações brasileiras direcionadas aos EUA são de produtos manufaturados. Se somados os semimanufaturados, o percentual sobe para mais 80%.

No acumulado de janeiro e fevereiro, esses percentuais ficaram em 66,4% e 20%, respectivamente, com superavit de R$ 100 milhões para o Brasil. Em 2018, o Brasil registrou um deficit de US$ 193 milhões com o parceiro, embora as vendas brasileiras tenham crescido 10,2%, para US$ 239 bilhões, em comparação com o ano anterior. Atualmente, os EUA respondem por 12% das exportações nacionais, mas, em 2000, essa fatia era mais do que o dobro — 25%.

Com objetivo de aumentar o número e atrair investimentos para o país, amanhã, o presidente Jair Bolsonaro participa de um evento da Câmara de Comércio norte-americana, que vai divulgar o relatório “Brasil e Estados Unidos: Um Mapa para o Acordo Comercial”. O documento descreve as possíveis etapas para um acordo de livre comércio entre os dois países. Ele foi elaborado em parceria com a Confederação Nacional da Indústria (CNI) e será divulgado durante o Brazil Day in Washington, encontro de empresários e autoridades das duas nações na capital americana. “Nossa expectativa é que se faça um bom programa de trabalho, com objetivos de curto, médio e longo prazos, para que esse relacionamento, de fato, ganhe outra dimensão”, diz Deborah Vieitas, CEO da Amcham Brasil, que acompanha a comitiva brasileira como representante do setor privado.

Os EUA estão entre os maiores investidores estrangeiros diretos no Brasil. Conforme o último relatório do Banco Central, com base em dados de 2016, o estoque de investimentos norte-americanos, de US$ 86,9 bilhões, é o segundo maior do país. Contudo, pelas estimativas do Itamaraty, atualmente, os norte-americanos devem estar em primeiro lugar, ultrapassando a Holanda, que estima um estoque de mais de US$ 103 bilhões.

Reformas

Na avaliação de especialistas, se o novo governo conseguir avançar nas reformas, principalmente a tributária, e aumentar a produtividade, o país será mais competitivo. Assim, ampliará as exportações para os EUA, que são um dos mercados mais exigentes do mundo e os maiores importadores globais. Compram nada menos que US$ 2,4 trilhões, enquanto suas exportações somam US$ 1,5 trilhão, conforme os dados da Organização Mundial do Comércio (OMC).

“Todo mundo quer exportar para os Estados Unidos, sem contar que conquistar uma fatia desse mercado é uma espécie de certificado de qualidade para outros mercados”, afirma o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro. “O mercado norte-americano já é bastante aberto, mas há algumas imposições de barreiras não tarifárias, como exigências sanitárias e fitossanitárias, restritivas ou discriminatórias, como é o caso da carne bovina e do açúcar. Os produtores brasileiros não conseguem entrar, mesmo produzindo e vendendo a um custo bem mais barato do que o dos americanos”, explica o embaixador José Augusto Graça Lima, conselheiro do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri). Para ele, alguns dos temas que devem entrar na conversa são um acordo bilateral na área agrícola, a busca de investidores para obras de infraestrutura e a reforma da Organização Mundial de Comércio (OMC).

O especialista em comércio exterior Welber Barral, sócio da BMJ Consultoria, também acredita que essa primeira visita de Bolsonaro aos EUA deve permitir um estreitamento nas relações, com potencial de alavancar negócios no futuro. “É importante que as autoridades saiam dessa reunião ampliada com uma agenda de trabalho para um próximo encontro, que dependerá da habilidade de negociação dos ministros que acompanham o presidente nessa viagem. O importante é abrir espaço para um bom relacionamento, principalmente, em temas sensíveis, como a agricultura”, avalia.

Frase

“Todo mundo quer exportar para os Estados Unidos, sem contar que conquistar uma fatia desse mercado é uma espécie de certificado de qualidade para outros mercados”

José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil