Valor econômico, v.19, n.4552, 24/07/2018. Agronegócios, p. B10

 

Exportação de soja deverá superar US$ 30 BI

Kauanna Navarro

Fernando Lopes

24/07/2018

 

 

A forte demanda da China pela soja produzida no Brasil, que este ano está acima do normal graças às cotoveladas comerciais trocadas por Pequim e Washington, rende frutos cada vez mais polpudos para as exportações brasileiras do grão - sobretudo às tradings responsáveis por essas negociações, que dessa forma tentam compensar parte da alta dos fretes rodoviários no país.

Em projeções divulgadas ontem, a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) novamente elevou sua estimativa para os embarques da matéria-prima em 2018. A entidade passou a calcular as vendas ao exterior em 73,5 milhões de toneladas, 1,4 milhão a mais que o previsto no fim de maio e volume, recorde, quase 8% superior ao de 2017.

O ajuste fez com que a Abiove reduzisse de 5 milhões para 3,9 milhões sua estimativa para os estoques finais do grão no país na safra 2017/18, cuja colheita já terminou - em 2016/17, foram 5,3 milhões. E a redução poderia ter sido maior, não fosse um leve ajuste para cima na projeção da associação para a produção nacional de soja em 2017/18 - de 300 mil toneladas, para 118,7 milhões, ante as 113,8 milhões registradas em 2016/17.

Com a correção efetuada no volume de exportações, e levando-se em conta que a projeção para o preço médio de vendas permaneceu em US$ 410 por tonelada, a Abiove passou a prever a receita com os embarques em 2018 em US$ 30,135 bilhões, um novo recorde 17,2% superior ao valor obtido no ano passado. Somando-se farelo e óleo, a entidade passou a estimar a receita de todo o "complexo soja" (grão, farelo e óleo) em US$ 37,5 bilhões neste ano, 18,3% a mais que em 2017 e também um novo recorde histórico.

Segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex/Mdic), o "complexo soja" lidera as exportações brasileiras do agronegócio, setor no qual é o carro-chefe, e é um dos principais itens da balança comercial do país em geral. Brasil e EUA dominam as exportações mundiais da oleaginosa, enquanto a China responde pela maior parte da importação do produto.

Além de resultar em um maior volume de exportação de soja brasileira, a briga entre EUA e China está tornando essas vendas mais rentáveis, já que os prêmios pagos pelo grão nos portos do país em relação às cotações em Chicago estão em níveis poucas vezes registrados. Para algumas cargas já superam US$ 2 o bushel (medida equivalente a 27,2 quilos) em Paranaguá (PR), sendo que os contratos para novembro fecharam ontem a US$ 8,6275 por bushel na bolsa americana.

Apesar de ser uma boa notícia para tradings e produtores do Brasil, uma alta excessiva poderá deixar a soja brasileira com destino ao mercado chinês mais cara que a dos EUA, mesmo com a sobretaxa de 25% imposta por Pequim ao produto americano. Atualmente, a tonelada da soja destinada à China sai por US$ 413 a tonelada no Golfo do México, considerando a sobretaxa de 25%, enquanto em Paranaguá o valor alcança US$ 390.

"Calculo que US$ 2,80 seria um limite para o nosso prêmio, pensando na competitividade do grão americano para a China", disse Luiz Fernando Gutierrez Roque, analista da consultoria Safras & Mercado. Nesta mesma época do ano passado, em Paranaguá o prêmio pela soja estava em US$ 0,74. "E já era um patamar muito bom para o período", afirmou Evandro de Oliveira, também da Safras.

Oliveira lembrou, porém, que a Argentina não tem oferta para atender à demanda adicional de soja da China e que por isso a tendência é que o país asiático continue a recorrer mais ao Brasil, que já vinha sendo seu principal fornecedor. "O problema é que a soja do Brasil, nessas condições, acaba sendo menos competitiva que a americana em outros mercados fora da China", ponderou Adriano Gomes, da consultoria AgRural.

Já se fala no mercado que, a depender do aumento da demanda chinesa, é possível que as tradings decidam importar o grão dos EUA - cujas exportações especialmente para outros mercados continuam firmes - para cobrir a demanda no Brasil e liberem mais volumes para atender ao consumo do país asiático. "É um cenário que está sendo considerado. Devemos ver um aumento de importações, mas nada alarmante", afirmou Roque, da Safras. No ano passado as importações brasileiras de soja chegaram a 300 mil toneladas.

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Boas perspectivas para o campo na próxima década

Luiz Henrique Mendes

Kauanna Navarro

24/07/2018

 

 

A produção agrícola brasileira e as exportações de grãos e carnes do país deverão registrar forte crescimento ao longo dos próximos dez anos, afirmou ontem o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, durante a abertura do Global Agribusiness Forum, evento em São Paulo organizado pela consultoria Datagro.

A afirmação se baseia nas mais recentes projeções do Ministério da Agricultura. Considerando as perspectivas traçadas pela Pasta, a colheita de grãos do país alcançará 302 milhões de toneladas na safra 2027/28, 30% mais que em 2017/18 (233 milhões de toneladas). Para a produção de carnes, o aumento previsto é de 27%, para 35 milhões de toneladas em 2028.

No caso das exportações, os incrementos projetados entre 2017/18 e 2027/28 são ainda mais expressivos. Para os embarques de grãos em geral, chegam a 36,3%, para 139 milhões de toneladas; para os de carnes, a alta esperada é de 35,4%, para 8,8 milhões. O Brasil é o maior exportador mundial de soja e das carnes de frango e bovina.

Segundo o ministro, esse aumento da produção de grãos será possível sem que, por isso, o setor tenha que promover qualquer tipo de desmatamento ilegal. Blairo afirmou que a maior parte da expansão da produção de grãos, por exemplo, deverá acontecer em áreas atualmente ocupadas por pastagens, um movimento que já vem ocorrendo nos últimos anos. Do outro lado, a oferta de carnes cresce em decorrência do aumento da produtividade do segmento.

O objetivo declarado do Ministério da Agricultura é ampliar a participação do Brasil no comércio global de produtos agrícolas de 7% para 10% até 2022. Para isso, no entanto, o Brasil terá de superar as diversas barreiras comerciais e sanitárias que atingem o país. Desde a Operação Carne Fraca, em 2017, os exportadores de carnes vêm sofrendo restrições em mercados relevantes como Rússia, União Europeia e China.

Para reverter ao menos parte das barreiras, o ministério e os exportadores contam com a influência do presidente Michel Temer. A partir de quarta-feira, acontece a Cúpula dos Brics, em Joanesburgo, na África do Sul. O encontro terá a presença dos chefes dos países do grupo. "É a semana em que o presidente vai entrar em campo", ressaltou o presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), o ex-ministro da Agricultura Francisco Turra, durante entrevista às margens do fórum.

A expectativa é que Temer se reúna com o líder chinês, Xi Jinping, e com o presidente da Rússia, Vladimir Putin, para buscar uma saída política para o embargo russo às carnes suína e bovina do Brasil e para as tarifas antidumping da China à carne de frango. O embargo russo foi decretado em novembro de 2017, e a sobretaxa chinesa entrou em vigor mês passado.

No caso da Rússia, não será a primeira tentativa de Temer. Segundo Blairo Maggi, o presidente brasileiro chegou a ligar a Putin pedindo o fim da barreira, mas não houve resultados práticos.

No mês passado, durante reuniões preparatórias para a Cúpula dos Brics, Blairo conversou com o vice-ministro da Agricultura da Rússia sobre o tema. "Havia algumas desinformações entre nós", admitiu. Nesse cenário, uma nova rodada de negociações técnicas entre os governos brasileiros e russo teve início. Hoje, técnicos do Ministério da Agricultura estarão em Moscou para discutir o tema. Se chegarem a um acordo, restaria a questão política, que poderia ser resolvida na África do Sul.