Título: Governo critica falha de líderes
Autor: Braga, Juliana
Fonte: Correio Braziliense, 01/09/2012, Política, p. 5

O polêmico acordo que viabilizou a aprovação da medida provisória do Código Florestal na comissão mista do Congresso, e o bilhete de Dilma Rousseff às ministras Ideli Salvatti, de Relações Institucionais, e Izabella Teixeira, do Meio Ambiente, serviram para colocar ainda mais lenha na fogueira das relações entre os parlamentares da base e o Palácio do Planalto.

Com a bronca da presidente ao ver um acordo fechado sem o seu conhecimento, integrantes do governo fizeram de tudo para jogar a responsabilidade no colo dos parlamentares. A interlocutora do Planalto com o Congresso, Ideli Salvatti, apressou-se em salvar a própria pele e negou ter participado das últimas conversas. Dilma comprou a versão. "O governo está aberto a negociações, mas não assume responsabilidade por aquilo que não é discutido conosco", declarou em discurso, na quinta-feira, em clara referência ao mal-estar criado no Congresso. Sobrou, então, para os líderes governistas.

Nos bastidores, o Planalto passou a questionar a possível omissão, principalmente, dos líderes do governo no Senado, Eduardo Braga (PMDB-AC), no Congresso, senador José Pimentel (PT-CE), e na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP).

Do outro lado da Esplanada, diversos parlamentares que participaram das negociações que viabilizaram o acordo em torno do Código Florestal criticaram a ausência do governo nas conversas. Entre segunda-feira e terça-feira, alguns integrantes da comissão mista foram chamados para reuniões com os ministros Gleisi Hoffmann (Casa Civil), Mendes Ribeiro (Agricultura), Izabella e Ideli. Depois disso, apenas assessores da Secretaria de Relações Institucionais voltaram a falar com o grupo. "O governo, na verdade, falhou desde o início por indicar uma maioria ruralista para a comissão, por não se envolver o suficiente no processo e por não ter conseguido mobilizar a base nem passar a ela quais eram os limites da negociação", analisa um integrante da comissão aliado do governo.

Eduardo Braga e o vice-líder do governo no Senado, Gim Argello (PTB-DF), também foram alvo de críticas dos próprios colegas, por não aparecerem nas rodadas de negociações. Na quarta-feira, Braga ainda menosprezou a possibilidade de a MP ser votada. "Se sair um acordo será um milagre e a prova maior de que Deus existe", ironizou. José Pimentel, por sua vez, presenciou toda a sessão que culminou no consenso, mas apenas como ouvinte. "O fato de ele não ter se manifestado é, justamente, a prova de que o governo não interferiu", comentou Jorge Viana (PT-AC). Já os ruralistas interpretaram de outra forma. "O silêncio de Pimentel ali, para mim, significou que ele estava abençoando o que acontecia, teria recebido orientações e confiou na atuação dos que entendiam mais do assunto", argumentou o presidente da Frente Parlamentar Agropecuária, deputado Homero Pereira (PSD-MT).

Com o silêncio de Pimentel e a ausência dos demais líderes governistas, quem assumiu a articulação foram os senadores Luiz Henrique (PMDB-SC) e Jorge Viana. "Eles são da base e os ministros, certamente, estavam acompanhando tudo pela TV, se quisessem reclamar durante a sessão, teriam feito isso, e não esperar serem consultados", comentou Homero. Uma liderança governista diz esperar que a presidente Dilma convoque os principais representantes da base aliada para acertar os ponteiros no início da semana que vem. A expectativa, entre os integrantes da base aliada, é que o Planalto perceba que o acordo foi o melhor que poderia ocorrer naquele cenário de impasse.

"Não entendo essa celeuma do governo porque não houve vencidos ou vencedores, houve uma vitória do bom-senso" Deputado Homero Pereira (PSD-MT), Presidente da Frente Parlamentar Agropecuária