Correio braziliense, n. 20381, 10/03/2019. Política, p. 4

 

Tucanos focam na Previdência

Hamilton Ferrari

10/03/2019

 

 

Poder » Parlamentares da legenda se reúnem esta semana com especialistas para tratar sobre a reforma. Integrantes do partido descartam a possibilidade de aprovar o texto com benefícios menores do que um salário mínimo aos segurados

Com 29 deputados e oito senadores, a bancada do PSDB se reunirá pela segunda vez em Brasília para tratar sobre a reforma da Previdência. O encontro dos parlamentares da legenda será na próxima quarta, 13, com especialistas no tema. Para integrantes do partido, é descartada a possibilidade de aprovação do texto permitindo que os benefícios previdenciários sejam menores do que um salário mínimo. Outros pontos ainda não consensuais, porém, devem pautar a discussão, como idade mínima e tempo de transição.

A primeira reunião ocorreu com o secretário de Previdência e Trabalho, Rogério Marinho, que, na última legislatura, foi deputado pelo PSDB. Na época, o encontro foi tomado pela discussão sobre o Benefício de Prestação Continuada (BPC) para quem tem entre 60 e 69 anos. Na proposta, a reforma estabelece que os idosos em situação de pobreza dessa faixa etária recebam um valor de R$ 400. O assunto desagradou à maioria dos deputados e senadores da legenda.

“Isso já é uma questão consolidada no partido de que não devemos mexer nas regras atuais deste ponto”, ressalta o deputado federal Samuel Moreira. Segundo ele, apesar de ser o segundo encontro, os parlamentares ainda estão tomando pé das discussões. “É uma reunião que está aberta. Especialistas vão estar lá para explicar os temas de forma detalhada, mas não temos nada consolidado”, completa.

Os economistas Paulo Tafner, Roberto Brant e Felipe Salto ficarão encarregados de explicar aos parlamentares os principais pontos. Historicamente, o partido tem se posicionado favoravelmente à reforma da Previdência, mas integrantes da legenda avaliam a proposta como dura demais.

A equipe econômica tem intenção de economizar mais de R$ 1,1 trilhão em 10 anos. Entre os analistas do mercado financeiro, porém, o feito é quase que impossível, já que a proposta deve ser desidratada. O deputado federal Eduardo Barbosa (PSDB-MG) destaca que, passada a questão do BPC, os parlamentares devem se focar em outros temas.

“Nós vamos avançar devagarinho, porque ainda precisamos entrar em detalhes que, às vezes, não são discutidos. Geralmente, ficamos naqueles pontos que a população mais fica atraída, como idade mínima e transição”, diz. “E, de fato, há muitas questões que nós precisamos entender como vai ser. A idade mínima é o ponto que menos pega no PSDB. A transição já gera mais discussões. São quatro ou cinco possibilidades de transição, com servidores, professores, Regime Geral e outros. Acho que pode ser algo que vai embolando, e nós precisamos ficar por dentro desse detalhamento”, avalia Barbosa.

Apoio

O PSDB é um partido importante para o governo federal conseguir a aprovação da reforma. O tucano Eduardo Cury (SP) é um dos cotados para assumir a relatoria da proposta na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). As negociações estão sendo feitas com o presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), que se reuniu, na manhã de ontem, com o presidente Jair Bolsonaro no Palácio da Alvorada.

O encontro, que durou cerca de 60 minutos, foi realizado para o presidente, e ex-deputado federal, sentir qual o real apoio dos parlamentares, que hoje não aprovariam o texto. Apesar de vários defenderem a reforma, as concessões do Planalto são vistas como algo necessário. A articulação governista terá que entrar de forma mais incisiva nas negociações com os deputados.

Bolsonaro aguarda o início dos trabalhos da CCJ, que será a primeira parada da proposta, mas que sequer foi composta pelos partidos. O presidente pediu para Rodrigo Maia atuar entre as siglas para a indicação de nomes pró-reforma. Parte dos deputados selecionados deve ser anunciada amanhã, na véspera da instalação da CCJ.