Correio braziliense, n. 20380, 09/03/2019. Política, p. 2

 

Comunicação, a chave da reforma

Rodolfo Costa

19/08/2019

 

 

O governo está preparando o arsenal para lutar a guerra da Previdência. Com a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara prestes a ser instalada, na próxima terça-feira, a Presidência da República trabalha uma comunicação integrada capaz de construir uma narrativa eficaz para convencer a população da necessidade da atualização das regras de aposentadoria. A ideia é manter as redes sociais em foco, mas também intensificar a disponibilidade de informações por meio da televisão, rádio e dos jornais. O slogan já pode ser visto: “Nova Previdência. É para todos. É melhor para o Brasil”.
A estratégia de comunicação será capitaneada pelo presidente Jair Bolsonaro. Ele será o “garoto-propaganda” da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) encaminhada ao Congresso. A avaliação de estrategistas, ministros e assessores do Palácio do Planalto é de que será preciso construir uma boa narrativa para evitar a fúria da população. Afinal, as armas da oposição são voltadas para desconstruir a imagem de que a reforma seja boa para o cidadão mais pobre. O governo atuará justamente no ponto nevrálgico da boa informação, em como construir uma retórica que penetre até nos municípios mais pobres.
O governo não se ilude com a ideia de conseguir um amplo apoio da população. Pessoas próximas ao presidente explicam que a meta é fazer com que a sociedade, no mínimo, entenda a urgência. O próprio Bolsonaro usa, metaforicamente, o contexto de que o ajuste nas regras de aposentadoria é um remédio amargo, mas necessário. Algo nos moldes do que o ex-presidente Michel Temer dizia. “É uma medida amarga, mas é uma resposta que temos que dar, de uma política sem muita responsabilidade que foi feita ao longo dos últimos anos. E tem que dar um freio de arrumação agora. Até os militares vão entrar com sua cota de sacrifício nessa reforma”, declarou, ontem, o pesselista.
A equipe de comunicação do Planalto estuda ainda a calibragem certa sobre a melhor forma de trabalhar a imagem da reforma para todas as camadas. Os meios para transmitir a mensagem, entretanto, já estão definidos. As camadas mais humildes serão informadas pela televisão e, sobretudo, pelo rádio, por entender que é o meio mais eficaz de comunicação com esse público, explicou o porta-voz da Presidência da República, Otávio Rêgo Barros.
Redes integradas
As redes sociais continuarão sendo o carro-chefe na divulgação, mas em um contexto mais amplo e integrado. “Vamos usar as mídias sociais integradas do Planalto com disponibilidade dos nossos stakeholders a fim de aclarar a sociedade”, destacou Barros. “A partir de agora, por decisão do nosso presidente, precisará ser acelerado, a fim de que a sociedade em todos os níveis possa compreendê-la na plenitude e enxergar que, apenas havendo a confirmação dessa Previdência, teremos futuro para nosso país”, declarou. O próprio Bolsonaro afirmou que tem pressa na aprovação. “Não pode levar um ano para aprovar uma reforma”, disse.
O presidente será o “garoto-propaganda” da reforma no que lhe “couber assumir a liderança”, explicou Barros. Entretanto, não está descartada a possibilidade de que outros atores do governo trabalhem na comunicação. Como o próprio ministro da Economia, Paulo Guedes. Ontem mesmo, no Twitter de Bolsonaro, o presidente publicou um vídeo em que o chefe da equipe econômica declara que o governo vai garantir as aposentadorias, reduzir as desigualdades e remover os privilégios.
Junto ao vídeo, Bolsonaro declarou que, com a reforma, o governo terá condições de estabilizar as contas públicas, potencializar investimentos e enxugar ainda mais a máquina pública. “Reduzindo nossas estatais e possibilitando muitos outros projetos. Os estudos estão sempre avançando!”, comentou. Em outro tuíte, Bolsonaro postou um vídeo feito pelo deputado Vinicius Poit (Novo-SP), que classifica como fake news informações ditas sobre a Previdência.
Tutela
Na nova etapa de comunicação do governo também está prevista a tutela das redes sociais do próprio Bolsonaro. Foram feitas, inclusive, adaptações em um decreto que autoriza assessores da Presidência a cuidar das mídias sociais institucionais e pessoais do presidente. A definição de quem será o líder do processo, no entanto, ainda está sendo amadurecida. O objetivo é dar unidade e foco à comunicação, evitando novas polêmicas, como a de terça-feira, quando Bolsonaro postou um vídeo controverso no Twitter.
As munições para vencer a guerra da Previdência não contemplam apenas a comunicação. Estão divididas em outros dois segmentos: a batalha da articulação política e do convencimento econômico. O ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, atua na primeira frente, enquanto o ministro da Economia, Paulo Guedes, cuida do segundo pelotão. Líderes partidários, entretanto, criticam o trabalho feito pelo interlocutor político, a ponto de o chefe da equipe econômica estar dando as cartas (leia mais na página 3) na Esplanada dos Ministérios.
A comunicação com a sociedade deve ser um dos caminhos para aprovar a reforma, alerta o deputado José Nelto (Podemos-GO), líder da legenda na Câmara. É preciso, também, que a articulação política se certifique de garantir que os ministros de Estado atendam os parlamentares. “O governo não tem interlocutores ainda. Tem que saber quem é. A batalha da articulação política e dos votos deve ser feita naturalmente, como no dia a dia do cidadão, e não deixar nas costas do Guedes. A missão dele é explicar bem a Previdência, mostrar o tamanho do rombo e fechar os dutos da roubalheira no INSS”, ponderou.

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Ministro trabalha sob pressão

 

 

 

09/03/2019

 

 

 

A permanência do ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, está por um fio. Suspeito de liberar verbas públicas para candidaturas laranjas, em Minas Gerais, quando era presidente do diretório estadual do PSL, o auxiliar sofre forte pressão dentro do governo e entre correligionários no Congresso. A fritura é escaldante e só o presidente Jair Bolsonaro ainda o mantém na pasta. No entanto, o próprio chefe do Palácio do Planalto foi evasivo e sequer cogitou defendê-lo. Limitou-se a dizer para que deixem as “investigações continuarem”.
O tombo de Álvaro Antônio é uma questão de tempo dentro da bancada do PSL na Câmara e no Senado. Nesta semana, Zuleide Oliveira, filiada do PSL, acusou o ministro de convidá-la para ser candidata nas eleições em 2018. Entretanto, a candidatura teria sido organizada para que ela pudesse devolver os recursos ao partido. Em entrevista ao Jornal Nacional na quinta-feira, disse que, no ano passado, recebeu R$ 60 mil do fundo partidário para tocar a campanha. Desse montante, foi alertada que precisaria devolver R$ 45 mil.
As declarações, dadas em horário nobre e em rede nacional, enfureceram parlamentares no Congresso. “Não tem como permanecer. Pelo bem da imagem do governo, ou o presidente o exonera ou ele deixa o ministério”, ponderou um deputado do PSL. O coro é endossado pela deputada estadual Janaína Paschoal (PSL-SP). “Entendo que ele já deveria ter sido afastado. O ministro tem todo direito de se defender, mas a manutenção dele no ministério está comprometendo todo o governo”, disse ao jornal Estado de São Paulo.
O ministro, por ora, tenta se defender como pode. As acusações de Zuleide foram negadas por Álvaro Antônio. Para ele, ela mente “descaradamente”. O ministro chegou a cogitar a ideia de pedir transferência do processo da Justiça de Minas Gerais para o Supremo Tribunal Federal (STF), alegando o foro privilegiado, uma vez que os supostos crimes teriam sido cometidos no exercício do mandato de deputado federal e em razão de atividade parlamentar. Entretanto, desistiu do recurso protocolado pela defesa na Suprema Corte.
O caso está sob investigação da Polícia Federal e do Ministério Público. Outras quatro candidatas do PSL em Minas Gerais também estão sob investigação pelas autoridades por suspeita de candidatura fantasma. A denúncia é de que o dinheiro enviado às candidatas tenha sido devolvido a assessores do ministro. (RC)