Valor econômico, v.19, n.4551, 23/07/2018. Política, p. A10

 

Rollemberg paga preço político de ajuste fiscal no DF

Raymundo Costa 

23/07/2018

 

 

Uma de duas chaves deve girar na eleição para governador de Brasília. Uma abre e fecha a porta da cadeia; a outra, a do cofre público. A primeira retirou da campanha o líder da disputa, o médico e ex-deputado Jofran Frejat (PR). A segunda tornou duvidosa a reeleição de Rodrigo Rollemberg (PSB), responsável por um duro ajuste fiscal com direito a atraso no pagamento de salários, demissão de servidores e jogar no chão a popularidade do atual governador da Capital.

Frejat desistiu na semana passada, após uma conversa com o homem-forte do PR, o ex-deputado Valdemar da Costa Neto. À saída disse aos jornalistas que não iria "vender a alma ao diabo". O médico referia-se a nomes que estavam sendo impostos para sua coligação eleitoral, alguns com passagem pela prisão, outros ainda no Complexo Penitenciário da Papuda e alguns ainda sendo investigados pela polícia. O exemplo mais notório é o do ex-governador José Roberto Arruda, o primeiro governador no cargo preso no país.

A retirada de Frejat surpreendeu. Segundo pesquisa recente do Instituto Paraná, Frejat liderava a disputa com 25,4% das intenções de voto. Rollemberg vem bem atrás com 11,5% do eleitorado, seguido de uma empresária dona de contratos milionários com o governo local, Eliana Pedrosa (Pros). Mas o que choca mesmo é o índice de rejeição do governador: 69,6% dos eleitores do DF disseram que não votariam nele de jeito nenhum. O índice é maior entre os servidores públicos, que constituem 38,45% da população da Capital da República - 7% considerados só os funcionários do Distrito Federal.

Desenhada para ser moderna, símbolo de um país que no fim dos anos 50 transpirava esperança no futuro, Brasília andou para trás nos últimos 58 anos, até chegar ao fundo do poço na gestão do governador Agnelo Queiroz (PT). Em 2015, quando passou o cargo ao sucessor, Agnelo estava com os salários dos servidores atrasados, o governo tinha rompido os limites da Lei de Responsabilidade Fiscal e 83% do Orçamento estava comprometido com a folha de pessoal.

A dívida financeira era de mais de R$ 3 bilhões - dívida de pagamento de fornecedores, prestador de serviço e de pessoal, entre outros - e havia um buraco no Orçamento de 2015 no valor de R$ 3,5 bilhões. No total, um rombo de R$ 6,5 bilhões. Ou seja, uma dívida per capita de R$ 2.166 por habitante da cidade. Herança que veio acompanhada de verdadeira bomba relógio: a exemplo de Dilma Rousseff no governo federal, o PT de Brasília deixou engatilhados aumentos para nada menos que 32 categorias profissionais

Uma bomba de efeito retardado, sem previsão orçamentária e sem disponibilidade financeira. O impacto anual estimado pelos técnicos do governo para os aumentos bateu em cerca de R$ 1,5 bilhão. "Nós tivemos que tomar medidas muito duras no início do governo, reduzimos 19 secretarias, quatro mil cargos de livre provimento e eu suspendi na tora [algo como "na marra"] o aumento das 32 categorias". O governador não falou, mas também atrasou salários e o pagamento de aposentadorias.

Não deu outra. O Eixo Monumental, via em frente ao Palácio do Buruti, virou passarela de manifestações. Os servidores atingidos, especialmente policiais civis, recorrem à Justiça. O Judiciário pareceu simpático à reivindicação, declarada constitucional, mas reconheceu que não havia disponibilidade orçamentária para o pagamento. "Não tinha e não pagamos até hoje", diz Rollemberg. Na tora o governador pagou um preço político e pessoal muito grande - os aliados à esquerda bateram em retirada do governo e sua popularidade despencou ladeira abaixo.

Rollemberg ainda acha que o discurso do ajuste fiscal lhe dará retornos eleitorais. "Quando o nosso governo começou, nós estávamos pior que o Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul" diz. "Hoje, quando você compara, eu vejo que Minas, Rio e Rio Grande estão parcelando salários. Brasília está todo mundo em dia, inclusive os fornecedores e prestadores de serviço. E já pagamos grande parte da dívida do governo passado. Pergunte a qualquer empresário da cidade. Estão recebendo em dia sem precisar pagar nada para ninguém".

Em 2014, Rollemberg não teve adversários na eleição. A dose pode ser repetida se Frejat se mantiver irredutível na renúncia. O PSDB pensou em lançar o deputado Izalci Lucas, mas a candidatura não decolou. O grupo que apoiava Frejat pensa em lançar o deputado Rogério Rosso (PSD), mas ele hesita também porque não quer ficar com a chave da porta da cadeia. Rosso foi governador-tampão de Brasília depois da prisão de Arruda e da renúncia do vice Paulo Otávio. O PT espreita. Para Rollemberg, resta a esperança de que o discurso do ajuste fiscal, questão da qual os candidatos fogem como o diabo da cruz, desta vez tenha alguma chance na campanha eleitoral.