Título: Oposição promete impugnar os votos
Autor: Luna , Thais de
Fonte: Correio Braziliense, 01/09/2012, Mundo, p. 23

Hoje, começam a ser divulgados os primeiros resultados das eleições na Angola, que foram marcadas pela desconfiança e por denúncias de irregularidades. Isaías Samakuva, presidente do partido opositor União Nacional para a Independência Total de Angola (Unita), chegou a anunciar uma impugnação prévia. No terceiro pleito desde que o país deixou de ser colônia de Portugal, o grande favorito é o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), partido do presidente José Eduardo dos Santos, no poder há 33 anos. Ao todo, 9,7 milhões de angolanos foram convocados para eleger 220 deputados. Segundo a Constituição de 2010, o presidente do partido vencedor governará Angola durante cinco anos.

Samakuva afirmou à agência de notícias portuguesa Lusa que seu partido recebeu denúncias de fraudes. "Nós vamos impugnar as eleições porque, no caso da província de Luanda (capital), a Comissão Nacional Eleitoral (CNE) não entregou credenciais a mais de 2 mil dos nossos delegados. Isso implica que a Unita não pode assegurar a veracidade dos resultados da votação em mais de 1 mil mesas aqui em Luanda", advertiu.

A CNE parabenizou a população por participar de um processo democrático considerado "ordeiro e consciente". O presidente da comissão, André da Silva Neto, admitiu a ocorrência de problemas pontuais, como a reclamação de eleitores sobre a dificuldade de encontrarem o local de votação. Santos tem Samakuva e Abel Chivukuvuku, da Convergência Ampla de Salvação de Angola-Coligação Eleitoral (Casa-CE), como principais adversários no processo, no qual concorrem nove partidos. No total, 1,5 mil observadores nacionais e 700 estrangeiros acompanharam as eleições.

Apatia De acordo com Paula Cristina Roque, especialista em Angola pela Universidade de Oxford (Reino Unido), a votação foi marcada pela completa apatia dos eleitores e por um boicote silencioso do processo. "Os cidadãos acreditam que o pleito carece de integridade e de transparência. Isso significa que o número de pessoas que foram às urnas deve ter ficado abaixo de 50% e que os que votaram apenas o fizeram no sentido de um dever cívico", detalhou. Para a analista, o partido de Santos deve renovar seu mandato. "No entanto, pela estabilidade no país, espero que a oposição ganhe mais assentos no Parlamento e tenha mais voz nos próximos anos de governo."

Markus Weimer, coordenador do Fórum Angola, da Chatham House (Reino Unido), afirmou à reportagem que o MPLA deve vencer por contar com mais recursos, ser mais organizado e ter a história ao seu lado — já que comanda a nação desde a independência. "É um partido associado à paz, mas as gerações mais novas estão olhando para a frente", comentou. As primeiras eleições no país foram em 1975 e resultaram em guerra civil entre a Unita e o MPLA, que terminou em 2002 com saldo de 500 mil mortos. Em 1992, a primeira votação para presidente de Angola foi interrompida pela retomada da guerra. Os dois partidos assinaram um acordo de paz dez anos depois e, em 2008, um novo pleito deu a vitória ao MPLA, com 82% dos votos. 9,7 milhões Total de pessoas convocadas a participar das eleições na Angola