O globo, n. 31289, 07/04/2019. País, p. 11

 

PSL do Rio fica em papel coadjuvante na Câmara

Bernardo Mello

07/04/2019

 

 

Apesar de ter maioria dentro do partido, com 12 parlamentares em Brasília, bancada fluminense não consegue liderar comissões importantes ou ter interlocução política. Deputados defendem trabalho ‘longe dos holofotes’

Maioria dentro do PSL e eleita com forte associação a Jair Bolsonaro, que tem o Rio como reduto eleitoral, a bancada fluminense do partido do presidente da República ocupa papel de coadjuvante no início do governo. Com 12 representantes, equivalente a um quinto do total de parlamentares do PSL no Congresso, o grupo de deputados do Rio — quase todos de primeira viagem —ficou à margem, neste primeiro momento, das lideranças em comissões e na interlocução política. Além do presidente, dois de seus três filhos fizeram carreira política no Rio — o senador Flávio Bolsonaro (PSL) e o vereador Carlos Bolsonaro (PSC).

Entre todos os partidos, o PSL foi o que fez a maior bancada federal no Rio. Apesar do peso dentro do partido, a articulação política escorregou para os braços da bancada paulista, capitaneada pelo terceiro filho do presidente, Eduardo Bolsonaro. Campeão de votos no Rio, o subtenente da reserva Hélio Lopes, que usou o nome “Hélio Bolsonaro” nas urnas, chegou a acompanhar o presidente e Eduardo Bolsonaro na viagem ao Chile, no último mês.

Hélio integra a Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional, presidida pelo filho do presidente. Os projetos apresentados pelo deputado carioca pouco versam sobre o assunto, tratando mais de isenções de impostos e regulamentações para atividades de forças militares, linha semelhante à adotada por Jair Bolsonaro em seus tempos na Câmara.

'Marketing' no plenário

A presidência da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), a mais importante da Casa, ficou com Felipe Francischini (PSL-PR), filho do ex-deputado Delegado Fernando Francischini, um dos articuladores da candidatura de Bolsonaro no Sul. Dos sete parlamentares do PSL que são titulares na comissão, nenhum é do Rio. A relatoria da Reforma da Previdência na CCJ ficou com o deputado Delegado Marcelo Freitas (PSL-MG).

Já a liderança do PSL na Câmara foi destinada ao deputado Delegado Waldir (GO), um dos raros egressos da legislatura anterior, quando se elegeu pelo PSD. Na bancada do Rio, só o empresário Lourival Gomes tem passagem prévia na Câmara.

Ele se elegeu como suplente em 2014 e assumiu uma cadeira brevemente em 2017. Daniel Silveira, policial militar de Petrópolis eleito pelo PSL com pouco mais de 31 mil votos, diz que o modus operandi da Câmara “é complicado em alguns aspectos”. Silveira, que se tornou mais conhecido após quebrar uma placa em homenagem à vereadora Marielle Franco durante a campanha — ao lado do então candidato a governador Wilson Witzel (PSC)—, teve um projeto de lei devolvido pela Mesa Diretora da Câmara por ser declarado inconstitucional. A proposição previa a retirada compulsória de órgãos de criminosos mortos em combate com a polícia.

— Nem leram o projeto. Os deputados são muito motivados pela repercussão das coisas. O plenário vira um grande marketing — lamenta Silveira, que define o trabalho da bancada do Rio como “interno”. —Nosso foco é conversar sobre projetos realmente necessários, e não ficar olhando para o próprio umbigo e querendo aparecer para as câmeras. Um deputado veterano do Rio, que não integra o PSL, avalia que falta uma liderança entre os membros fluminenses do partido.

A ausência, segundo esse deputado, tende a deixá-los “um pouco perdidos”. Na última semana, na votação de uma proposta que autorizava partidos a devolver sobras do Fundo Partidário ao Tesouro, metade da bancada votou a favor, contrariando a orientação do próprio PSL. Silveira, um dos que votaram a favor, declarou nas redes sociais que se opôs ao PT, que orientou voto contrário, assim como o PSL.

—Nós polarizamos em vários assuntos, há uma divergência mesmo, mas é preciso saber filtrar. Eu não me importaria, por exemplo, em ter um projeto relatado pelo (deputado do PSOL Marcelo) Freixo, por exemplo —pontuou Silveira. Parte dos parlamentares do PSL fluminense, por outro lado, seguem apegados à retórica da campanha. Vereador por Niterói antes de se eleger para a Câmara, Carlos Jordy assinou ofício na última semana para impedir uma palestra de Freixo na UFRJ. Ao falar sobre o tema, em suas redes sociais, Jordy referiu-se ao PSOL como uma “seita demoníaca”.

Diálogo com oposição

O primeiro projeto de um deputado do PSL do Rio a ser aprovado foi apresentado pelo ex-nadador Luiz Lima, que ocupou cargo no Ministério do Esporte quando Leonardo Picciani (MDB) era o titular da pasta, nos governos Dilma Rousseff e Michel Temer. Lima fez uma proposição sugerindo alterações na Lei Maria da Penha para permitir divórcio imediato às mulheres agredidas por seus parceiros. O projeto foi relatado pela deputada petista Érika Kokay (DF).

— Eu mesmo sugeri que a relatora fosse uma deputada da oposição, para mostrar que a gente pode convergir em diversas pautas — afirmou Lima.

—Até os deputados do PSL se surpreenderam com a rapidez da aprovação. O que mata a política muitas vezes é a vaidade. E nós, do Rio, não temos isso.