O globo, n. 31287, 05/04/2019. País, p. 4

 

Maratona de encontros

Gustavo Maia

Jussara Soares

Karla Gamba

05/04/2019

 

 

Bolsonaro recebe cúpula de 6 partidos e se desculpa por ‘suas caneladas’

Em uma jornada que se iniciou às 8h30 e só se encerrou às 17h15, o presidente Jair Bolsonaro fez ontem seu primeiro gesto para as cúpulas de seis dos principais partidos políticos do país. Além de fazer um convite para que os chefes das siglas integrem um conselho do governo, Bolsonaro se desculpou por “suas caneladas”ao lidar com políticos.

As conversas tinham dois objetivos: conseguir votos para a reforma da Previdência e construir uma base parlamentar para o governo. O primeiro foi atingido. Todos os caciques partidários deixaram o Palácio do Planalto sinalizando que suas bancadas trabalharão pela aprovação do texto, ainda que com eventuais mudanças. A segunda meta, no entanto, mostrou-se distante. Nem mesmo o DEM, que tem três ministros, assegurou que formalizará sua entrada na base aliada.

— O que foi muito bonito hoje é que todos concordam que é o momento da gente passar por cima das nossas diferenças e do que aconteceu no período eleitoral. O presidente, com a sua humildade, se desculpou de uma canelada aqui, uma canelada acolá — disse o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni.

Sem compromisso

Juntos, os seis partidos cujos presidentes tiveram audiências com Bolsonaro — PRB, PSD, DEM, PP, PSDB e MDB — reúnem 196 deputados na Câmara. Outro seis dirigentes partidários serão recebidos no Planalto na próxima semana: Podemos, PR, PSL, Novo, Avante e Solidariedade. Estas bancadas, por sua vez, somam 132 deputados. Para aprovar uma Proposta de Emenda Constitucional como a da Previdência, são necessários 308 dos 513 votos no plenário da Câmara.

Segundo Onyx, a ideia é que o conselho com representantes do governo e de partidos se reúna uma vez ao mês.

— O governo é humilde e não tem nenhum problema de reconhecer se errou. O objetivo é acertar —disse.

O encontro entre Bolsonaro e os dirigentes partidários se iniciou cercado de desconfiança de ambos os lados. Os presidentes das legendas chegaram para a reunião acompanhados de deputados e senadores. A estratégia era evitar uma reunião a sós com o presidente, com o receio de que fossem acusados de terem pedido cargos e verbas em troca de apoio.

Após encerrar o último encontro com o presidente do MDB, Romero Jucá, Bolsonaro fez uma transmissão ao vivo na internet e disse que jamais gravaria as conversas. Um dia após o vice Hamilton Mourão declarar que o Planalto poderia oferecer às legendas cargos no Executivo, o presidente também afirmou que “caiu do cavalo” quem afirmou que este tipo de negociação aconteceria.

Embora sinalizem que apoiam a reforma da Previdência, os presidentes do PSD, Gilberto Kassab, e do PSDB, Geraldo Alckmin, deixaram o Planalto afirmando que as siglas vão manter posição independente.

Alckmin chegou até a fazer críticas a alguns pontos específicos da reforma proposta pelo governo. O ex-governador de São Paulo disse que as bancadas do PSDB na Câmara e no Senado votarão contra a mudança no Benefício de Prestação Continuada (BPC) e as alterações nas regras da aposentadoria rural.

—O importante na reforma é idade mínima e tempo de transição — disse Alckmin.

O presidente nacional do DEM, o prefeito de Salvador, ACM Neto, disse que a legenda pode vir a integrar a base do governo e que o assunto será discutido na Executiva do partido. Onyx negou que tenha havido uma frustração do Planalto por nenhum dos dirigentes das siglas terem se declarado da base aliada.

Presidente do PRB, Marcos Pereira disse que pediu ao presidente que os deputados sejam atendidos com mais cuidado por membros do governo.

— Relatei três casos de ter sido mal atendido no Ministério da Educação, na Caixa Econômica e pelo próprio gabinete da Presidência.

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Governista será relator da MP 870

05/04/2019

 

 

> O governo de Jair Bolsonaro acordou para uma nova frente de retaliação que vem sendo formada no Congresso: a Comissão Mista da Medida Provisório 870. Formada para analisar a estrutura administrativa da atual gestão, a comissão está sendo vista por boa parte dos líderes partidários como uma ferramenta para atacar o Palácio do Planalto.

> Para tentar conter o grupo, o governo emplacou Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), seu líder no Senado, como relator da comissão. O presidente será o deputado João Roma (PRB-BA), que atuou em reformas administrativas na Bahia e também em Pernambuco, onde foi assessor do governo do estado no início dos anos 90.

> Entre os pontos defendidos pelos parlamentares mais descontentes está um enxugamento de ministérios, que cairiam de 22 para 15.

> Esse grupo também quer retirar do guarda-chuva do Ministério da Justiça o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), órgão responsável por analisar transações suspeitas. O órgão deixaria a pasta comandada por Sergio Moro e seria realocado na pasta da Economia, a qual era subordinado antes do governo Bolsonaro. Falta combinar com Moro, que não abre mão do órgão.