Correio braziliense, n. 20378 , 07/03/2019. Política, p.3

Aliados não veem desgaste

GABRIELA VINHAL

LUIZ CALCAGNO

 

 

Após a repercussão negativa da postagem feita pelo presidente Jair Bolsonaro sobre o carnaval, aliados e articuladores políticos do Planalto temem que o episódio gere uma crise nos bastidores do Congresso Nacional. Além dos parlamentares da oposição criticarem a postura do chefe de Estado, aliados veem com resistência o episódio, mas minimizam qualquer tipo de impasse entre os Poderes.

O senador Major Olimpio (PSL-SP) classificou a postagem do presidente como “direta” e “sincera”, que apenas mostrou a “indignação dele com pessoas que extrapolam no carnaval e ferem o princípio de convivência social”. “A forma de demonstrar isso se transformou em um assunto de ampla discussão não só no Brasil, mas no mundo todo. Mas isso não vai atrapalhar na convivência do Executivo com o Legislativo”, pontuou. O parlamentar disse ainda que as críticas a ele seriam para “criar um antagonismo com o novo governo” e que, até o momento, aliados não temem interferência na popularidade dele no Congresso Nacional.

Já para o líder da oposição na Câmara, Alessandro Molon (PSB-RJ), a declaração do presidente é “inacreditável” e “incompatível” com o decoro do cargo que ocupa. “Passa uma imagem péssima do Brasil. Quem não conhece o país vai imaginar que o carnaval é aquela postagem. A atitude dele é incongruente, uma vez que, em Davos, estimulou a visita de estrangeiros para cá”, ressaltou.

Para o deputado Kim Kataguiri (DEM-SP), aliado do governo, a atitude de Bolsonaro não foi bem vista. “Há muitas boas razões para criticar o carnaval, não faltam problemas que poderiam ser evidenciados e evitados. Isso não justifica mostrar uma obscenidade para milhões de famílias por meio de uma rede social sob o pretexto de criticar a festa. Isso não é postura de conservador”, escreveu no Twitter.

Segundo Thiago Vidal, gerente de análise política da Prospectiva Macropolítica, não é apenas a publicação sobre o carnaval que pode ameaçar a aceitação do novo governo entre congressistas, mas a série de episódios de mal-estar que envolvem o Planalto, como as polêmicas envolvendo o filho e senador Flávio Bolsonaro, a demissão de Gustavo Bebianno e a relação dele com o outro filho, Carlos Bolsonaro. “Com isso, a reforma da Previdência fica mais cara e a seriedade com que o governo se comporta respinga, inclusive, na aprovação de projetos fundamentais para o Planalto”, acrescenta.

 

Tempo

Para ir ao Plenário, a PEC 6/2019, do ministro da Economia, Paulo Guedes, tem de passar pela apreciação de mérito da Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ) da Câmara, que sequer está formada. A expectativa é de que o presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), instale a comissão após retornarem do recesso de carnaval, seis dias depois do país, em 12 de março.

O deputado Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ) faz uma avaliação conservadora e acredita que a PEC vá a plenário na Câmara em meados de junho. “As comissões serão instauradas nas próximas semanas. A tramitação deve começar em abril. Nesse período, o governo precisa organizar a base. Se conseguir, é possível a gente ver a reforma aprovada”, afirmou Sóstenes. Molon vê impasses. “Para um governo organizado, com um projeto claro, uma reforma como essa já seria um grande desafio. Para um desorganizado, vai tramitar com muita dificuldade”, avaliou.

Favorável a Bolsonaro, Bia Kicis (PRP-DF) defendeu o presidente da República e disse que é precipitado afirmar que o governo não tenha base. “Acho que semana que vem tem que estar tudo certo. Não tem porque demorar mais. O Brasil tem pressa.  É precipitado dizer que um governo com a legitimidade de Bolsonaro não tenha base. Quem vai mostrar a cara e ser contra? O povo está marcando em cima”, respondeu.