Valor econômico, v.19, n.4555, 27/07/2018. Empresas, p. B2

 

Eletrobras e Eletronuclear negociam dívida de R$ 1 bi

Rodrigo Polto

27/07/2018

 

 

A Eletrobras analisa a possibilidade de conceder um "waiver" (adiamento) à Eletronuclear com relação ao pagamento do principal da dívida contraída pela subsidiária com a holding, relativa à construção da usina nuclear de Angra 3. Segundo Roberto Travassos, assistente da diretoria técnica da companhia de geração de energia nuclear, uma decisão da Eletrobras sobre o assunto deve ser tomada nos próximos dias. O valor total da dívida da controlada com a holding é de R$ 1,05 bilhão.

"Tivemos esta semana uma boa notícia de que está sendo apreciado pela Eletrobras um waiver do principal [da dívida]. Nós pagaríamos apenas o juros desse montante de R$ 22 milhões, o que daria cerca de R$ 7 milhões e haveria um alívio de caixa para a Eletronuclear de cerca de R$ 16 milhões, que, no momento atual, seria extremamente bem-vindo", disse Travassos, durante o Seminário Internacional de Energia Nuclear (Sien), no Rio. "Isso deve ser aprovado nos próximos dias pela Eletrobras".

Segundo Travassos, a situação financeira da Eletronuclear é delicada. Angra 3 responde por mais de 80% da dívida da empresa hoje, sendo que a usina está longe de entrar em operação. Com 67% de índice de conclusão, Angra 3 teve suas obras paralisadas em setembro de 2015, devido ao não pagamento a fornecedores e a investigações da força-tarefa da Lava Jato. Estima-se que a retomada da construção custe R$ 17 bilhões.

De acordo com o assessor da Eletronuclear, a companhia precisa pagar mensalmente R$ 22,3 milhões à Eletrobras, R$ 30,9 milhões ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e R$ 25 milhões à Caixa Econômica Federal de empréstimos relativos às obras de Angra 3.

"O que a Eletronuclear vem fazendo é a gestão junto aos credores, no sentido de reverter essa situação, conseguir um 'waiver' e conseguir um prazo de carência, porque isso vem estrangulando as finanças da Eletronuclear", completou Travassos.

Procurada pelo Valor, a Eletrobras não se manifestou sobre a possibilidade da concessão de um waiver para a Eletronuclear.

Uma solução estrutural está em análise no Ministério de Minas e Energia. A ideia principal é permitir um reajuste da tarifa de Angra 3, de R$ 240 por megawatt-hora (MWh) para R$ 400 o MWh. A medida viabilizaria a retomada do projeto, atraindo um sócio privado para investir na usina.