O globo, n. 31286, 04/04/2019. País, p. 7

 

Em conversa com mulher do coronel Lima, filha de Temer discutiu reforma

Gustavo Schmitt

04/04/2019

 

 

Gravações foram apresentadas pelo MPF e comprovariam que ex-presidente e seu amigo sabiam do orçamento das obras

Na primeira denúncia feita pela Lava-Jato paulista contra o ex-presidente Michel Temer, a força-tarefa sustenta que novas conversas de WhatsApp que aparecem no celular apreendido de Maria Rita Fratezi, mulher e sócia do coronel João Baptista Lima, mostram que ela acompanhou de perto a reforma da casa de Maristela Temer, filha do emedebista.

Para os procuradores do Ministério Público Federal , os diálogos são conclusivos e comprovam que a mulher do coronel Lima, amigo do ex-presidente, atuou como administradora da obra desde o início, em 2013.

Nesta denúncia, Temer, sua filha, o coronel Lima e sua mulher são acusados de lavagem de dinheiro por supostamente ocultarem R$ 1,6 milhão na obrada casa. Para a Lava-Jato, a reforma foi paga com propina de origem em desvios das obras da usina de Angra 3, no Rio. As suspeitas começaram em janei rode 2017, quando foram feitas buscas nas empresas do coronel Lima.

Em uma das conversas, às 22h13m de 22 de janeiro de 2014, Maria Rita pede para marcar um horário com Maristela para discutir detalhes da reforma:

— Maristela, te mandei os estudos. Gostaria de definir as sugestões na reforma. Poderia ser quinta entre 13h30 e 15h. Ou, na sexta no mesmo horário da tarde. Ou às 11h da manhã. Como estão seus horários? Bj —pergunta Maria Rita.

Maristela responde às 10h49m do dia seguinte:

— Vamos deixar marcado sexta às 15h? Ainda não consegui ver porque a internet aqui está falhando —responde a filha do ex-presidente.

Outro exemplo citado é uma conversa às 18h54m de 29 de maio de 2014:

— Olá, Maristela. Notícias da reforma. O telhado da casa com tabeiras maiores e telhas colocadas. Agora está bonito! — informa Maria Rita, que prossegue explicando que conseguiu “acertar” a escada e eliminar o degrau “feinho” no patamar.

Maristela responde sete minutos depois: —Oba! Bjs.

Por último, os procuradores voltaram a mencionar uma outra conversa de 15 de julho de 2014 em que Maristela afirma que repassaria a Temer um e-mail de Maria Rita sobre o orçamento da obra: —Passo para o papai. Segundo os procuradores, a conversa comprova que Temer e Lima tinham conhecimento dos custos das obras.

"Acusação descabida"

Para a defesa de Temer, a acusação é descabida e contraditória, além de sustentar que o ex-presidente nunca recebeu nenhum tipo de vantagem indevida. Já a defesa do coronel Lima informou que as denúncias foram precipitadas e afirmou que as peças não dispõem de provas que sustentem as acusações.

A defesa de Maristela disse, em nota, que foi surpreendida pela “denúncia infundada”:

“Com o respeito devido ao Ministério Público Federal, não houve preocupação em se verificar a veracidade dos fatos, inteiramente refletida nos esclarecimentos já prestados por ela quando ouvida perante a autoridade policial. A origem dos valores utilizados para a reforma de sua residência é lícita e Maristela Temer jamais participou de qualquer conduta voltada à lavagem de dinheiro”, diz a nota.