Correio braziliense, n. 20372, 01/03/2019. Economia, p. 7

 

PIB decepciona e reduz otimismo para 2019

Rosana Hessel

Hamilton Ferrari

01/03/2019

 

 

 

 

 Recorte capturado

 

 

CONJUNTURA / Avanço de 1,1% da economia em 2018 leva analistas a cortar as previsões para a expansão da atividade neste ano. Para especialistas, o país só deve deslanchar no segundo semestre, caso a reforma da Previdência seja aprovada pelo Congresso

O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil cresceu 1,1% em 2018, repetindo o mesmo desempenho de 2017. O resultado confirmou que a economia continua em marcha lenta e provocou uma nova revisão das estimativas dos analistas para a economia em 2019. Crescem as apostas de expansão de 2% neste ano, patamar abaixo da última previsão do mercado financeiro, de 2,48%. Tanto o consumo das famílias quanto os investimentos e a atividade industrial tiveram desempenhos fracos.

Os analistas ouvidos pelo Correio admitem a possibilidade de novos cortes, ao longo do ano, nas estimativas de crescimento econômico para 2019. O consenso é de que a expansão do PIB dependerá do ritmo da nova reforma da Previdência, que prevê uma economia de R$ 1,1 trilhão em 10 anos nas contas públicas. Quanto mais tempo demorar para que ela seja aprovada, menor será o crescimento do país. As projeções consideram que alguma reforma será aprovada este ano, caso contrário, o país mergulhará em uma nova recessão, de acordo os entrevistados.

“Sem a Nova Previdência, o crescimento do PIB ficará abaixo de 1% este ano, mas, se ela for aprovada, a economia poderá avançar 2,9%”, afirmou o secretário de Política Econômica do Ministério da Economia, Adolfo Sachsida. A secretaria divulgou nota, ontem, mostrando que o país cresceu 0,5% ao ano entre 2011 e 2018, menos do que taxa média anual da “década perdida” de 1980, de 1,6%. Além disso, o PIB per capita, de R$ 32,7 mil do ano passado, ficou 8% abaixo do nível de R$ 36,5 mil registrado em 2014, antes do início da recessão. Sem a reforma, poderá chegar a R$ 30,8 mil em 2023. “A Nova Previdência é condição necessária para o equilíbrio fiscal de longo prazo da economia, melhorando o ambiente de investimento e evitando uma nova década perdida”, afirma o documento.

Demanda fraca

A economista Sílvia Matos, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV), ressaltou que a atividade vem tendo dificuldade para se recuperar da crise por conta de problemas estruturais do país e da demanda fraca. “A velocidade de crescimento deixa muito a desejar e o ritmo mais forte de retomada dependerá do avanço da reforma da Previdência. Além disso, temos um problema de demanda interna, que vem desde a recessão de 2015 e 2016”, destacou ela.

Pelas contas de Silvia, o país vai demorar para recuperar a perda acumulada nos 11 trimestres seguidos de recessão. Ela estima que a queda do PIB, nesse período, chegou a 8,2% e, se depender do ritmo de carregamento do PIB de 2018, de apenas 0,4%, será difícil ver um ritmo mais forte nos próximos anos. “Contando trimestre a trimestre, a retomada chega a 3,4% até o ano passado, mas ainda falta recuperar quase 5% do que perdemos em termos do PIB. Agora, com o cenário externo desacelerando, o desafio para voltar a crescer e atrair investidores será grande, principalmente, se não houver reforma”, pontuou.

A economista Alessandra Ribeiro, sócia da Tendências Consultoria, lembrou que, se a reforma for muito desidratada, para algo inferior 70% dos ganhos previstos inicialmente, a retomada da economia e da confiança dos investidores será comprometida. Ela manteve a projeção de crescimento de 2% para este ano. “A gente espera uma recuperação do mercado de trabalho e do crédito. A premissa central é a reforma Previdência. Com ela avançando, o investimento poderá crescer 5,5% neste ano”, apostou.

Os analistas iniciaram o ano com previsões de crescimento do PIB em 3%, mas elas foram reduzidas após a greve dos caminhoneiros, em maio. “A greve antecipou as incertezas que estavam previstas para o segundo semestre com as eleições. O ritmo de crescimento enfraqueceu a partir do segundo trimestre. Neste ano, uma expansão acima de 2% dependerá da aprovação da reforma da Previdência”, pontuou o diretor de Estudos e Políticas Macroeconômicas do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), José Ronaldo de Souza Júnior.

A gerente de Contas Trimestrais do IBGE, Cláudia Dionísio, explicou que a frustração do PIB começou desde o início do ano, quando os resultados setoriais esperados não foram atingidos, mas foi agravada com a greve. “O consumo das famílias, que foi o carro-chefe da demanda, veio positivo, mas não está nem perto dos patamares pré-crise. O mercado de trabalho melhorou, mas de forma lenta e informal. A massa salarial subiu, só que com no emprego sem carteira assinada e na subutilização da mão de obra”, destacou. Cláudia ressaltou também que, apesar de a taxa Selic estar em 6,5% ao ano, o menor nível da história, o spread bancário ainda é elevado. “(Os bancos) não repassam totalmente a queda da taxa básica, o que limita a expansão do crédito e do crescimento”, ressaltou.

Efeito Bolsonaro

Na avaliação do economista-chefe para mercados emergentes da Capital Economics, William Jackson, o resultado fraco do último trimestre de 2018, quando o PIB cresceu apenas 0,1% em relação aos três meses anteriores, confirmou que a vitória do presidente Jair Bolsonaro não surtiu efeito na economia real. “A recuperação continuará fraca nos próximos trimestres. Os dados do PIB vão desapontar quem esperava que a eleição de Bolsonaro daria um impulso imediato à economia. Embora a confiança tenha crescido, a atividade permanece fraca”, explicou ele, reforçando que o crescimento neste ano ficará abaixo do consenso do mercado, em torno de 2%.

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Aumenta aposta em corte de juros

 

 

Gabriel Ponte

01/03/2019

 

 

 

Com o resultado fraco do Produto Interno Bruto (PIB) em 2018, analistas de mercado começam a apostar na redução da taxa básica de juros, a Selic na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), marcada para 19 e 20 de março. Será a primeira sob o comando do novo presidente do Banco Central (BC), o economista Roberto Campos Neto.

A cerimônia de transmissão de cargo, porém, será em 13 de março, uma semana antes da reunião. O atual presidente, Ilan Goldfajn, assumiu o posto em meados de 2016, quando os juros estavam em 14,25% ao ano, e entrega o comando da autoridade monetária com a Selic na mínima histórica de 6,5%, e com a inflação sob controle.

A perspectiva do mercado é de que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) conclua, em 2019 uma sequência de três anos consecutivos abaixo do centro da meta estipulada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Segundo analistas, isso reflete a atividade econômica fraca e o desemprego elevado, que limita o consumo das famílias.

O economista Guilherme Ribeiro de Macêdo, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), disse que o baixo desempenho do PIB no ano passado não traz impacto inflacionário, permitindo maior queda de juros. “Dá para reduzir mais a Selic sem gerar inflação, porque os indicadores estão confortáveis e a atividade ainda está fraca”, resumiu. “O gradualismo é sempre melhor; então, o BC pode reduzir em 0,25 ponto percentual na próxima reunião. Mais do que isso já é demais”, completou.

O economista-chefe da Quantitas Asset, Ivo Chermont, não vê dessa forma. “O BC não funciona pelo nível de atividade do ano anterior. O PIB veio apenas um pouco menor, e não haveria motivo para cortar os juros. Antes da reforma da Previdência, acho difícil haver redução das taxas. A aprovação (da reforma) deve ocorrer em meados de setembro. Aí, sim, esperamos queda da Selic, que terminaria o ano em 5,5%”, disse.

Para Luís Otávio de Souza Leal, economista-chefe do Banco ABC Brasil, o Brasil não está crescendo da forma desejável, mas só a queda de juros não vai adiantar. “Nós temos que discutir outros fatores. Achar que baixar os juros irá, automaticamente, destravar o crescimento é um perigo. Se fosse isso, com os juros em 6,5%, cresceríamos mais que 1,1%”, analisou.

O deficit nas contas públicas, segundo Leal, é um dos principais obstáculos ao crescimento. As despesas previdenciárias consomem mais de 50% do orçamento federal e estão crescendo, devido ao envelhecimento da população. “A reforma da Previdência é o diferencial para o Brasil tornar-se um país normal e sustentável. Isso vai reforçar a confiança do empresário e do consumidor. Sem a reforma, voltaremos a ser o Brasil do passado”, destacou.

“A expectativa é de que, neste ano, o PIB talvez não avance muito além de 2%. A reforma potencializará esse crescimento, mas gerará efeitos mais positivos em 2020”, disse o economista Flávio Serrano, do Banco Haitong. “A grande vantagem do BC é poder se dar ao luxo de aguardar um desdobramento dos eventos para decidir.” (Colaborou Hamilton Ferrari)