O globo, n. 31284, 02/04/2019. País, p. 4

 

Centrão vai ao Planalto

Bruno Góes

Eduardo Bresciani

Jussara Soares

Marcelo Ninio

02/04/2019

 

 

Bolsonaro chama presidentes de partidos, como Jucá e Kassab, para pedir apoio

Na volta da viagem a Israel, prevista para amanhã, o presidente Jair Bolsonaro vai passar a se envolver diretamente na negociação com o Congresso pela reforma da Previdência. Depois de sofrer derrotas nas primeiras votações no Congresso pela demora em formar uma base aliada, Bolsonaro pediu que o ministrochefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, convidasse representantes de partidos do centrão para conversar sobre os projetos de interesse do governo no Congresso.

O presidente deve se encontrar com pelo menos cinco siglas já a partir de quinta-feira. Juntos, PP, PSD, MDB, PRB e DEM somam 166 deputados e 35 senadores. A tendência é que as conversas se deem com os presidentes dos partidos.

Desde a campanha presidencial, Bolsonaro vem mantendo um discurso de rejeição às cúpulas partidárias, afirmando que não estaria disposto a fechar acordos com as siglas em nome da governabilidade.

Ontem, em entrevista para a TV Record, o presidente afirmou que vai receber parlamentares diariamente a partir de agora:

— Estou pronto ao diálogo, na medida do possível atendo parlamentares. Alguns acham que estou fazendo pouco. Vamos agora deixar pelo menos meio dia da minha agenda no Brasil para atender deputados e senadores

Sem cargos, diz ACM Neto

Depois de uma semana em que teve atritos públicos com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, Bolsonaro passou a concordar em receber presidentes de partidos, alguns deles sob investigação na Justiça, como o ex-senador Romero Jucá (MDB), o senador Ciro Nogueira (PP) e o ex-ministro Gilberto Kassab (PSD). Os presidentes do DEM, ACM Neto, e do PRB, Marcos Pereira, confirmaram ao GLOBO que foram convidados ase encontrar com o presidente.

— Acho positivo que ele (Bolsonaro) chame presidentes e líderes partidários para dialogar sobre a agenda do país. O diálogo vai ser em torno da agendado país. Há um consenso de que as coisas precisam avançar, fundamental para se construir uma base que faça as reformas avançarem.P ensoque esse deves ero ponto principal da interlocução do presidente, que deve ser ampla e permanente — disse o presidente do DEM, afirmando que cargos no governo não estarão na pauta do encontro.

Ao montar seu ministério, Bolsonaro ignorou os comandos dos partidos. E mesmo nos últimos dias, com problemas para articular uma base no Congresso, manteve seu discurso. “Alguns não querem largar a velha politica, que infelizmente nos colocou nesta situação bastante crítica em que nos encontramos” afirmou na semana retrasada em viagem ao Chile.

Presidente do PRB, o deputado Marcos Pereira disse que vai ouvir o que o governo tem a dizer sobre a articulação no Congresso. Ele foi convidado pela manhã, por telefone, pelo ministro Onyx. Caso seja perguntado sobre sugestões, Marcos Pereira avalia que tratará sobre “política”, sem a qualificação “nova” ou “velha”.

— Vamos ver o que o governo tem a dizer —resume.

Enquanto Bolsonaro segue em Israel, a aproximação do Executivo com o Parlamento já está em curso. Na tarde de hoje, o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, deve receber no Planalto lideranças partidárias para discutir a reforma com a líder do governo no Congresso, deputada Joice Hasselmann (PSL-SP).

Até o fechamento desta edição, a pasta não havia confirmado a agenda oficial do ministro, mas informações dos bastidores dão conta de que cerca de 15 lideranças deverão se encontrar com o chefe da Casa Civil.

Ontem, o líder do governo na Câmara, Major Vitor Hugo, disse que “potencialmente” todos os partidos que não se declararam como oposição poderão ser recebidos por Bolsonaro. O parlamentar afirma que o gesto dopre si denteé um reconhecimento do Planalto da “importância dos partidos.”

—O teor (dos encontros) é o pedido de apoio. Reconhecera importância dos partidos através dos presidentes e seus líderes.

Em outro movimento de afago aos partidos, o líder do governo na Câmara negou que o governo Bolsonaro não estivesse disposto a dialogar com as siglas.

—Houve um momento em que a imprensa e alguns analistas divulgaram como se houvesse uma intenção do governo Bolsonaro de não dialogar com os partidos, mas sim com as frentes temáticas. Mas sempre houve a intenção de articular dentro do Congresso com os partidos.

Em outra frente, a Casa Civil também já prepara uma aproximação com senadores para facilitara agenda governista no Congresso. A intenção, segundo um assessor palaciano, é que o presidente também comece a abrir o gabinete para integrantes do Senado.

Os partidos que serão recebidos por Bolsonaro:

>PP

Maior sigla do centrão, tem 38 deputados e 6 senadores.

>PSD

Comandado por Kassab, tem 36 deputados e 9 senadores.

>MDB

Presidido por Romero Jucá, já não é mais o maior da Câmara. Tem hoje 34 deputados e 13 senadores.

>PRB

O partido ligado à Igreja Universal tem 31 deputados e 1 senador.

>DEM

Além de presidir Câmara e Senado, o partido tem 27 deputados e 6 senadores.

“Na medida do possível atendo parlamentares. Alguns acham que estou fazendo pouco. Vamos agora deixar pelo menos meio dia da minha agenda para atender deputados e senadores”

Jair Bolsonaro

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Maia foi alvo de grupo pró-governo mais ativo nas redes

Gustavo Schmitt

Sério Roxo

02/04/2019

 

 

Perfis do Twitter com grande volume de publicações a favor de Bolsonaro miraram presidente da Câmara nas últimas semanas

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, foi alvo da ofensiva dos principais apoiadores do presidente Jair Bolsonaro no Twitter. No domingo, O GLOBO mostrou que um grupo de 5.843 perfis nesta rede social fez, no último mês, publicações sobre três casos que envolviam o governo: ataque ao jornal “O Estado de S.Paulo” com base em uma declaração falsa atribuída a uma repórter; a ofensiva contra a nomeação da cientista política Ilona Szabó para um conselho do Ministério da Justiça; e a defesa da atuação de Bolsonaro em sua viagem aos Estados Unidos.

Um outro levantamento, também realizado com auxílio do Laboratório de Estudos e Imagem de Cibercultura (Labic) da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), aponta que 88% (5.134 dos 5.834) dos integrantes do grupo mais atuante a favor de Bolsonaro também foi ao Twitter para atacar Maia.

Nas duas últimas semanas, exatamente o período em que trocou farpas públicas com Bolsonaro, o presidente da Câmara foi citado na rede social 684.333 mil vezes. Ele foi atacado por apoiadores do presidente, com hashtags como #calabocamaia , # impeachmentrodrigomaia e #maiarespeitaopovo.

No domingo, o GLOBO mostrou que o grupo central de apoiadores de Bolsonaro que atuou nos três casos analisados, apesar de representar 9% do total de usuários que se engajaram nesses temas, foi responsáveis por quatro em cada dez postagens.

Para especialistas, o grupo pode ter o auxílio de robôs e atua de forma coordenada para alavancar temas relevantes para o governo que entram nas listas nos mais comentados no Twitter.

A avaliação do comportamento dos 5.843 perfis bolsonaristas mais ativos nos três casos leva à constatação de que há dois grupos distintos atuando.

O primeiro é formado pelos chamados influenciadores, que fazem poucas postagens, na maioria das vezes de autoria própria, e chegam a um grande número de usuários porque são muitos compartilhados. O segundo é composto pelos propagadores, que quase não fazem postagens próprias, mas retuítam os influenciadores e são os campões gerais em número de publicações.