O globo, n. 31283, 01/04/2019. Economia, p. 21

 

Concorrência

Glauce Cavalcanti

01/04/2019

 

 

 Recorte capturado

Com estreia da Norwegian, analistas preveem queda nos preços de passagens

Sair só coma roupado corpo. E par avoar. Achegada das companhias aéreas low costa o país mostra a disposição dos brasileiro sem embarcar usando uma passagem que oferece unicamente o transporte. Todo o resto — da mala de mão, passando pelo lanche e pelo cobertor, ao lugar marcado—tem de ser pago. e na chegada é preciso estar disposto a desembarcarem um aeroporto distante, que demanda gasto adicional com transporte. A norueguesa Norwegian inaugurou ontem sua rota Rio-Londres, com bilhetes a partir de US$ 239,90. A chilena Sky, que liga a capital fluminense a Santiago desde novembro, tem tarifas que começam em US$ 67, mais taxas de US$ 28. Em três meses, alcançou 86% de ocupação média nos voos da linha.

Voar em companhias de baixo custo é uma experiência nova no Brasil. A edição da resolução 400 pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), ainda em 2017, passou a permitir que as empresas aéreas possam escolher os produtos que vão oferecer aos passageiros, cobrando pelos adicionais. O objetivo era justamente atrair as low cost ,que têm passagens apreços mais competitivos, e estimular o movimento de passageiros.

— A entrada de empresas low cost tende a impactar os preços das concorrentes, que podem cair — afirma Daniel Kamlot, professor da ESPM-Rio.

Os bilhetes da Norwegian têm preço 45% menor que a média da rota Rio-Londres. Levantamento feito pelo GLOBO para o trecho, com passagens aéreas disponíveis para os dias 28 de abril e 22 de maio, mostra que a tarifa da Norwegian nessas datas custa entre 64% e 74% menos que o bilhete mais barato de outra companhia aérea.

— Temos cinco tarifas, que variam entre menos de R$ 1 mil na classe econômica e a partir de R$ 2.800 na premium. Mas preferimos usar o conceito de baixa tarifa, em vez de baixo custo, porque investimos muito para ter a frota mais moderna. Não há luxo a bordo, mas segurança e qualidade. Voamos com o Boeing 787 Dreamliner, com wi-fi grátis, quatro vezes por semana — diz Matias Maciel, diretor de Comunicação e Assuntos Públicos da Norwegian.

Ano passado, a Norwegian inaugurou o voo Londres-Buenos Aires, entrando na América do Sul. Na sequência, iniciou as operações da Norwegian Argentina, que é a cabeça das operações regionais.

— Começamos pelo Rio olhando para o longo prazo. É um destino muito atraente do ponto de vista turístico para os europeus. Assim como Londres é uma porta de entrada para o brasileiro que vai à Europa. Aos poucos, essa operação vai crescer —diz Maciel.

Atenção ao custo oculto

Em tempo de crise econômica, os voos no frills —sem frescuras —parecem ter acolhida no país, diz Jaime Fernandez, gerente de vendas da Sky Airline para a América Latina:

— Estamos voando com 86% de ocupação média em nossos voos entre Rio e Santiago. A tarifa Zero é a mais vendida, com 80% dos bilhetes. Das pessoas que compram essa tarifa, 65% adquirem algum adicional, principalmente a mala despachada.

Segundo a RIOgaleão, que administra o Aeroporto Internacional Tom Jobim, em fevereiro, a taxa de ocupação dos voos da Sky chegou a 95%. Naquele mesmo mês, a ocupação dos voos para Santiago partindo do Rio, considerando todas as companhias, subiu de 86% para 88%. Até o fechamento desta edição, a concessionária estimava que o voo inaugural da Norwegian para o Rio teria 95% de ocupação. A norueguesa não quis comentar sobre a taxa.

N apontado lápis, explica Ricardo Teixeira, coordenador do MBA em Gestão Financeira da FGV, o bilhete básico das aéreas low cost pode ser decisivo para viabilizar uma viagem. Mas o turista —a lazer ou a trabalho — deve estar atento ao custo que essa passagem baraquilos tinha pode esconder.

—Custa barato porque tudo foi cortado datarifa.Éa escolha para quem quer viajar pelo menor custo. Então, é preciso calcular o preço dos extras que cada um pretende contratar, para comparar co matari fade outras companhias— alerta Teixeira.

A regra é simples. A aérea low cost oferece uma tarifa básica, sem direito a nada além do voo. O preço mínimo varia conforme a demanda por voo e por data. A partir desta tarifa, o passageiro tem dois caminhos. Um é contratar serviços avulsos. O outro é pular para modelos de tarifa superiores, que incluem alguns serviços.

Outras na fila

Na Norwegian, os preços começam em US$ 239,90, na chamada Low Fare, sendo US $30 referentes a taxas e impostos. Nessa tarifa sós e pode levar uma bolsa de mão de até dez quilos. Em datas de menor procura, o valor pode cair. O inverso também ocorre.

Em um voo de mais de 11 horas, quem não estiver prevenido terá de abrira carteira. O cobertor custa US $5, e um par de fones de ouvido, US$ 3. Refeições leves ficam entre US$ 4 e US$ 8. Marcar o lugar pede US$ 45. Alterar o voo começa em US$ 70.

Para despachar uma mala de até 20 qui los, é preciso desembolsar US $90. A segunda custa mais: US $140. É que o peso do avião deter mina o consumo de combustível, um dos maiores custos de operação. Como o foco é garantir preço baixo, a regra é voar leve.

Já a LowFare+ inclui uma bagagem de mão de até 20 e o direito a reserva de lugar e alimentação .É a categoria mais procurada, diz Maciel. A empresa tem ainda cabine premium.

Kamlot, da ESPM-Rio, avalia que o principal chamariz para o consumidor é a tarifa reduzida. E que quando ele se informa bem dificilmente se sente levando gato por lebre — ou como se comprasse uma passagem de ônibus enquanto sonhava com a primeira classe.

— A dificuldade de viajar apenas comum amochila tende a ser contornada pelo brasileiro. A tendência é aceitar esse modelo. É aforma de satisfazer o desejo de viajar. Ma sé preciso atenção com outros custos. As low cost voam para aeroportos secundários e mais distantes. Então, é preciso saber como e quanto custa se deslocar até eles —pondera.

Na Sky, que usa o Airbus 380neo, como o voo leva pouco mais de duas horas de duração, é mais fácil abrir mão de comida e outras comodidades, além de levar apenas uma mochila, queéo que está incluído na tarifa Zero. Os custos extras vã ode US $4, para reserva de assento, a US$ 13 para a mala despachada.

Duas low cost argentinas, a Flybondi e a Avian, já pediram autorização à Anac para voar para o Brasil, mas não há o início das operações. Já a britânica Virgin Atlantic — que não é low cost mas tem preços competitivos—anunciou que começa avoar entre Londres e São Paulo em 2020.