Título: Dilma não vai dividir aliados
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Correio Braziliense, 05/09/2012, Política, p. 6

Presidente só ajudará candidatos com chances reais de vitória e apoio dos partidos da base

Participação de Dilma Rousseff na campanha municipal só vai começar na segunda quinzena de setembro

A presidente Dilma Rousseff e a direção do PT definem na próxima semana quais as cidades que ela visitará nas eleições municipais. O partido quer levar a presidente aos municípios onde a base não está dividida e os candidatos governistas têm chances reais de vitória. Mas só a partir da segunda quinzena de setembro, que coincide com a reta final da campanha.

Apesar da enorme pressão de setores do PT para que ela desembarque em Recife, onde o petista Humberto Costa já foi ultrapassado pelo candidato do PSB, Geraldo Júlio, de acordo com as últimas pesquisas divulgadas, dificilmente Dilma irá à capital pernambucana. Os dois candidatos que disputam a dianteira são de partidos aliados do governo federal. E a avaliação dos estrategistas do PT é que Humberto Costa está em rota descendente e tem chances reais de ser derrotado ainda em primeiro turno. Segundo apurou o Correio, Dilma não vai desgastar sua imagem com uma candidatura em dificuldades.

A presidente defende que esse papel de "resgaste" deve ser — e está sendo — exercido pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Lula gravou uma propaganda política para Humberto Costa questionando a escolha de um "candidato exclusivamente técnico (Geraldo Júlio), sem perfil político, apenas para promover um choque de gestão". A gravação de apoio a Costa contraria o que o próprio Lula fez em 2010, ao ungir a então chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, como candidata à presidência.

Dilma vai, com certeza, a duas capitais: São Paulo e Belo Horizonte. Na primeira, ela deu um auxílio fundamental à campanha de Fernando Haddad ao convencer a senadora Marta Suplicy (PT-SP) a participar de atos públicos de campanha e a gravar para o horário eleitoral no rádio e na TV.

Em Belo Horizonte, Dilma foi responsável pela construção da chapa PT-PMDB, com Patrus Ananias como candidato a prefeito, após o rompimento da legenda com a candidatura do prefeito Marcio Lacerda (PSB). Mas a situação de Patrus não é boa. Bem avaliado pela população, os próprios tucanos projetam para ele um teto de 30% a 35% das intenções de voto. A grande dificuldade do PT é criar um discurso próprio, já que a dicotomia "pobres contra ricos" não funciona. Belo Horizonte tem um eleitorado basicamente de classe média. "E temos um adversário, Márcio Lacerda, que é bom", lamentou um parlamentar petista.

No Rio de Janeiro, não há dificuldades para a presidente aparecer. A base está unida e a reeleição do candidato do PMDB, Eduardo Paes, praticamente assegurada. Além disso, a capital fluminense será palco, nos próximos anos, de eventos importantes para o governo federal, como a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016, o que aumenta o interesse do Planalto em aparecer bem na foto.

Porto Alegre fora A presidente já decidiu que não vai à Porto Alegre, onde a disputa está acirrada entre a candidata do PCdoB, Manuela D"Ávila, e o atual prefeito, José Fortunatti (PDT). Dilma gosta pessoalmente de Manuela e tem uma ligação afetiva com o PDT, legenda na qual militou. Para piorar, o PT tem candidato próprio — Adão Villaverde.

Aliados da presidente Dilma Rousseff disseram ainda que ela poderá visitar cidades que não estão no centro do cenário político. Um exemplo é Manaus, onde a candidata do PCdoB, senadora Vanessa Grazziotin, está em uma disputa acirrada com o tucano Arthur Virgílio Neto. Caso a presidente avalie que a presença dela possa significar um "empurrãozinho" na candidatura da senadora comunista, poderá abrir um espaço na sua agenda de viagens.

Em Curitiba a situação é diferente. O PT não tem candidato e apoia Gustavo Fruet, do PDT, contra o atual prefeito Luciano Ducci (PSB). Mas alguns ministros estão se recusando a gravar mensagens de apoio a Fruet — cuja candidatura foi patrocidada pelos ministros Paulo Bernardo (Comunicações) e Gleisi Hoffmann (Casa Civil) — ainda ressentidos com o protagonismo do pedetista na CPI do mensalão, em 2005.