Correio braziliense, n. 20410, 08/04/2019. Política, p. 4

 

Vélez: casamento ou divórcio

Bruno Santa Rita

Ingrid Soares

Maria Eduarda Cardim

08/04/2019

 

 

Nesta semana em que completa 100 dias no cargo, o presidente Jair Bolsonaro decidirá o futuro de mais um ministro, o da Educação, Ricardo Vélez Rodriguez: “Amanhã (hoje), a gente resolve”, disse o presidente, referindo-se a esta segunda-feira como o dia do ‘casamento ou do divórcio’ com Vélez. A declaração foi feita durante um almoço no Lago Sul, com colegas da turma do Exército de 1977. Depois, o presidente aproveitou para falar sobre os 100 dias: “Cada ministro vai falar da sua pasta e da sua área. Eu acho que não é tanta notícia ruim quanto vocês têm publicado.” Vélez deve ser substituído por um político para ajudar na aprovação da reforma da Previdência.

O desgaste precoce de ministros terminou por colocar em segundo plano ações positivas como a redução do número de ministérios, corte de gastos e funções de confiança. O próprio presidente, embora diga que há notícias positivas no governo, reconhece que, no caso do Ministério da Educação (MEC), há falta de gestão.

Em pouco mais de três meses, a pasta enfrentou várias crises. O número de exonerações chega a 18. Um levantamento do Tribunal de Contas da União (TCU) aponta que o ensino básico do país continua sem critérios mínimos para avaliação de qualidade e que ainda não foram implementados pelo MEC o Sistema Nacional de Avaliação Básica (Sinaeb) e o Custo Aluno-Qualidade Inicial (CAQi), determinações do Plano Nacional da Educação (PNE) 2014-2024. O MEC tem 90 dias para apresentar um plano de ação para sanear os problemas.

O apoio a Vélez minguou após a coleção de crises. Em uma entrevista, afirmou que a universidade não é para todos. A uma revista, disse que o “brasileiro viajando é um canibal”. Posteriormente, pediu desculpas. Isso sem contar a polêmica ordem de mandar filmar estudantes cantando o Hino Nacional.

Diante da crise que atravessa, Vélez teve o mesmo comportamento do primeiro ministro a deixar o governo, Gustavo Bebianno, que ficou apenas 48 dias no cargo: quando ouviu que estava demissionário, disse que não sairia. Terminou demitido depois de ser atacado pelo vereador Carlos Bolsonaro. O filho 02 do presidente o acusou de mentir, ao dizer que havia conversado com o pai, e divulgou áudios das mensagens trocadas entre os dois.

Em situações como essa, reza a cartilha não escrita da política, a frase padrão deve ser “o cargo pertence ao presidente da República”. Até aqui, o único ministro sob tensão a cumprir esse protocolo foi o titular do Turismo, Marcelo Álvaro. Ele está sob investigação por suspeitas de caixa dois na campanha do PSL de Minas Gerais, onde se elegeu deputado federal. Bolsonaro tem dito que é preciso esperar o fim das investigações, antes de colocar o ministro no cadafalso, como ocorreu com Bebianno.

O cientista político André Martin, da Universidade São Paulo (USP), considera que a escolha de ministros mostra que Bolsonaro não tinha planejamento claro para o governo. “Ele não sabia quem escolher. Foram escolhas à queima-roupa, que têm dado um resultado muito ruim”, analisa. “São contradições internas que paralisam o governo. É uma queda de braço constante, que faz com que a decisão fique sempre com o próprio presidente, o que se torna perigoso”, diz.

O professor de ciência política da Universidade de Brasília (UnB) David Fleischer também avalia negativamente as demissões. “Isso demonstra que as escolhas foram erradas. Temos muitos projetos parados por conta disso, sobretudo no MEC”, explica. Para Fleischer, o principal motivo para as demissões é o embate entre militares e os seguidores de Olavo de Carvalho, o guru de Bolsonaro. “Os militares estão acompanhando os ‘olavetes’ e cerceando a atuação deles”, analisa. “Vélez cai”, aposta