Valor econômico, v.19, n.4571, 20/08/2018. Opinião, p. A10

 

Eleições e desafios brasileiros

Pedro Wongtschowski

20/08/2018

 

 

Escolhas são decisivas para o avanço de um país. Em democracias como o Brasil, o voto é o instrumento para confirmar ou alterar políticas, reavaliar iniciativas ou enfatizar a necessidade de o Estado adotar novas medidas para enfrentar seus desafios. Mais do que a atuação de grupos políticos ou de pressão da sociedade, é a manifestação da vontade da maioria que indicará como deve se dar a condução do Brasil nos próximos anos.

Relevante para o país, um dos atuais desafios é o processo crescente de automação, a chamada "quarta revolução industrial" ou "indústria 4.0". Assistimos atualmente à redefinição de uma série de atividades, tanto na indústria quanto nos serviços, em todo o mundo. Internet das coisas, inteligência artificial, big data, robôs industriais são inovações que provocam alterações profundas nos níveis de produtividade da economia e no mercado de trabalho. No caso do Brasil, nossa competitividade é fortemente afetada por problemas crônicos, como o baixo acesso da população à educação de qualidade.

De acordo com o estudo "A future that works: automation, employment, and productivity", divulgado em 2017 pelo McKinsey Global Institute, cerca de metade das ocupações do mercado mundial de trabalho pode ser parcialmente automatizada adaptando-se tecnologia já disponível. Enquanto menos de 5% de todas as ocupações estão aptas a serem inteiramente automatizadas, 60% delas contêm, pelo menos, 30% de atividades passíveis de automação.

As atividades mais suscetíveis são aquelas que exigem esforço físico em condições estruturadas e previsíveis. Para que o Brasil se beneficie do aumento que essas transformações trarão para a produtividade, é necessário definir políticas que encorajem investimentos e criem adequados incentivos de mercado. Ao mesmo tempo, será preciso desenvolver mecanismos que possibilitem a adaptação dos trabalhadores a essa nova realidade.

O Brasil tem hoje 13 milhões de desempregados, segundo dados divulgados no início de agosto pelo IBGE. Impressionantes 40,6% dos 91,2 milhões de trabalhadores ocupados estão no mercado informal e são apenas 32,8 milhões os trabalhadores do setor privado com carteira assinada - menor nível da série histórica iniciada em 2012.

Considerando este cenário, o Brasil está diante de oportunidade que não deveríamos desperdiçar. Para começar, é preciso pensar seriamente em melhorar nosso sistema de educação e aperfeiçoar programas e medidas de apoio à ciência, tecnologia e inovação. No passado, países em condições tão ou mais adversas que as nossas decidiram que era necessário investir prioritariamente em educação e qualificação profissional e conseguiram dar um salto qualitativo em termos de pesquisa e desenvolvimento.

A Coreia do Sul é um exemplo bem conhecido que segue ilustrando como o investimento em capital humano, especialmente por meio de políticas educacionais, pode contribuir para o desenvolvimento de uma nação e para o bem-estar geral de sua sociedade. O país saiu em ruínas da Guerra da Coreia (1950-1953). Em 1960, dados do Banco Mundial indicavam que o Produto Interno Bruto (PIB) do país era de US$ 3,9 bilhões - inferior ao de países como Nigéria, Bangladesh e Brasil. Visando reverter esse quadro, o governo sul-coreano decidiu investir, de forma prioritária, em todos os níveis de educação. O objetivo era assegurar acesso universal às escolas e aprimorar a formação de professores.

A partir daí, a Coreia do Sul começou a despontar como uma economia em rápida expansão e passou a ser considerada um dos "tigres asiáticos" que havia não apenas replicado o sucesso do Japão, como ameaçava superá-lo. O país tem hoje PIB de US$ 1,5 trilhão, é um dos principais fornecedores de produtos de alta tecnologia do mundo e ocupa o 12º lugar no Global Innovation Index de 2018 - no mesmo ranking, o Brasil ocupa o 64º lugar.

O resultado dessas escolhas é claro. Do ponto de vista educacional, a disparidade entre Coreia do Sul e Brasil evidencia-se, por exemplo, na comparação dos resultados de ambos os países na última edição do Programme for International Student Assessment (Pisa) da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Os estudantes sul-coreanos estão próximos da pontuação máxima em ciências, matemática e leitura, enquanto os brasileiros situam-se abaixo da média.

Para que nosso país mude de rumo e possa colocar em prática uma política de crescimento econômico, lastreada no apoio à educação, os resultados das próximas eleições são cruciais. Somente com estabilidade política poderemos avançar na definição de reformas que possibilitem a urgente recuperação do país e o estabelecimento de planejamento de longo prazo, pautado pelo bem comum.

Esta será a missão dos nomes que saírem vencedores das urnas neste ano: a de serem agentes de mudança, capazes de permitir que o Brasil volte a crescer, de maneira inclusiva e socialmente justa, contribuindo para o ingresso de nossas empresas no universo dos empreendimentos competitivos. Sem esse compromisso, corremos o risco não apenas de perder as oportunidades que se apresentam, com a "quarta revolução industrial", mas também de sermos relegados a posição ainda mais desfavorável no cenário econômico mundial.

É importante que nossas escolhas sejam feitas de forma consciente e levem em consideração as necessidades de todos os brasileiros. Antes de votar, cabe o esforço de buscar informações detalhadas sobre os candidatos, estudar sua atuação na vida pública e privada, seu compromisso com o estado democrático de direito e com as liberdades individuais, para verificar se estão não apenas dispostos, mas também aptos a fazer frente aos desafios que já se apresentam - sempre conjugando crescimento econômico e progresso social. Manifestação de nossas expectativas em relação ao futuro, o voto pode ser também instrumento de transformação.